História : Lembranças Literárias

Tenho diante de mim o teu melhor retrato;
a rosa que mandaste a alguém, e que não dei,
para por no meu vaso e contemplar, abstrato,
nesse egoísmo feliz que só eu mesmo sei…

Ninguém manda a ninguém uma flor tão formosa,
sem beijá-la primeiro… é mais que natural…
Tu beijaste, de certo, essa bonita rosa:
ela veio exalando um olor musical!…

Tu a beijaste, amor! Porque neste momento,
quando lho perguntei, ela disse que sim;
ela disse que sim, num estremecimento,
desfolhando-se toda amável, sobre mim…

Por isso, ao lhe juntar as folhas soltas, a haste
e as pétalas na mão, risonho as osculei;
risonho… por beijar o beijo que mandaste,
com um pouco de ti, na rosa que roubei…

Cleomenes Campos,
Tribuna do Norte, 15/9/1928