Vanguarda Literária : FERREIRA GOULART: BREVES ENCONTROS…
Neste final de 2016, em meio a tantas tragédias, mais uma acontece, desta vez envolvendo a Literatura Brasileira: a morte, aos 86 anos, do consagrado poeta e escritor maranhense FERREIRA GOULART.
No presente artigo, não é minha intenção enfocar a sua multifária atuação na Cultura Nacional, em especial o seu envolvimento como o neoconcretismo, no qual polemizou com o escritor paulista, o concreto Haroldo de Campos. Gostaria de relatar para os amáveis leitores dois marcantes encontros que tive com esse ser humano excepcional que pontificou na Literatura Brasileira.
Em 1977, (ano em que ele retornou do exílio) eu havia terminado a minha Residência Médica em Pediatria (Pós-Graduação sensu lato) no Instituto Fernandes Figueira no Rio de Janeiro e fui ao Maranhão, onde tive contatos com dois amigos comuns de São Luís: os poetas de renome naquele pedaço do Brasil, que atendiam pelo nome de Carlos Cunha e Jomar Moraes, ambos da Academia Maranhense de Letras, cujas sessões eu assistia com muita assiduidade no período (1969-1974) em que vivi na capital maranhense, onde eu me formei. Carlos Cunha, que hoje é nome de rua, era inclusive trovador e me prestigiava muito, gostava de sonetos que eu escrevia, isso há 40 anos. O Carlos me pediu que eu trouxesse para o Ferreira Goulart uma encomenda: juçara e farinha d’água. Juçara é o famoso açaí e farinha d’água, uma farinha grossa, de cor amarelada,de bom sabor, que só existe no Maranhão. Os maranhenses apreciam muito lanchar (ou merendar, como se fala por lá) juçara com a tal farinha d’água. Chegando no Rio, fui à procura do FERREIRA GOULART , na rua Duvivier, em Copacabana, onde sempre residiu. A sorte não me favoreceu. Ele me recebeu muito bem, na porta do apartamento e me falou que não poderia conversar mais comigo, pois estava muito abalado, porque naquela manhã, o seu filho Marcos (do seu casamento com a primeira esposa –Thereza Aragão), esquizofrênico, tivera um surto e quebrara todo o apartamento. De imediato, compreendi a gravidade da situação. Ele me abraçou e nos despedimos.
Muitas luas passadas, no início de junho de 2010, fui contatado pela então diretora da Biblioteca Pública Rômulo Campos D´Arace – Carmen Pamplin Z. Rodrigues, a qual falou-me que no dia 2, estaria em Pindamonhangaba FERREIRA GOULART, para fazer uma palestra na Biblioteca Pública, e que desejava que eu fizesse a saudação para o consagrado poeta. A palestra proferida para ele, para o grande público, foi um sucesso, realizada no Coreto do Bosque. Quanta gente! Na minha saudação, evoquei pessoas, lugares de São Luís e cantei para ele a música que todo maranhense saudoso da sua terra, se emociona ao ouvir:
“Maranhão, que Terra Boa,
onde o poeta nasceu!
Maranhão é minha Terra,
berço que Deus me deu!”
Ele ficou comovido e agradeceu minha fala. Muito solícito, recebeu a Imprensa, conversou com intelectuais locais, tirou fotos. Lembro-me bem de uma foto em que estamos juntos os quatro: Goulart, eu e os brilhantes e queridos acadêmicos, Bete Guimarães e Maurício Cavalheiro. Permaneci com ele até sua despedida, pois no mesmo dia ele precisava estar no Rio de Janeiro. Ofereci-lhe um exemplar da minha Tese de Doutorado, defendida em 1995 na USP. Ele me agradeceu e ficou surpreso ao saber que um médico havia escrito uma tese filosófica, com base na Filosofia Existencialista do filósofo Alemão Martin Heidegger.Confessou-me ser um Heideggeriano convicto.
Agora, o poeta inquieto, questionador, detentor de tantos prêmios, membro da Academia Brasileira de Letras, retorna para a Pátria Espiritual.
O Brasil ficou mais pobre. FERREIRA GOULART, homem comprometido com as questões do povo brasileiro, que falta você vai fazer! Saudades imensas! Saudades!