História : Há cem anos: pedra causa acidente com trole de linha
Com o título “Mais um acidente na pequena via férrea Campos do Jordão”, encontramos na edição de 6 de maio de 1923 do jornal Tribuna do Norte a notícia de um acidente com um trole de linha daquela ferrovia ocorrido no dia 3 daquele mês e ano.
Sua indignação diante do fato, o articulista da Tribuna assim revela na divulgação do lamentável acontecimento: “Dir-se-ia que trabalhar nessa empresa do Estado é arriscar a vida, pois que, em menos de um mês dois desastres se sucedem de maneira a apavorar o espírito daqueles que exercem sua atividade no tráfego daquela estrada”.
Os profissionais da Estrada de Ferro Campos do Jordão envolvidos no acidente foram, curiosamente, três josés, os funcionários: José Francisco, José Moreira e José Machado, mais o mestre de linha da estrada, Antonio Damas.
Era de manhã, pelas cinco horas mais ou menos. O dia nem tinha clareado e já os três josés conduziam um trole que levava o mestre de linha Antonio Damas da Estação Bonsucesso (atual Estação Expedicionária) para a de Piracuama. Aproximavam-se do quilômetro 14 quando aconteceu o desastre… Um choque violento e todos foram projetados pra fora do trole!
Caídos à beira da estrada, só depois de passados os primeiros momentos de pânico é que deram conta da causa do intenso e estranho abalo. Havia uma enorme pedra na linha. Quem tinha colocado e com qual intuito, ficaram sem saber.
Segundo a matéria TN, como o local tratava-se de um declive, foi impossível visualizar a pedra e evitar o choque. Levando em conta também o horário, o dia ainda não havia clareado, e mais: o trole não era provido de breque. Um pedaço de madeira era usado pra esta finalidade, o qual, segundo as vítimas, “não podia oferecer resistência alguma em descida como aquela”.
O desastre por conta da pedra na linha resultou em sérios ferimentos no mestre de linha Antonio Damas. Socorrido em Pindamonhangaba ele teve que ser conduzido pra São Paulo e ser submetido a um exame radiográfico.
A condução da vítima Antonio Damas pra atendimento hospitalar na capital antes de a autoridade policial comparecer ao local do acidente, causou estranheza ao redator da Tribuna que questionou: “pois que ele se verificou, como acima ficou dito, às cinco horas e o engenheiro chefe só comunicou o ocorrido ao delegado às 20 horas”.
Segundo consta nessa matéria publicada em uma edição da Tribuna, de mais de cem anos, as outras vítimas, decorridos dois dias após o acidente ainda não haviam recebido assistência de espécie alguma.
E concluia “Apesar dessas irregularidades e obstáculos, o dr. delegado, cumprindo com o seu dever, tomou as providências que o caso exigia, por intermédio do dr. delegado geral de São Paulo, a fim de que a vítima Antonio Damas fosse submetida a exame de corpo delito e tomadas por termo as suas declarações ao mesmo tempo que abria nesta cidade o competente inquérito a respeito, reduzindo a termo as declarações das vítimas José Francisco, José Moreira e José Machado, prosseguindo demais diligências.”