Monges trabalham os dharmas de Buda em Pinda
Em janeiro de 2018, o grupo fundou o Centro Budista Tao Chan para reproduzir a ideologia oriental na cidade
Colaborou com o texto:
Dayane Gomes
Quase ao final da rua Manuel Antônio Homem de Mello, uma casa rosada e com portão branco desprende um singelo cheiro de incenso pelos arredores do bairro Chácara da Galega. Apesar da via asfaltada não ter muito movimento, o silêncio da residência é sonoramente mais evidente e destoa da atmosfera circundante. O princípio silencioso corresponde à atividade adotada ali, o meio equivale a um centro budista com o fim de propagar uma filosofia oriental em uma cidade do interior paulista brasileiro.
Inicialmente, o aroma, a calmaria e a ornamentação do local sugestionam uma “quebra” com a cultura ocidental contemporânea. A aconchegante sala posterior à porta de entrada sustenta objetos, cortinas e cores suaves e típicos da linha que se estende para o cômodo seguinte através de uma prateleira de livros. A estante sombreia o aposento dedicado às práticas medicinais. Lá uma figura azul, conhecida como Buda da cura, ocupa o centro óptico dos visitantes diversos. Ao passo que, na sala contraposta, intitulada de “gompa”, uma imagem dourada sedia as meditações e as aulas regidas pelos monges que fundaram o Centro Budista Tao Chan no início de 2018, seguindo o Budismo Chan (fundado na China).
“Todos os seres querem ser felizes e evitar o sofrimento”, afirma Shi Chang Po, o abade (líder dos monges) do Centro Budista Tao Chan, ao explicar a premissa fundamental da diretriz acolhida por ele e seus colegas. “O budismo prega o método de ser feliz e evitar o sofrimento através da prática diária. Então, não é só religião. O budismo é filosofia, ciência e, simplesmente, tudo”, constata e evidencia que seu papel é lecionar os dharmas de Buda, ou seja, os 84 mil ensinamentos do fundador da corrente ideológica.
Ordenação
Chang nasceu no Brasil, se ordenou em um templo nos Estados Unidos e trouxe sua formação para Pindamonhangaba, há 10 anos. Atualmente, a sanga, comunidade espiritual, do centro conta com os monges Shi Zhen Fangshi, Shi Louhan Xiguang e Shi Yongheng Xingfu, o professor de Taoísmo Ricardo Alexandre Santos e a administradora Neli Saraiva, disponibilizadora da residência, além do próprio abade – todos são brasileiros.
O nome de cada monge tem um significado próprio e uma tradução para o Português. Sendo que, o prefixo “Shi” identifica a ordem monástica dos budistas, herdada do guru raiz Bodhidharma e do guru linhagem Hui Neng. Olhando para a porta de entrada para falar do mundo externo, o abade esclarece que “aqui se tem o aprendizado, lá fora está a prática. Nós costumamos dizer que praticar o budismo não é só vim para o centro, praticar o budismo é viver”.
“Há o equívoco de pensar que monge só fica em caverna ou dentro de um templo e não sai para a vida. Mas, o propósito dos ensinamentos é isso, transmitir a sabedoria adquirida para outras pessoas e para o mundo”, reitera Louhan.
Atividades gratuitas
Em sintonia com o astral do ambiente, os membros da sanga se expressam com vozes e risos calmos. A interação humana se funde à claridade do espaço, à fragrância das velas acessas e à companhia dos gatos adotados e acolhidos na casa do bairro Chácara da Galega.
De segunda-feira a sábado, acontecem aulas de Taoísmo, sessões de meditação e sínodos de preces no Centro Budista Tao Chan. Além do mais, também são minitradas instruções sobre o Budismo em três categorias: Iniciante, Sequencial e Profissional.
Todas as atividades são oferecidas de maneira gratuita. Inclusive as aulas de Kung Fu e de Tai Chi Chuan realizadas desde o ano passado, no Parque da Cidade. “A ideia do Kung Fu e do Tai Chi é trabalhar a energia, porque a energia guia o pensamento das ações e move tudo”, explica Zhen.
Afinal, para Buda, “nós somos o que pensamos. Tudo o que somos surge com nossos pensamentos. Com nossos pensamentos, fazemos o nosso mundo”.
A Lua Não Pode Ser Roubada
RYOKAN, um mestre Zen, vivia o tipo mais simples possível de vida em uma pequena cabana no sopé de uma montanha. Uma noite, um ladrão visitou a cabana e surpreendeu-se ao descobrir que não havia nada nela para ser roubado.
Ryokan voltou e o pegou. “Você provavelmente veio de longe para me visitar”, disse ele ao gatuno, “e você não deve voltar com as mãos vazias. Por favor, tome minhas roupas como um presente”.
O ladrão ficou completamente desnorteado. Ele pegou as roupas e escapuliu.
Ryokan sentou-se nu, observando a lua. “Pobre rapaz”, ele pensou, “eu gostaria de poder ter dado a ele esta bela lua”.