Vanguarda Literária : Monteiro Lobato e a sua ternura
Muitos contemporâneos do notável escritor taubateano Monteiro Lobato que surgiu no mundo literário brasileiro em 1918 com a publicação de “Urupês”, julgavam-no insensível, áspero e indiferente. Temas como lirismo, saudade ,amor, passavam longe dele. Na realidade era um tímido. Homem corajoso e altivo enfrentou homens e governos (não foi preso pelo Governo Vargas?). Dizem que detestava pieguices. Era um sentimental que confiava seus sentimentos ao papel, fato que vamos comprovar ao ler a sua farta troca de correspondências com seu amigo Godofredo Rangel que deu origem ‘a obra “ Barca de Gleyre”. Nesse livro, Lobato dá demonstração de seu carinho para com os seres humanos. Enfrentou grandes tragédias como a morte prematura de dois filhos. Atentemos para a torrente de afetividade que corria da alma de Lobato em carta escrita a Rangel (carta datada de 20 de fevereiro de 1946:” Pois é. Perdi o meu segundo filho, o Edgard, um menino de ouro, tal qual o Guilherme. Impossível filhos melhores do que os meus, e talvez por isso foram chamados tão cedo. O Guilherme se foi aos 24 anos e agora o Edgard aos 31. Ele nunca se esqueceu da primeira carta recebida pelo correio, uma tua.
Eu não me desespero com mortes porque tenho a morte como um alvará de soltura. Solta-nos desse estúpido estado sólido para o gasoso – dá-nos invisibilidade e expansão, exatamente o que acontece ao bloco de gelo que se passa a vapor. Mas Purezinha (esposa de Lobato) não se conforma. Impossível maior desespero. E do ponto de vista humano, tem razão. Foram dois filhos perfeitos. Creia, Rangel, que não me lembro de nenhuma coisa má, ou levemente má, que eles hajam feito na vida. Quantos pais podem dizer isto?
O Guilherme era caladão, metido consigo como esses que vivem em terno monólogo interior- e nem morreu a mais linda das mortes. Passou em pleno sono. Dormiu e não mais acordou para este mundo. Já o pobrezinho do Edgard sofreu muito e com que estoicismo, Rangel! Com que filosofia de grande filósofo!
E assim vamos nós morrendo. Morrendo nos filhos, pedaços de nós mesmo que seguem na frente. Morrendo nas tremendas desilusões em que desfecham nossos sonhos. E morrendo fisiologicamente no torpor das glândulas, no decair da vista, no desinteresse cada vez maior por coisas que na mocidade nos eram de tremenda importância.
Se estamos aqui como numa escola de aperfeiçoamento, meus filhos acabaram o curso mais depressa do que eu – prova de que eram melhores alunos do que eu”.
No grito de dor e desespero de um pai, podemos apreciar um homem cheio de sentimentos, de ternura, o LOBATO – PAI que cumpriu a sua missão terrena com grande altruísmo. LOBATO, por tudo quanto fez, elevando a nossa Literatura e as Letras do nosso sofrido planeta, sem dúvida, mereceria o PRÊMIO NOBEL DE LITERATURA.