“IX Dia de Campo de Arroz Irrigado” semeia novas formas de cultivo
Encontro entre pesquisadores e produtores agronômicos da região exibiu novidades do ramo cerealífero
Colaborou com o texto:
Dayane Gomes
O Polo Regional Vale do Paraíba recebeu pesquisadores e agricultores convidados em Pindamonhangaba para a nona edição do “Dia de Campo de Arroz Irrigado”, desenvolvido pela Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, por meio da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (Apta). Na última quarta-feira (18), o evento discutiu as novas variedades do assunto pertinente na vida de muitos que estavam presentes no recinto rural: a cultivação de um dos grãos mais consumidos no mundo.
No início, o Setor de Fitotecnia do polo sediou as apresentações formais e teóricas da reunião, depois, recepcionou uma visita a campo. O tema principal se resumiu à exibição de três inéditas cultivares IAC de arroz selecionadas para várzea irrigada por inundação. As variações carregam o nome do Instituto Agronômico de Campinas (IAC) e se dividem em dois tipos: o agulhinha e o arbório. A primeira categoria é a de consumo mais comum e integra a “IAC 108” e a “IAC 109”, caracterizadas como longas e finas, tanto na forma brunida como na forma integral. Para o experimento desses novos materiais, 11 produções foram realizadas no Vale do Paraíba, a maior zona produtora de arroz no Estado de São Paulo.
Como representante do tipo arbório, o “IAC 301” consiste em um grão mais curto e grosso, além de mais pesado, destinado à culinária italiana, principalmente, para a preparação de risotos. Para essa variedade, os experimentos foram implantados de 2012 a 2016, também na região valeparaíbana. Pindamonhangaba, Guaratinguetá, Tremembé e Roseira foram os quatro municípios que receberam as plantações.
“Acompanho o trabalho daqui e venho sempre procurar novidades”, afirmou Ademar Ligabo, de 58 anos. Rizicultor desde pequeno, ele saiu de Canas, cidade onde mora e planta arroz, e veio até Pinda para acompanhar a conferência. “Os meus avós plantavam arroz. Faz 100 anos que eles vieram da Itália. É uma das 22 famílias que fundaram a colônia de Canas”, explanou e complementou dizendo a sua especialidade de plantação. “Eu planto um pouco de cada um. Planto o arroz convencional, agulha, arroz preto e arroz vermelho”.
Mercado rizicultor
Dados disponibilizados pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) mostram que o Brasil participa de 42% da produção de arroz na América Latina e Caribe. Por isso, o “IX Dia de Campo de Arroz Irrigado” tratou de explicar como os aspectos dos grãos e das plantas influenciam as temporadas de plantio e o rendimento de cada cultivo.
O pesquisador científico Omar Vieira Villela, citou detalhes da cor, pilosidade, peso e classe de cada cultivar, ao passo que elucidava a dinâmica de desenvolvimento das novidades. “As variedades tipo agulhinha são produtos de cruzamento de duas variedades pré-escolhidas. A partir desse cruzamento começa um processo de seleção que se estende por cinco a seis anos, aonde se obtém novas linhagens de arroz que são avaliadas por mais três ou quatro anos para a multiplicação de sementes”, descreveu o chefe da Estação Experimental de Agronomia de Pindamonhangaba – IAC.
Toda a conjuntura da pesquisa atraiu uma faculdade das proximidades. De tal forma que, alguns alunos compareceram ao evento aberto a qualquer público interessado na área. Este foi o caso de Ana Beatriz Costa Pereira, que mora em Jacareí e estuda o sétimo semestre de Agronomia na Universidade de Taubaté. Ela esteve no Polo Regional Vale do Paraíba acompanhada de colegas do curso. “Nós temos uma matéria chamada ‘Agricultura 1’ e a gente está aprendendo sobre o arroz. Então, nosso professor deu a ideia de virmos aqui no ‘Dia de Campo’ para saber das novas cultivares”, contou.
Novos desdobramentos
Os produtores poderão adquirir as inéditas cultivares ainda neste ano. Sendo que, nem todos os trabalhadores agrícolas participantes do encontro se dedicam especificamente ao arroz. Maurício Antônio Fortes, por exemplo, herdou a tradição de agricultor do avô e trabalha na fazenda do pai no bairro Pinhão do Borba, em Pindamonhangaba, com a produção de silagem de gado comercializada no Vale do Paraíba e vende leite para uma cooperativa de lacticínios. “Estamos pensando em agregar o cultivo do arroz”, disse.
Assim como Ademar Ligabo, Maurício e seu pai estão à procura de novas alternativas de plantio. “A gente está querendo mudar um pouco o foco e está vendo outras áreas”, justificou o produtor, que ficou sabendo do evento através de um amigo que trabalha no Polo Regional.
O atrativo do ramo rizicultor vai além da oferta de novidades, o setor de cultivo de arroz se estabelece como uma potencia econômica no contexto nacional, uma vez que, de acordo com a Companhia Nacional de abastecimento (Conab), o país colheu cerca de 11,63 milhões de toneladas do grão na safra 2016/2017, parte dela destinada à exportação do produto para a cadeia alimentar mundial.