Vanguarda Literária : FICÇÃO CIENTÍFICA: ALGUMAS REFLEXÕES

No mundo científico, Ciência é considerada a forma que exige raciocínio preciso, dados exatos, onde a especulação sem base não é concebida. Ficção é criada pela imaginação, suas fontes são elásticas, a coerência que dela se exige diz mais respeito ao estilo, à qualidade literária, ao poder de emocionar o leitor. Entretanto, é difícil afirmar -se categoricamente que a Ficção Científica é uma literatura inspirada ou baseada na Ciência.
Sabemos que o romance tradicional enxergava a vida a olho nu e os enredos se desenrolavam seguindo uma lógica. Ora, as novas gerações desprezam conclusões do senso comum para penetrar na aventura humana, analisando o homem através de conjecturas que a Tecnologia e a Ciência propõem e envolvem.Creio que a civilização já não tenta enxergar os fatos com a luz única da lógica cartesiana.Vejamos:a Teoria da Relatividade de Einstein, que é um lugar comum, digamos assim, da Ficção Científica, já não acompanha a lógica tradicional. A antiga civilização humanística não julgava o mundo tão complicado como o faz a Ciência atual. Parece que o espírito humano acordou, com outras perspectivas, como afirmou Richard Feynnman, Prêmio Nobel de Física: “A era dos homens acordados dará talvez um meio de compreender o conteúdo qualitativo das equações”. Dizem os especialistas que o “ fantástico” imaginativo da Ficção Científica tem características bem próprias. Não é o fantástico religioso do século XIX ,nem o sobrenatural onde as superstições justificam o desenrolar do tema,nem o simbolismo dos românticos alemães.
O “maravilhoso” da boa ficção científica moderna pode ser uma extrapolação da realidade revelada pela Ciência, uma criação imaginária de um mundo futuro,ou diferente, mas com uma argamassa intelectual que considera a profundidade filosófica, o sutil e o poético. Apresenta portanto como característica uma renovação e uma expansão da capacidade imaginativa dos escritores, e desvela-se como um novo campo com enriquecimento da capacidade de emoção; é uma epopeia subjetiva na qual o autor toma a liberdade de pintar o universo à sua maneira. Daí entendermos que a Ficção Científica é ampla, sendo um instrumento de análise sociológica,como apreciamos em Aldous Huxley em “Admirável Mundo Novo”, de especulação teológica como podemos observar no que escreveu James Blish um dos maiores autores Norte-Americanos de Ficção Científica, falecido em 1975, autor da série “Star Trek”. Portanto, como o mundo em que vivemos ela é instável, mutável e contraditória.
O pai da Ficção Científica foi Júlio Verne (1825-1905). Quem não se lembra desse francês mais traduzido para outra língua,sendo o sexto mais lido do mundo,autor de “ Cinco Semanas em um Balão”, “Vinte Mil Léguas Submarinas”, “Viagem ao Centro da Terra”, “Travessia dos Estreitos”?. Quem não se recorda das “Viagens de Gulliver” de J.Swift ?Entre nós ,não podemos esquecer o pioneiro Jerônimo Monteiro que publicou:”3 meses no século 81”, “Os Visitantes do Espaço”, André Carneiro autor de “Diário da Nave Perdida” e Nilson Martello que escreveu “Mil sombras da Nova Lua”. O grande Monteiro Lobato, segundo um dos nossos maiores críticos Literário: Otto Maria Carpeau, fez Ficção Científica ao “antecipar coisas”, segundo a sua abalizada opinião. É apaixonante ler Ficção Científica. Quem sabe, a utopia de hoje não será o amanhã em evidência? A Cultura e o pensamento humano caminham para uma dimensão planetária tanto em sentido de espaço, incluindo espaço-tempo ( de novo a Teoria da Relatividade!), mas também como significado de compreensão dos problemas, com um senso mais agudo, sem fronteiras, libertando-nos do convencionalismo,sacudindo, portanto,conceitos estabelecidos, enxergando o homem e seus problemas por ângulos inusitados.