História : Na Tribuna de antigamente
A página de história desta edição recorda acontecimentos no mínimo curiosos e até cômicos ocorridos na Pindamonhangaba das primeiras décadas do século passado.
Lugar de árvore é no mato
Iniciamos com uma nota (publicada na Tribuna do Norte de 8 de julho de1906) que reflete muito bem aquilo que – passem os anos -acreditamos não mudará: o descontentamento de oposicionistas quanto aos feitos da administração municipal que estiver na vigência de seu mandato.
O papo, que pode ter acontecido numa conversa de boteco ou de banco de jardim, revela como dois amigos, talvez eleitores do prefeito da época, ironizavam uma crítica da oposição quanto a arborização que aquele governo teria realizado na cidade…
“- Ora, muito bem! Daqui a pouco tempo ficamos livres delas. Não há de custar muito para desaparecerem todas, todas. E há de ser um descanso. Só então não ouviremos mais as queixas enfadonhas dos eternos incontentáveis. Estão por pouco para desaparecerem todas, para ficarem completamente extintas, sem deixarem vestígios.
– O que? As saúvas?
– Não, as magnólias que ornamentam nossas avenidas e largos; as palmeiras do Largo do Rosário, que estão sumindo a olhos vistos. E que acabem logo, que são coisas que só servem para incômodos e massadas.
Aquele dr. Francisquinho também tem cada uma! Mandar arborizar a cidade! Árvores no mato, que é o lugar delas. Perfeitamente, dissemos nós.”
O som que incomodava
Na edição de 16/9/1906 a Tribuna publica uma reclamação endereçada ao intendente (prefeito) solicitando ao mesmo que se atentasse para “o chiar de carros de bois no centro da cidade”.
É difícil acreditar que alguém se sentisse incomodado com o chiado, a poética e algo melancólica cantiga produzida pelo carro de boi devido ao atrito do ‘cocão’ sobre o eixo. O carreador cuidava para manter bem lubrificado com sebo de boi ou, na falta deste, com sabão azul para que seu carro chiasse mais e melhor, isto é, “cantasse mais afinado”. Imagine se esse povo descontente vivesse hoje, morreria torturado com o “chiado” (barulho infernal) nada poético promovido pelo abertura e adulteração do escapamento das motocicletas.
Ficou sem casa pra morar
Esse fato poderia até ter sido inspiração para um dos bons filmes do cineasta e ator Amácio Mazzaropi. Aconteceu em 1918. O jornal Tribuna (25/8/1918 ), com o título “Incendiário – vingança torpe e covarde!”, assim noticiou o ato criminoso:
“Joaquim Moreira da Silva vulgo Joaquim Leonel, no bairro do Mandu, neste município, tendo uma velha inimizade com João Jeronymo, velho de sessenta anos, morador do mesmo bairro, resolveu vingar-se do mesmo do modo mais covarde e mais perverso imaginável.
Na noite de quinze do corrente, às 9 horas mais ou menos, quando João Jeronymo dormia em companhia de dois filhos seus, Joaquim Leonel aproximou-se de sua casa, que é coberta de sapé e lançou fogo ao teto. Em poucos minutos a casa ardia e o pai e seus filhos saiam do interior tontos pelo fogo e pela fumaça. De nada lhes valeu tentar apagar o fogo que reduziu a casa a escombros, além de queimar todos os móveis, roupa, tudo em fim, deixando o pobre velho e seus filhos apenas com a roupa do corpo.
A delegacia de polícia tendo conhecimento do fato processou Joaquim Leonel e pediu a sua prisão preventiva que foi concedida pelo digno dr. Juiz de direito da comarca. Joaquim Leonel foi preso e recolhido à prisão com incurso no Art. 130 do Código Penal.”
O noivo e o burro
Esse foi o título que o então redator da Tribuna daquele já longínquo 6 de outubro de 1918 para a notícia referente ao cidadão que quis se suicidar, mas acabou se casando…
“José Benedito tinha seu casamento contratado para sábado passado, e, não tendo dinheiro para o fausto de tão solene acontecimento, lembrou-se de vender um burro, como anda escrito em um verso, num quadrinha popular. Acontece, porém, que o burro que ele queria vender não era de sua propriedade e o legítimo dono, ciente da trapaça, agarrou o José Benedito pela gola do casaco… à luz clara do dia e em plena avenida Tibiriçá.
O esposando então, ante a rudeza deste gesto, sentiu toda a imensa indignidade do ato que ia praticar, levado pela privação de sentidos ante o seu eminente casamento.
Caindo em si como quem cai das nuvens, ficou possuído de tal vergonha, que atravessou a lâmina dum canivete na garganta. Houve então grande reboliço e reuniu-se enorme multidão à roda do suicida ali caido enquanto o telefone da delegacia aflitamente pedia socorro. A polícia acordou e acudiu correndo. Tirou o canivete da garganta do José Benedito e levou-o à presença do delegado.
Este começou olhando o canivete cuja lâmina não tinha mais que uma polegada de comprimento e depois olhando para o suicida, achou-o com tão pouca cara de defunto, que mandou trancafiá-lo no xadrez.
Não parou ai a história de Zé Benedito.No dia seguinte, com um claro sorriso no seu rosto de ébano, apareceu ante o delegado a noiva do mal-aventurado suicida, vestida para o ato solene, de véu e de grinalda, reclamando o noivo, pois era o dia marcado para sua maior felicidade.
O delegado, sem dizer palavra, mandou tirar o suicida do xadrez e o entregou à noiva…
E o noivo, enquanto seguia para a pretoria ia certamente dizendo aos seus botões, desoladamente: – fugi do suicídio pelo canivete, mas de certo não o escapo pelo casamento – que sina!”