Nossa Terra Nossa Gente : LÁZARO ÂNGELO DE OLIVEIRA, GUARDIÃO DA FAZENDA SANTA HELENA

Conheci Seu Lázaro Ângelo de Oliveira por intermédio de Sophia Lehmann, funcionária do setor administrativo da Fazenda Santa Helena. Ela havia me confidenciado que há mais de sessenta anos Seu Lázaro trabalha na fazenda e, mesmo depois de aposentado, não abandonou o ofício de encarregado dos funcionários da centenária Santa Helena, fazenda modelo e cartão postal de Pindamonhangaba, de modo especial, por sua belíssima capela, a de Santa Rita do Maçaim.
Todas as manhãs, Seu Lázaro é o primeiro a chegar e, ao final do dia, o último a fechar a porteira. O mais antigo funcionário da fazenda conhece cada palmo de terra da Santa Helena como as linhas de suas mãos! Também conhece a história de seus antigos proprietários, das plantações, dos animais de que ele cuidava e das vitórias conquistadas por eles em torneios leiteiros e exposições agropecuárias no Vale Paraíba e outras regiões.Esses troféus marcam um período áureo de sua história profissional, e, em cada um deles, está grafado uma parte significativa de sua vida e da de outros funcionários que, assim como ele, trabalharam na fazenda,cuidando do gado e apurando, geração a geração, a genética desses campeões. Entre eles, está o inesquecível Danúbio, touro responsável por grande parte dos troféus e por muitos descendentes que dele herdaram a nobre linhagem.
Seu Lázaro contou-me que, desde os seis anos de idade, trabalha na Santa Helena! Veio pequenino ajudar o padrasto a engrossar a renda mensal para criar os irmãos menores e só passou a ter direito ao próprio salário quando se casou, aos 19 anos, com sua primeira esposa, Luzia, e mãe de seus filhos: Carlos Alberto, José Antonio, Paulo Henrique, Francisco Eduardo, Berenice e Rosimeire. Na infância, o menino Lázaro,assim como muitos meninos de sua geração, não teve o direito de ir para a escola nem de aprender a ler e a escrever. A escola ele frequentou depois dos filhos criados, graças ao programa de Educação de Jovens e Adultos do Alfredo Pujol. Aprender as letras abriu-lhe portas para um mundo que Seu Lázarojamais imaginou adentrar: a música.
Na luta contra o luto de sua esposa, Deus deu-lhe de presente a inspiração para compor as primeiras músicas. Desde então, no bolso de sua camisa não podem faltar caneta e papel. Do nada, a canção chega… Nesses breves momentos. ele deixa a lida e se torna escriba daquela moda que veio lhe fazer a digna visita. Compôs várias letras e, para cada uma delas, as respectivas canções. Dentre elas, “O carro e a boiada”, “Uma saudade”, “Infância querida”, “Lembrando de ti”, “Eu passei naquela estrada”, “Coração quebrado”, “A primeira namorada”, “O parque”, “Uma saudade” e muitas outras (disponíveis no Youtube).
Em pouco tempo, a voz e o violão do Seu Lázaro conquistaram o coração dos ouvintes da Rádio Difusora de Pindamonhangaba no programa “Sertão em Festa”, do locutor Galampito, e, ainda, os fãs dos eventos sertanejos promovidos pelo Departamento de Cultura nas manhãs de domingo no Mercado Municipal de Pindamonhangaba.Desde 2009, Lázaro Ângelo de Oliveira é associado da SICAM -Sociedade Independente de Compositores e Autores Musicais – na categoria autor e intérprete e, em parceria com Sebastião dos Reis, gravou o primeiro CD independente da dupla “Os Canarinhos do Sertão”, intitulado “No pontilhado da viola” – uma boniteza sem igual! Nas catorze faixas do CD, os acordes, os arranjos e as melodias revelam-nos o “Lado B” do guardião da Fazenda Santa Helena!
Assim como a cantoria dos canarinhos do sertão, a música acabou tomando o coração de Seu Lázaro por inteiro. Entretanto, hora de viola é hora de viola e, hora de trabalho é hora de trabalho! Seu Lázaro não brinca em serviço e, em tudo o que faz, emprega seriedade e capricho. Amigo e companheiro dos funcionários que lhes são subordinados na Santa Helena, sua vida é um exemplo para cada um deles e, também, para os jovens do nosso tempo e para os de gerações futuras.
O homem que conhece os campos, as edificações, as cercas e os limites da Santa Helena com cada um de seus confrontantes parece o mesmo menino que a ela chegou: guarda um brilho nos olhos que só os homens bons sabem cultivar. Quem tem o privilégio de conhecê-lo, encontra um amigo para a vida toda! Pois foi exatamente assim que, ao final da entrevista, nos despedimos: com o sentimento deuma amizade sem começo nem fim.
Um provérbio bíblico nos ensina que “um amigo fiel é uma poderosa proteção: quem o achou, descobriu um tesouro”. Esse tesouro de ser humano, de esposo da Sueli, de pai, de funcionário, de amigo, de parceiro de Sebastião Reis na dupla “Canarinhos do Sertão” encontrou na música um modo de semear por nossa terra e entre nossa gente, as maiores riquezas que Deus Lhe concedeu: o amor à família, ao trabalho e às histórias que viveu desde menino na fazenda Santa Helena!

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