Nossa Terra Nossa Gente : GILSON DE CARVALHO, O DOUTOR SUS

Neste momento tão difícil em que a COVID19 se alastra em todos os continentes causando a morte de milhares de pessoas, damo-nos conta do quanto o Sistema Único de Saúde brasileiro nos coloca à frente de outros países, inclusive, muitos do primeiro mundo. Graças ao SUS, a população menos favorecida economicamente tem direito ao atendimento nos postos de saúde dos municípios e nos hospitais conveniados.
A grande maioria da população utiliza regularmente o SUS para consultas, exames, internações, cirurgias, entretanto, apenas uma pequena parcela de seus usuários conhece a luta política de um dos seus renomados mentores, o médico sanitarista Gilson de Carvalho, professor titular da Faculdade de Medicina da Universidade de Taubaté e um defensor incansável de melhores condições de saúde para o povo brasileiro.
Gilson de Cássia Marques de Carvalho nasceu em Aracajú – SE, nos idos de 1946. Radicado em Campanha – MG, o médico oriundo da Escola Federal de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro, especializou-se em Pediatria e Administração Hospitalar, doutorando-se mais tarde em Saúde Pública pela Universidade de São Paulo.
Exerceu a medicina em Alfenas, Jacareí e São José dos Campos. Na esfera pública, atuou como Secretário Municipal de Saúde de São José dos Campos (1988-1992) e, também, como Diretor Estadual da Vigilância Epidemiológica na RMVale. No sistema federal, foi Secretário Nacional de Assistência à Saúde, Diretor do Departamento do SUS e de Controle e Avaliação do INAMPS.
Considerado um dos idealizadores do Sistema Público de Saúde de nosso país, Gilson participou do movimento municipalista desde a década de 70. Além de municipalista de primeira linha, Gilson de Carvalho empurrou a bandeira de aumentar o financiamento federal da saúde e as transferências para estados e municípios. A partir do acompanhamento e divulgação das séries de dados de financiamento da saúde nos três níveis de governo, Gilson de Carvalho tornou-se um exímio fiscal e divulgador de quanto se estava gastando em saúde, especialmente na implementação de políticas públicas em prol da obtenção de mais recursos para a saúde do povo brasileiro. Como consultor do CONASEMS, participava de todos os fóruns. Seu papel na discussão das fontes de financiamento, do orçamento e execução orçamentária dos recursos do Ministério da Saúde e na discussão da formatação das transferências para o SUS foi fundamental na manutenção de uma consciência crítica e na denúncia dos desvios eventuais nestes processos.
Entre os desafios da saúde elencados por Gilson e que até hoje precisam ser enfrentados, encontra-se as relações entre os princípios da universalidade e da integralidade que garantiriam o ‘tudo para todos’, sendo essa a conjugação máxima da constituição da lei de saúde; os serviços próprios e privados; a quantidade e a qualidade de médicos; os modelos a serem trabalhados; a eficiência gerencial e operacional e, também, a participação das pessoas nas áreas propositiva e controladora do SUS.
Gilson de Carvalho dedicou uma parcela significativa de seus 68 anos à Medicina. Foi um exemplo de Mestre e formador de consciência social entre os alunos da Faculdade de Medicina da Universidade de Taubaté. Em seu percurso de professor universitário, é tido como uma das lideranças mais éticas e mais dedicadas ao SUS, história que fará outras histórias entre seus colegas de profissão e, de modo especial, seus ex-alunos.
Sem dúvida, Gilson Carvalho foi um dos pilares do SUS e a prova mais imanente de sua dedicação ao sistema público de saúde é o codinome cunhado a ele por seus pares: “Doutor SUS”.
Numa edição do Domingueira da Saúde, periódico que Gilson Carvalho presidia, ele apresenta a síntese de seu pensamento e da luta por ele travada ao longo de sua vida: “O Sistema Único de Saúde – SUS está na UTI e corre riscos. Uma série de inimigos da saúde pública ameaça seu funcionamento. Entre os problemas estão a falta de recursos, a corrupção e o incentivo – inclusive por parte dos governos, aos planos de saúde privados. É justamente com a participação popular por meio dos Conselhos Municipais de Saúde que podemos salvar o SUS”.
Aquele que dedicou mais de 40 anos de sua vida à Saúde Pública, até nos últimos dias de vida, honrou sua luta com seu singular exemplo: dispondo de plano de saúde particular, esteve internado pelo SUS, no Hospital Pio XII, SJC, até seu último dia de vida, 3 de julho de 2014.
Que a história e o exemplo do “Doutor SUS” possam nos conduzir e motivar nesses dias de quarentena causado pelo coronavírus. Há homens, como Gilson de Carvalho, que dão a vida pela vida de outros homens. Prenhes de futuro, suas lutas sociais em prol dos direitos de cidadania à saúde, semeiam esperanças entre olhos que nem se abriram, entre olhos que se recusam a fechar. Que os nossos olhos se iluminem com os dele!

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  • Créditos da imagem: Arquivo Pessoal