História : Neta de Athayde Marcondes e da professora Gabriella relembra infância em Pindamonhangaba
Com um agradável bate papo, ilustra nossa página de história de hoje a ceramista Aidil Athayde de Oliveira Marques, neta mais velha do historiador José Athayde Marcondes e da professora Gabriella de Castro Monteiro Athayde Marcondes, casal que teve importante participação na história de Pindamonhangaba. Viúva de Daniel de Oliveira Marques, mãe de Maria Martha, Maria Lucia e Daniel Jr., ela reside atualmente na cidade de São Paulo, mas recorda com satisfação da Pindamonhangaba de antigamente.
Jornal Tribuna do Norte: Dona Aidil Athayde, primeiramente os cumprimentos (com atraso) deste jornal pela comemoração de mais um ano de vida em janeiro último.
Aidil Athayde: Obrigada! No dia 21 de janeiro completei 91 anos. Foi mais uma data feliz que passei com meus familiares. Nasci em 1926. Sou a primeira filha do primeiro filho de Athayde e Gabriella, o Hamilton Athayde Marcondes. Minha mãe se chamava Thereza Rueda Marcondes. Só tive uma irmã, a Oswalda Marcondes Jorge, a Dinha, já falecida.
TN: A senhora vive atualmente na cidade de São Paulo. Há quanto tempo mora na capital?
Aidil: Desde dezembro de 2015. Antes, morei 10 anos entre Guarujá e Santos, e de 1970 a 1993 em Embu das Artes. No mais, em São Paulo mesmo.
TN: E sua terra natal, qual é?
Aidil: Nasci em Jaú, com duas semanas de vida passei a morar em Pinda…
TN: Qual a recordação que traz de seus avós?
Aidil: Quando nasci meu avô Athayde Marcondes já havia morrido, mas de vovó são gratas as lembranças. Ela morava na rua Marechal Deodoro, 18. Uma casa térrea, azul e branca e que tinha tinha um porão habitável. O quintal era imenso, com pomar e belo jardim. Contava com seis dormitórios e do quarto de vovó podíamos apreciar a Mantiqueira… Essa casa também me traz lembranças da Revolução de 1932. Sob a liderança de vó Gabriella, as senhoras de Pinda se reuniam na sala para confecção e reformas de fardas e roupas para os combatentes de São Paulo. Uma parte da casa que se destaca nessas recordações é o porão… As crianças eram proibidas de entrar naquele local… havia pessoas escondidas lá…
TN: Quantos anos viveu em Pindamonhangaba?
Aidil: Quatorze anos! Fui morar com vovó com seis anos. Quando ela morreu, em 1936, eu estava com 10 anos. Até aos 14 anos ainda fiquei em Pinda, estudando em colégios internos, eu e Dinha, minha irmã. Depois vim pra capital, pra casa de minha tia Magda, até me casar em 1946.
TN: Qual foi a sua primeira escola… primeiros mestres?
Aidil: O Grupo Escolar Alfredo Pujol. No primeiro ano a minha professora foi a dona Cecília Perrenoud; no segundo, dona Eunice Romeiro. No terceiro, minha avó Gabriella e no quarto ano a mestra foi dona Glória Moutinho.
TN: O que a senhora destacaria referente a esse tempo de escola na antiga Pindamonhangaba?
Aidil: A disciplina, o respeito. Não havia recreio, apenas dez minutos de intervalo.O Hino Nacional era cantado diariamente e tão bem cantado, que houve uma apresentação do coral nas cidades vizinhas.
TN: E do lazer, das brincadeiras da meninice, quais são as lembranças?
Aidil: O cinema… a matinê do Cine Éden após o catecismo. Terminava a aula e a criançada saía da Matriz cantando em voz alta, sob o olhar disciplinador do Padre João, mal cruzávamos a porta de saída da Matriz e voávamos para o cinema, para ver filmes de viagens espaciais!
TN: Dos coleguinhas de escola e de brincadeiras, lembra-se de alguém em especial?
Aidil: Das vizinhas queridas, a Célia, a Lavínia Goulart e do Ivo, amigos de pular corda e das brincadeiras de jogar capão, lenço atrás… Ah! Me lembro também de dois vizinhos que não tinham tempo para brincar, só estudavam, o Paulo e o Fábio Goffi.
TN: Fale sobre as reminiscências mais marcantes da Pindamonhangaba do seu tempo de criança.
Aidil: Doces lembranças… o vendedor de biju e de maria-mole, com sua matraca. As idas diárias, bem cedinho, com papai e minha irmã Dinha a uma chácara no Crispim para tomar leite tirado na hora. Comprar o famoso biscoito cangalha, da padaria San Martin… As festas juninas no Largo São Benedito. O footing (passeio) na praça Monsenhor Marcondes à noite, ouvindo o serviço de alto falante que anunciava produtos, noticiava acontecimentos locais e tocava músicas, sempre dedicadas a alguém que encontrava ali na praça… Das coisas gostosas da culinária de vovó, da canjica, rabanada, pudim de pão e arroz doce…
TN: Quem foi Gabriella de Castro Monteiro de Athayde Marcondes?
Aidil: Lembro-me dela todos os dias… De seus ensinamentos, de sua lucidez. Do ruído da pena sobre o papel, porque escrevia até altas horas, das avencas e das rosas Fausto Cardoso, que cultivava. Do seu senso de justiça, seu patriotismo, da atenção aos mais humildes. Das aulas que dava na sala à esquerda da entrada da casa. Eram aulas gratuitas de alfabetização para adultos à noite, e curso preparatório para a Escola de Farmácia e Odontologia. Recordo que havia tardes em que ela me pedia que levasse à amiga Dona Glorinha Moutinho, na mesma rua, um bolo ou um pudim feito pela Chica, com um botão de rosa do jardim. São gestos de delicadeza e cortesia inesquecíveis. Vovó tinha pouco tempo porque trabalhava muito, mas os momentos dedicados a nós suas netas eram da maior qualidade…
TN: Sente orgulho em ter sido neta de Dona Gabriella?
Aidil: Vovó foi figura importante na cidade, escrevia discursos, recebia autoridades, falava inglês e francês, porque estudara no Colégio Staford, em São Paulo. Eu nem era nascida, quando ela foi designada para receber os ingleses da Light na ocasião da chegada da luz elétrica em Pindamonhangaba. Se ser neta de Gabriella, pessoa querida e admirada, de nobre caráter, foi no passado muito confortável para mim, no presente é sim meu maior orgulho.
TN: Para concluir o nosso bate papo, por que mesmo tendo convivido com a avó, uma brilhante e afamada professora, a senhora não seguiu a nobre carreira do magistério. Em vez de moldar caráter com a luz da educação preferiu moldar belas obras com a arte e técnica da cerâmica?
Aidil: Olha, eu até fiz escola normal na Escola Caetano de Campos, em São Paulo, mas não cheguei a lecionar. A inspiração em trabalhar com essa arte vem das panelinhas de barro que eram vendidas no antigo mercado municipal de Pindamonhangaba. Muito cedo experimentei este abençoado trabalho com a argila e durante mais de cinquenta anos trabalhei com isso. Tive atelier em Embu (hoje, Embu das Artes), depois em Guarujá e em Santos. Já expus minhas obras pelo Brasil. Agora faz cinco anos que me aposentei.
TN: Senhora Aidil Athayde de Oliveira Marques, foi uma honra para página de história do jornal Tribuna do Norte tê-la entre nós, agradecemos pela atenção dispensada.