Vanguarda Literária : LINO GUEDES: O POETA PRECURSOR DA NEGRITUDE

Há nomes da nossa Literatura que, às vezes, caem no esquecimento, seja da mídia, seja dos bancos acadêmicos, seja do mercado editorial. Tal fenômeno aconteceu com LINO PINTO GUEDES, um paulista nascido em Socorro em 1897, filho de escravos, que, com muita determinação, cursou Escola Normal em Campinas, atuou no jornalismo, tendo sido chefe de revisão do Diário de São Paulo. Teve uma produção literária intensa, e, publicou várias obras, entre elas: BLACK (1926),O CANTO DO CISNE NEGRO (1926), NEGRO PRETO DA COR DA NOITE (1936), VIGÍLIA DO PAI JOÃO, DITINHA (1938).
Segundo críticos, foi o primeiro autor do século XX a assumir um posicionamento contestador no que diz respeito ao lugar ocupado pelo negro na sociedade, e, sua produção textual foi caracterizada pela militância e a afirmação racial, visto que, bem cedo, firmou-se na imprensa na pugna em defesa dos negros, em especial, lutando contra a segregação racial, razão pela qual foi considerado um porta- voz da causa negra. Considerava a “construção de um novo comportamento moral como instrumento para que o negro alcançasse a sua emancipação, sendo necessário combater o vício, o analfabetismo é a irreligião, pois sem a base do sentimento moral e religioso, cimentada pelo trabalho, para edificar a obra de emancipação do negro”. Não podemos olvidar que, para LINO GUEDES, ao buscar a construção da imagem positiva e os valores, mesmo que contestáveis, por ele postulados, são transmitidos como forma de reverter no branco o conceito negativo acerca do negro.
Outro ponto importante é o seu conceito do valor imprescindível da educação, por ele defendida como instrumento de luta e resistência representando uma arma potente de superação e de auto-aceitação Que Poeta de sensibilidade forte foi o LINO GUEDES! Ao apreciar os seus versos, constatamos, principalmente em VIGÍLIA DO PAI JOÃO, a sua forte intenção de resgate da memória histórica do negro, a valorização da tradição do tempo de escravidão e a nítida postura contestadora dele no que concerne ao processo de inferiorização do afro-brasileiro. Apreciemos este poema tão marcante:

NOVO RUMO
Negro preto da cor da noite,
Nunca te esqueças do açoite
Que cruciou tua raça.
Em nome dela somente
Faze com que nossa gente
Um dia gente se faça!
Negro preto, negro preto,
Sê tu um homem direito
Como um cordel posto a prumo!
É só do teu proceder
Que, por certo, há de nascer
A estrela de um novo rumo!
(In: NEGRO PRETO COR DA NOITE -1932)

Portanto, esse iniciador da NEGRITUDE, ressalto, tão esquecido, na sua literatura sem revoltas, mostra, na sua poesia,um ser profundamente fraterno e cristão na compreensão dos dramas do ser, falando diretamente aos que nela encontram o bálsamo salvador da simplicidade e da verdade. Falecido em 1961, eis um poeta com função social que tão poucos perceberam.

  • Lino Guedes, poeta, também fez incursões pela prosa e dramaturgia