“inspire-se”: A música me leva
“Meu envolvimento com a música começou ainda antes de nascer. Meu nome Johann foi escolhido pelo meu pai, inspirado no compositor e músico Johann Sebastian Bach. Meu pai, Valtair Pereira, era professor de música na igreja, então, ele que me ensinou os primeiros passos. Ele sempre foi um apaixonado por música e desde muito pequenos, ele ensinava a mim e a meu irmão, com muita cobrança e até dureza mesmo. Teve momentos até de choro! E eu agradeço a Deus pela insistência e cobrança do meu pai e da minha mãe também. Se não fossem eles, eu não teria chegado onde estou hoje!
Na nossa igreja sempre teve uma banda/orquestra. Eu comecei tocando Sax-Horn (famosa Chiquinha), um instrumento de calibre mais fino que o Euphonium vulgo bombardino. Logo depois eu peguei o trompete, pois me chamou a atenção, também porque meu pai tocava, e eu queria tocar o mesmo instrumento que ele. Mas a orquestra precisava de alguém para tocar trompa e assim meu pai meio que ‘me obrigou’ a mudar de instrumento. No começo não gostei da ideia, mas com o tempo fui aprendendo a gostar deste instrumento, afinal era diferente, quase ninguém tocava.
Foi mais ou menos neste tempo que nasceu em mim o sonho de viver de música, de ser um grande músico profissional. Graças a Deus, eu sempre pude contar com o apoio da minha família, em todas as minhas fases de músico, seja estudando, fazendo provas, viajando… Lá estavam eles, me apoiando de um jeito ou de outro. Isso sempre me deu muita força pra continuar neste caminho!
Uma parte difícil da vida de um músico do interior é que temos de ir pra longe de casa muito cedo. Pindamonhangaba não tem muitas orquestras, temos a centenária Banda Euterpe, que eu fiz parte por muito tempo e vivi bons momentos lá. Mas, como músico, queria ir além. Foi complicado no começo pra me adaptar e viver sem a família. Depois de alguns anos de muito estudo e viagens desgastantes, duas, três vezes por semana, me mudei para a capital de São Paulo, em 2012, aos 18 anos, para participar da Orquestra Jovem do Estado de São Paulo.
Tocar pela primeira vez numa grande orquestra foi muito emocionante! Comprovei que estava no caminho certo, no caminho que eu iria querer seguir a minha vida. Repertório desafiador, músicas empolgantes e uma energia contagiante! Incrível!
De lá pra cá, participei de muitas orquestras, como a Orquestra Sinfônica de São José dos Campos (SP); Orquestra Sinfônica de Barra Mansa (RJ); Orquestra Jazz Sinfônica de SP; Orquestra do Theatro São Pedro (SP); Orquestra Bachiana Filarmônica-Sesi SP, Osesp – Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo; Orquestra Sinfônica da Bahia e Orquestra Sinfônica Brasileira. A música me levou a muitos lugares. Eu me apresentei na Alemanha, na Holanda, na França, nos Estados Unidos e na Espanha.
A experiência mais marcante que eu me lembro foi em 2013, quando a Orquestra Jovem do Estado de São Paulo foi convidada a tocar na Sala de Concertos de Berlim na Alemanha. Foi uma loucura! Jovens músicos brasileiros fazendo música brasileira num palco alemão, com uma plateia lotada de alemães! Isso não se vê todo dia! Tocamos com muita garra e vigor e acabamos o concerto ao som de palmas e gritos de “Bravo! Bravo!” As palmas se alongaram por 10 minutos. Que concerto memorável!
Em 2014 e 2015 fui vencedor do “Prêmio Ernani de Almeida Machado”, da Orquestra Sinfônica Jovem de São Paulo, como “Bolsista de Destaque”. É um prêmio que a gente recebe uma bolsa para ajuda de aprimoramento nos estudos e compra de instrumento. É um concurso concorrido, que tem uma pré-seleção e depois a fase presencial com uma banca composta de compositores, músicos, maestro, escritores, críticos musicais e professores.
No ano passado, eu tocava na Orquestra Sinfônica da Bahia quando o professor de música alemão Will Sanders, foi a Salvador para uma série de aulas e de ensaios com jovens de um projeto social. Com a ajuda de amigos, consegui me apresentar para ele numa aula e em seguida conversamos e eu falei do meu interesse em estudar na Alemanha. Como eu tinha uma viagem para a Europa agendada para o início deste ano, combinamos que eu faria uma visita à Universidade em que ele leciona e assim fiz. Lá, ele me explicou que precisaria passar por um rigoroso processo seletivo, incluindo provas na língua alemã e eu tive até junho para me preparar.
Graças a Deus tive sucesso nas provas e fui aprovado para estudar na Universidade ‘Hochschule für Musik Karlsruhe’ com um professor e músico incrível como Will Sanders! Eu me mudei para a Alemanha há duas semanas, para cursar quatro anos de bacharelado em Música. A rotina aqui é bem corrida, com muitas aulas e ensaios de música. Juntei algum dinheiro para me bancar por algum tempo, e tenho fé que portas se abrirão para que eu consiga ficar até o fim do curso. Grandes sonhos vêm com grandes desafios!
Na bagagem, eu trouxe muitas lembranças de Pindamonhangaba e o legado de ser nascido e criado no interior e estar desbravando o mundo!
Todos os dias eu me inspiro no meu pai, meu herói! Sem seu esforço, dureza, ‘chatice’ e toda a cobrança feita lá no começo, eu jamais estaria onde estou. Ele sempre foi exemplo pra mim e para meus irmãos. Ele sempre quis dar o melhor pra nossa família. Eu me espelho nele e na minha mãe Salete, para ser uma pessoa melhor a cada dia e correr atrás dos meus sonhos! Na mala, carrego muitos sonhos e a saudade da família. Meus pais Valtair e Salete e meus irmãos Nikolas e Sthefanie estão sempre em meus pensamentos.
Meu nome é Johann Pereira, tenho 25 anos, sou músico e este é o “Inspire-se” de hoje.
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