Lembranças Literárias : Jornaleiro

Menino tristonho
gritando nas ruas
quer chova quer vente…
De noite,
de dia,
domingo,
feriado…
Até mesmo Natal…

Tu trazes na voz
um canto distante,
mensagem de ódio,
ambição,
alegria,
notícias de morte…
do mundo em mudanças…
regimes que caem…
poder em declínio
de astros girando…
foguetes e bombas…
crianças nascendo…
crianças morrendo…
e homens matando…
bem poucos lutando
por vida melhor!

Menino tristonho,
gritando notícias
que nem mesmo tu
és capaz de saber
em cada jornal
tua vida periga
e teu amanhã
bem pode mudar…

Menino que corres
nas noites tão frias,
trazendo na voz
os mundos distantes
de línguas estranhas,
de outro sentir…
Teus passos na rua
martelam no ouvido,
são mesmo ameaça
ao nosso porvir…

Menino – criança,
cuidado com o mundo
que cada manhã
nos braços carregas…
Se tua inocência
pudesse entender,
eu sei que tua voz
jamais gritaria
ansiosa e estridente
pra novas vender…

Então o teu grito
seria bem outro:
para o mundo mudar,
criando pra ti
e os outros meninos
a vida de paz,
de amor
e altruismo
que Cristo entre os homens
pregou sem cansar!

Maria Aldina S. Furtado,
Tribuna do Norte, 4/5/1969

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