História : Notas da Pindamonhangaba antiga
Nesta edição mais uma série de notas curiosas publicadas em edições da imprensa da Pindamonhangaba de antigamente
Mendigos seriam identificados por placas no peito
Essa saiu no jornal Folha do Norte (extinto ainda na metade do século XX), na edição de 17/9/1905. Naquele início de século a unidade policial do município resolveu tomar uma medida considerada de ordem e utilidade pública: o emplacamento dos mendigos.
De acordo com a medida, pedintes só poderiam esmolar pela cidade e periferias caso “trouxessem uma chapa de metal no peito devidamente assinada pela autoridade policial”. Era a forma escolhida para identificar os necessitados merecedores da caridade pública.
Tal iniciativa foi divulgada como sendo “de proteção e de ordem e conveniência pública” levando-se em conta que a cidade ainda não dispunha de um asilo para mendigos. Havia, entretanto, um projeto para se construir uma entidade do gênero nas dependências da Santa Casa. Infelizmente, essa possibilidade não era vista com animação pelo povo. Naquele tempo estava muito difícil para a Santa Casa se manter, quanto mais sustentar um asilo.
Extermínio de cães
Essa foi publicada na Tribuna do Norte, edição de 31/7/1921.
A nota assim reclamava quanto ao número de cães que perambulavam pela cidade: “A despeito das inequívocas recomendações do serviço sanitário do Estado e da caça pelos guardas municipais, continuam as maltas de cães vadios a infestarem as nossas ruas e praças, principalmente nos arrabaldes, a maioria no denominado bairro Crispim”.
E culpava aqueles que tentavam impedir que os pobres animais fossem cruelmente dizimados: “A causa de ainda perambularem tais animais, escapos à perseguição dos encarregados de seu extermínio, reside nos próprios donos que ocultam ao sacrifícios para soltá-los depois”.
Ainda que saibamos que a raiva é uma doença infecciosa, aguda e mortal transmitida até para o homem por mordida, arranhão ou lambida de um animal infectado, é difícil concordar com a “raiva” do autor da nota contra os cachorros. A frieza com que tratavam do caso nas primeiras décadas do século passado, como prova o final da nota: “Será preciso que antes de matá-los, se vejam os guardas na necessidade de extinguir primeiro os donos, antes que estes enlouqueçam pelas mordidelas daqueles?…
Por acaso ignoram os senhores possuidores de cães serem suas primeiras vítimas no estado raivoso?”
Um caso notável de longevidade
Para concluir as notas desta edição referentes a Pinda antiga, uma somente curiosa, interessante, que a Tribuna teria extraído de um órgão informativo denominado “A Plateia” e situa o acontecimento como sendo em Constantinopla em 1921. Em tempos atuais, nos quais muito se valoriza a juventude do corpo apesar da idade, é muito interessante e a publicamos na íntegra:
Um carregador turco com 151 anos, transporta diariamente duzentas libras de pés
Zora Mehmed, um carregador turco afirma ter 151 anos de idade, acha-se completamente restabelecido da ligeira enfermidade de que fora há pouco acometido, continuando a transportar suas duzentas libras diariamente, convencido, segundo diz, de que a ociosidade arruinaria a sua saúde.
Custa muito a acreditar, pela aparência, na realidade do que afirma esse original macróbio, que, contando 151 anos de idade, representa possuir apenas 70.
Parece, entretanto, que ele tem em seu poder todas as provas legais, como passaporte e a certidão de batismo passada pela mesquita de Billis, provando que ele nasceu em 1770.
Além disso, a existência de um filho de 97 anos permite admitir a verossimilhança da asserção de Zora…
Atribui ele sua longa vida e sua saúde ao trabalho diário e à dieta.
O regime que ele segue é o seguinte: trabalhar muito, banhar-se à noite em água fria, não fumar, não tomar álcool nem café ou azeite, não comer carne ou manteiga.
Alimenta-se de mel, açúcar, pão, queijo, leite, vinagre e coalhada.
Em cada período de cinco anos, toma Zora três meses de descanso em sua cidade natal.
É a imagem viva da saúde e do vigor físico.Tem cinco pés e dez polegadas de altura, é espadaúdo, quase calvo, cara grande.
Tem a vista ainda boa e a memória lúcida. Recorda-se da primeira vez que chegou à Constantinopla uma embarcação a vapor. Não raro, ouve-se ele começar a conversação com as seguintes frases:
– “Quando Napoleão estava no Egito” ou “Acabava de morrer o americano Washington”…
Zora casou-se quatro vezes, morrendo todas as quatros mulheres.
Teve vários filhos, mas só dois vivem atualmente: Osman, de 97 anos, que já teve a sua saúde muito combalida, e Gouli Hanem, de 60 anos.
O pai de de Zora morreu aos 76 anos e sua mãe com a idade de 83 anos.
Não possui bens de fortuna, devido aos enormes gastos que sempre teve pra sustentar a numerosa família.
Vive em um “Klau Kinda”, pagando para dormir.
– O único desejo meu – diz ele ainda – é trabalhar. A ociosidade arruinaria a minha saúde.
Rezarei toda a minha vida, pedindo por aquele que me dê trabalho, pois a saúde, a felicidade e a sabedoria vêm apenas do trabalho.
Sendo-lhe perguntado se pensava em incorporar-se ao exército maximalista turco, Zora sorriu com benevolência e sacudiu a cabeça dizendo: “Já combati muitas vezes pela minha pátria. Agora quero terminar a minha vida rezando pela prosperidade do império.”
Obs.: Segundo pesquisas, 200 libras correspondem a pouco mais de 90 quilos. “Klau Kinda” deve ser uma espécie de pensionato
Maximalista foi um movimento revolucionário de inspiração bolchevista, fundado no dia 27 de abril de 1919, em Lisboa. Foi inspirado pela Revolução Russa de 1917, especialmente pela fação bolchevique e pela ditadura do proletariado como fase intermédia para atingir a sociedade comunista anarquista.