História : Igreja de São José – o templo que resiste
Construída na segunda metade do século XIX, a igreja de São José já passou por várias reformas e restaurações que lhe permitiram a existência secular.
Na edição de 25/7/1948 do jornal Tribuna do Norte vamos encontrar notícia referente a um apelo neste sentido, pois o histórico templo católico ameaçava ruir.
Com o título “Foi Construída em 1840” e logo abaixo “Ameaça ruir a igreja São José em Pindamonhangaba”, a nota inicia lembrando a sua importância relacionada à história do município, “Abriga o templo, num túmulo, as cinzas do comandante da Guarda de Honra do príncipe D. Pedro, por ocasião do Brado do Ipiranga”, e menciona o possível socorro: “ – Organizada uma comissão para defender e conservar o precioso patrimônio pindense.”
O fato curioso desta nota, datada de agosto de 1948, é que fora escrita em São Paulo. A Tribuna não identifica a fonte ao republicar essa notícia que envolve o Dr. Clodomiro Vergueiro Porto, um dos ex-prefeitos de Pindamonhangaba no ano de 1936.
O Dr. Clodomiro Vergueiro, pelo que se conclui, morava em São Paulo na época, e tudo aconteceu em um de seus retornos à capital, após visitar a inesquecível Princesa do Norte, conforme se lê: “Pelo noturno da Central, regressou de Pindamonhangaba, o senhor Clodomiro Vergueiro Porto, ex-prefeito dessa cidade do Vale do Paraíba…”.
Segundo a matéria, ao ser abordado por um repórter, quando de sua volta, Vergueiro Porto ao se referir sobre como estaria Pindamonhangaba, teria alertado sobre as péssimas condições que se encontravam a igreja de São José: “Está ameaçando cair a igreja São José, em Pinda, a qual foi edificada há mais de um século. Entre outras relíquias, o velho templo conserva, num túmulo, os despojos do coronel Manoel Marcondes de Oliveira Mello, Barão de Pindamonhangaba, que foi comandante da Guarda de Honra do Príncipe D. Pedro na memorável viagem de Sua Alteza a São Paulo em 1822, culminando com o brado do Ipiranga”.
Destacando que, infelizmente a catacumba da igreja, local onde estariam sepultados ilustres pindamonhangabenses, estaria em vias de desaparecer, o ex-prefeito Clodomiro Vergueiro comentava que como pessoa apaixonada pelas coisas do passado, tomava a decisão de “…conservar o precioso patrimônio pindense”.
Segundo Vergueiro, já haveria uma comissão organizada para essa finalidade, “dela fazem parte dois deputados – um federal e um estadual – os professores Ataliba Nogueira e Romeiro Pereira – os quais apresentaram, no Congresso Nacional e na Assembleia Paulista, projeto nesse sentido”, explicava. E continuava: “O orlamento das obras da reforma da igreja e da ereção de um mausoléu já foi apresentado, o seu custo será de 300 a 350 cruzeiros”.
Revelava o ex-prefeito que em sua administração havia pensado em construir um mausoléu no pátio fronteiro ao quartel do Exército (se aquartelava em Pindamonhangaba naquele tempo o 2º Batalhão do 5º Regimento de Infantaria), para nele depositar as cinzas dos pindamonhangabenses da Guarda de Honra imperial, “que também descansam ao lado do comandante no templo”, acentuava.
Nessa empreitada, Clodomiro Vergueiro Porto esperava contar com ajuda da imprensa paulista, carioca, assim como de todos os paulistas e brasileiros zelosos das tradições da pátria e, com isso, levar adiante a esperada obra.
Nas edições posteriores do arquivo do jornal Tribuna do Norte não encontramos notícias referentes ao prosseguimento dessa obra.
Construção secular. Sobre a data de construção da igreja São José, o autor Athayde Marcondes, em Pindamonhangaba Através de Dois e Meio Séculos (Gráfica Tupy – 1922), conta que o responsável foi o padre João de Godoy Moreira e seus familiares. As obras tiveram início em 1840 e só foram concluídas em 1848.
Prefeitos. Em 1936, Pindamonhangaba teve como prefeitos: José da Silva Andrade – 1934 a 1936; Vasco Cesar Pestana – 1936; Dr. Clodomiro Vergueiro Porto – 1936, e Alberto Simi – 1936 a 1937. Isso se deu por conta da Era Vargas, período em que Getúlio Vargas governou o Brasil (de 1930 até 1945), e os prefeitos eram nomeados.
Em 1987 chuva causa desmoronamento
Trinta e nove anos depois do alarde dado por Clodomiro Vegueiro Porto, na madrugadado dia 3 de abril de 1987, uma das torres da igreja São José desabou, não suportando uma chuva torrencial que varou a madrugada e foi até o amanhecer, inundando vários pontos do município, causando desabamentos de muros e paredes.
O incidente já era previsto três meses antes, quando o prefeito, era o Dr. João Bosco Nogueira, se reunira com seus assessores, o pároco cônego Benedito Gil Claro e o historiador João Laerte Salles, para avaliar a situação precária da igreja.
O prédio estava sensivelmente afetdo em sua estrutura e construção em decorrência da penetração de água. A água já havia provocando um rombro de 40 cm em suas paredes de taipa (barro, estacas e ripas). O frontão estava fora de prumo e o madeiramento da cumeeira desligado da parede. O local haiva sido interditado.
O prédio já tendo sido tombado pelo Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arqueológico e Turístico do Estado), a administração municipal solicitou a este órgão as devidas providências. Um apelo também foi feito à população objetivando angariar recursos para o projeto de recuperação da igreja.
A reconstrução
Faltavam 15 dias para completar um ano depois daquela madrugada chuvosa e de consequências desastrosas, no dia 19 de março de 1988, dia da Festa de São José, realizou-se a entrega oficial e solene da igreja reconstruída.
O evento contou com a presença do Arcebispo de Aparecida, então dom Geraldo Maria de Moraes Penido, que celebrou missa animada pelo coral do Santuário Mariano (igreja Matriz).
Nas obras de restauração o Condephaat participou com determinada quantia, mas a recuperação da igreja só foi possível graças à ação comunitária, à comissão apoiada pelo pároco Gil Claro, envolvendo a população cristã, comércio e indústrias. A administração municipal e o, na época deputado federal, Geraldo Alckmin participaram solicitando recursos junto à Secretaria Estadual de Cultura.
Essa ação também contou com a participação da professora Magda Athayde Marcondes Gândar Martins. Mesmo residindo em São Paulo, abriu conta em banco para que doações em prol da restauração fossem depositadas.
A igreja São José hoje
Está recebendo toda a atenção da atual administração municipal. Segundo a presidente do CMPHCAAP (Conselho Municipal de Patrimônio Histórico, Cultural, Ambiental e Arquitetônico de Pindamonhangaba), Ana Maria Guimarães Iadeluca, “Como nas licitações para as obras emergenciais não tiveram nenhuma empresa habilitando, a prefeitura está cuidando”.
Ana Maria tem como sua vice-presidente no CMPHCAAP a atriz e poetisa Rhosana Dalle (ambas são membros titulares da APL – Academia Pindamonhangabense de Letras). A acadêmica também preside a Comissão Municipal Oficial do Bicentenário da Independência e informa que esta semana tem início as ações da referida comissão com a visita a Pindamonhangaba do príncipe imperial do Brasil, Dom Bertrand de Orleans e Bragança.