Lembranças Literárias : LEMBRANÇAS LITERÁRIAS
As Andorinhas
Que saudades das nossas andorinhas!
Já repararam que desapareceram as nossas andorinhas.
Já não mais as vemos pousadas nos fios e antenas e nem tampouco ziguezagueando nos céus ou nos telhados das igrejas.
Que saudades das nossas andorinhas!
Quando era pequenina – lembro-me ainda – ouvia minha saudosa mãe dizer:
“Olha filhinha as andorinhas quase que se arrastam pelo chão no seu rápido voo. Vamos ter chuva cedo”. Outras vezes elas cortavam, céleres, o céu em grandes alturas e então ela me dizia: “Tão cedo não choverá”.
Quando elas pousavam nos fios defronte a nossa casa ainda me dizia a mamãe: “Veja como as andorinhas se assemelham às nossas freirinhas”. Desde então, acostumei ver nessas lindas avezinhas as nossas meigas irmãs de caridade. Hoje não as vejo mais.
Que saudades temos delas!
Por que será que desaparaceram as nossas avezinhas irmãs? Será por que estão desaparecendo os hábitos negros de nossas freirinhas?
E, lembrando-se com saudade das andorinhas, rememoro estes versos que me vieram não sei de onde ou de quem:
“Hoje ao ver uma andorinha
A embriagar-se de luz…
e voar, voar a doidinha,
por um momento supus,
que as pontas de suas asas
fossem penas de escrever
e o céu azul sobre as casas
fosse papel, pus-me a ler.
Oh! meu Deus, era verdade.
No voar incoerente
eu soletrei de repente
esta palavra – Saudade!”
Professora Nini Salgado,
jornal Tribuna do Norte, 2/3/1969