História : Melhorias realizadas nos tempos do intendente Dr. Francisquinho
Nesta edição vamos recordar melhoramentos realizados na Pindamonhangaba do início do século XX. Naquele tempo o intendente (cargo que equivalia ao de prefeito) também presidia a Câmara vigente. Havia sido eleito para a gestão 1899-1904, o Dr. Francisco Romeiro,médico formado pela Escola de Medicina do Rio de Janeiro. Trabalhador incansável pela população, em especial durante a epidemia de varíola ocorrida em 1872, o médico era conhecido pela população como Dr. Francisquinho, um dos irmãos do advogado, jornalista e poeta Dr. João Romeiro, o fundador do jornal Tribuna do Norte.
Algumas das melhorias ocorridas durante seu governo serão aqui relembradas, conforme nossas pesquisas tendo como fonte o Arquivo TN.
Chafariz na Praça da República
O chafariz que marcou o surgimento do primeiro serviço de abastecimento do município com água encanada, inauguração ocorrida no dia 28 de janeiro de 1900, foi instalado na Praça da República, o Largo do Quartel, atual Praça Padre João de Faria Fialho, em frente ao Mercado Municipal (prédio que depois seria ocupado por unidades do Exército Brasileiro, atualmente pelo 2º Batalhão de Engenharia de Combate).
Em 1959, na gestão do prefeito Francisco Romano de Oliveira, esse monumento passou a ornamentar a Praça Dr. Emílio Ribas (na época denominada Praça 13 de Maio).
Grupo Escolar Dr. Alfredo Pujol
Embora tenha sido o Governo Estadual o responsável por quase toda a despesa com a construção do prédio do nosso 1º Grupo Escolar, foi a intendência (Legislativo/ Executivo) sob a administração de Francisco Romeiro, responsável por convencer o Estado a adquirir o terreno e a erguer ali a hoje escola secular “Alfredo Pujol”.
Segundo informação encontrada na edição de 10/11/1907 da Tribuna, foi às custas da administração municipal a preparação da área pra construção e a colocação de grades em sua volta.
Praça “X”
Havia junto ao prédio do teatro (se localizava onde atualmente se encontra a Caixa Econômica Federal), sentido de quem vai do centro para a periferia, uma grande lagoa. Para eliminar esse considerável ponto de água estagnada, a intendência adquiriu junto aos cidadãos, seus respectivos proprietários, os terrenos que formavam a área que, devidamente aterrada, viria a ser conhecida como a Praça “X” (ver ilustração).
Arborização, esgoto, iluminação…
O Largo do Mercado (depois passou a ser Largo do Quartel) foi arborizado, embelezando o local onde se destacava o rico monumento ali erguido para jorrar água da Mantiqueira.
A arborização se estendeu à Praça Monsenhor Marcondes (cascata, coreto, repuxo etc.).
Aqui é oportuna a lembrança que a construção da cascata também ocorreu durante o governo municipal do médico Dr. Francisco Romeiro. A obra, ainda que tenha corrido por conta e iniciativa de cidadãos mais abastados, contou com aprovação e apoio do governo municipal.
Esgoto. A ligação de esgoto, embora não tenha sido uma realização do, foi realizada no governo de Francisco Romeiro. As obras correram por conta do Estado, porém devido à insistência e convencimento do governo municipal quanto à necessidade de sua execução.
Segundo consta na edição de 10/11/1907 do jornal Tribuna do Norte, esse serviço, tendo como ponto de partida o Grupo Escolar (escola Alfredo Pujol), seguiu pelo Largo da Estação, rua Dr. Gregório Costa, rua Dr. Monteiro Cesar e rua Sete de Setembro (atual Deputado Claro César) em direção ao rio Paraíba
Iluminação. Foi melhorada com a instalação de lâmpadas a álcool no centro da cidade, passando os lampiões a querosene a servir somente às ruas de menor movimento.
Críticas da oposição
É curioso lembrar que não foram poupadas críticas por parte da oposição quanto à construção da histórica cascata na praça e também do monumento (chafariz) na praça da República (Largo do Quartel).
O veículo utilizado para propagar a crítica foi a edição de 11 de outubro de 1903 da Folha do Norte, extinto jornal oposicionista do município, ao transcrever uma crônica de “O Porvir”, outro informativo que também se publicava em Pinda naquele tempo.
A tal crônica, assim era o título: “Chronica”, trazia como autor D. Timotheo e começava falando de uma apresentação da banda na praça:
“Quinta-feira passada a apreciada corporação musical Euterpe fez, no largo da Cascata, uma retreta, talvez com o fim de, desentediando-nos passageiramente, dar à aludida Cascata algum merecimento, mostrando que ela não foi erigida ali para jazer no mais profundo desprezo, como tem acontecido.”
Com ironia, o cronista afirma que se a intenção da Euterpe fora conseguir chamar a atenção do povo para a cascata artificial ali construída, ele a felicitava. No entanto, acreditava serem em vão os esforços da banda nesse sentido, alegando que aquele monumento não vinha merecendo atenção popular, sendo motivo de reprovação até por parte daqueles que haviam colaborado em sua construção.
O depreciativo artigo assim prossegue:
“A própria edilidade reconhece o grave erro em que incorreu, mandando construir, a contragosto dos contribuintes, não só a cascata, como também o colossal chafariz da Praça da República, dois monumentos sem a mínima utilidade e que absorveram uma soma enorme de dinheiro: prova-o o lamentável estado de abandono em que ela os tem deixado, a esses monumentos, que não servindo nem para o embelezamento da cidade, tem, contudo, gravados em si, em alto relevo, como se isso fosse uma glória, os nomes dos cidadãos que sem motivo nenhum justificável idealizaram e conseguiram a sua construção.”
Duvidando da afirmação de que a Câmara não havia despendido nenhuma despesa na edificação dos respectivos monumentos, mas, sim, o governo do Estado, o articulista ironiza, ressaltando que a verdade seria ainda por muito tempo ignorada, porque a Câmara daquele mandato não dava contas de sua administração a ninguém. E reforçava sua dúvida dizendo que segundo “diversas vozes” comentavam pela cidade que “tudo fora feito a expensas da municipalidade”.
Para o tal D. Timotheo, inconformado cidadão, fosse como fosse, a verdade era que a cascata e o chafariz estavam construídos, eram uma realidade, mas “sem nenhuma utilidade, caídos no ostracismo”. E profetizando malfadado fim aos monumentos, destacava: “O seu fim será ruírem no desprezo e, carcomidos pelo rigor do tempo, arrastarão em sua queda uns bons pares de réis”.
Para concluir sua crônica, voltava a zombar da apresentação da Euterpe na cascata, caso o evento tivesse sido realizado com o objetivo de motivar a população a prestigiar o monumento: “…toda a tentativa de soerguimento será baldada, porque o povo mesmo é quem os maldiz, o povo mesmo é quem os despreza”.
Pontos históricos que sobreviveram às críticas
Ao contrário do que lhe desejava a oposição naquele longínquo 1903, esse atrativo da praça Monsenhor Marcondes sobreviveu as críticas, não caiu no ostracismo. Foi remodelado em 1977, pelo artesão José Soares Ferreira, o Zé Santeiro, valorizando artisticamente cada detalhe e acrescentando outros. Durante décadas ali se instalou o presépio municipal.
No caso do chafariz que marcou o surgimento do primeiro serviço de abastecimento do município com água encanada, as profecias negativas da oposição também não lograram êxito. Embora em outro local, o monumento também sobrevive ao tempo. Foi reconstruído na praça Dr. Emílio Ribas em 1959. O histórico monumento é um ponto atrativo daquele logradouro público.