Lembranças Literárias : Na tarde triste cor de opala…
Há um desalento enorme
na tarde triste cor de opala!
Tudo é silêncio, a terra dorme!
No entanto, ao longe, exul magoado,
na curva do caminho,
o campanário chora…
E a voz do sino, vale afora,
vai soluçando de mansinho!
É tão tristonha a tarde de ouro!
Engano! A tarde é alegre…
triste é a saudade!…
Um rosto louro…
Há um sussurro de prece! A noite desce!…
Fico a cismar…
E o céu começa a cintilar!
Foi numa tarde assim!
O campanário exul, chorando!…
(Toda história de amor tem um pranto no fim)
Um beijo, a despedida atroz… Partiste.
Depois, uma alma soluçando.
Nem sei quem foi, talvez meus olhos,
ou o coração da noite triste!
Desceu de vez o sol. O sino
não mais soluça. A voz se cala!
Na tarde triste cor de opala…
Cândido Dinamarco,
Tribuna do Norte, 6 de julho de 1922