História : O aniversário da Tribuna e a visita do governador
Há cem anos, a Tribuna do Norte registrava em sua edição de 11 de junho de 1921, um sábado, o seu 39º aniversário. Na capa contava um pouco de sua realidade na época e estampava mais uma das ilustres visitas recebidas por Pindamonhangaba ao longo de sua história: o governador (na época denominava-se presidente de estado) Dr. Washington Luís Pereira de Sousa.
Em 1921 era proprietário da tipografia, oficinas onde se compunham as edições, portanto proprietário da Tribuna (aquisição ocorrida em 1914), o médico Dr. Claro Cesar. Político dos mais atuantes de Pindamonhangaba (foi até deputado e denomina avenida no centro histórico de Pinda), esse médico esteve à frente do Executivo Municipal por mais de um mandato (1909/1912 e 1913/1919). Era então um tempo em que a Tribuna do Norte era literalmente um atuante e acreditado “jornal do prefeito”.
Em sua direção estava Plínio Marcondes Cabral (diretor de 9/2/1919 a 8/5/1924), que tinha a seu lado nessa missão, como chefe de redação, o proprietário, Dr. Claro Cesar. Havia já se passado sete anos que não contavam mais com os artigos de seu fundador, o jornalista, poeta e jurisconsulto Dr. João Romeiro (26/5/1842 – 8/7/1915).
Era um tempo em que Intelectuais de expressão escreviam para o jornal, entre eles destaque-se o escritor, historiador, músico, poeta e conhecido homem público José Athayde Marcondes (possivelmente o autor desse artigo de capa).
Dessa histórica e centenária primeira página comemorativa da Tribuna, então quase quarentona, é interessante relembrar alguns trechos do artigo algo adjetivado, como assim era o jornalismo daqueles tempos:
“Aos onze de junho de mil oitocentos e oitenta e dois, nesta cidade, sob os auspícios do distintíssimo e saudoso Dr. João Marcondes Romeiro, saiu à luz da publicidade o primeiro exemplar desta folha. Jornal Hebdomadário (semanal), nós acostumamos uma vez por semana, aos domingos, a vê-lo em nossas casas”.
E aqui o articulista chega a ressaltar a importância da Tribuna na formação intelectual de seus leitores: “Para os nossos espíritos inexperientes, menos esclarecidos, balbuciantes nas cousas do saber e ainda na aurora da juventude, este jornal, de que hoje somos parte integrante na sua direção, este jornal, dizíamos, era para nós, na fase mais cara da vida, o arauto amigo de quem bebíamos os sábios conselhos e as opiniões clarividentes. Isso quer dizer que ele muito influiu na formação do espírito da nova e atual geração.”
E segue o redator, fazendo de tribuna a Tribuna:
“Quarenta anos quase de luta heróica, de trabalho insano revive hoje o nosso jornal, desfraldada aos ventos a sua bandeira de combate em prol de todos os ideais elevados e que representam o bem estar da coletividade social…
Nesse espaço considerável de tempo, que quase orça pela da existência humana jamais a ‘Tribuna’ sentiu desfalecer-lhe a fé viva e pura que tem animado; jamais sentiu diminuir-lhe o ardor e o idealismo que a faziam palpitar no torvelinho da luta geral…”
Os tempos da fundação são relembrados:
“Fundada e dirigida aos seus primórdios por um jurista, lógico é que o sentimento de justiça lhe seja imanente. Este predicado orna-lhe ainda sua estrutura moral.
Órgão político desde a sua fundação, tem sabido se conduzir e se impor, quer defendendo os interesse do partido que representa, quer profligando atos censuráveis dos adversários, usando em todas as emergências de uma linguagem parcimoniosa e protocolar, atendendo, desta forma, não só ao meio em que vive como aos princípios em que foi moldado.
O encarregado daquele artigo comemorativo aos 39 anos da Tribuna falava ainda das lutas sem tréguas e toda a ordem que o jornal vinha travando pra continuar existindo e para isso contava com a boa vontade de “seus ilustres e bondosos colaboradores”. Atribuindo a eles o fato do jornal ter conseguido “…tão animosa aceitação”.
O Dr. Claro Cesar, na qualidade de chefe de redação, é assim mencionado: “dirigindo a parte redatorial desta folha, uma figura sobressai não só pelos seus dotes intelectuais, como ainda pelo seu inegável prestígio e que por si só é o bastante para garantir o triunfo moral da Tribuna do Norte. Referimos à pessoa do preclaro chefe e amigo Dr. Claro Cesar. Não fora ele e hoje talvez não pudéssemos comemorar o nosso trigésimo nono aniversário …”
Ao exaltar a importância desse ilustre pindamonhangabense na sobrevivência da Tribuna, o redator lembra os tempos difíceis quando Claro Cesar tornou-se proprietário do jornal em 1914, impedindo que ele deixasse de existir.
Concluindo, o articulista exalta a atuação do diretor Plínio Marcondes Cabral: “O atual diretor desta folha, mister é que se diga e não vai nesta afirmativa o menor elogio, tem sido a alma mater da Tribuna do Norte.” E finaliza: “Aos seus leitores, assinantes, redatores, pessoal de oficinas e amáveis colaboradores, Tribuna do Norte, agradecida pela preferência num sincero aperto de mão, rende-lhes a homenagem do seu afeto e consideração.”
A visita do governador Washington Luís
Artigo sobre a ilustre visita que Pindamonhangaba recebeu no dia de aniversário do jornal Tribuna do Norte, encontramos em edição posterior deste jornal, artigo de seu redator Athayde Marcondes. Visita esta depois registrada em extenso texto de seu livro “Pindamonhangaba Através de Dois e Meio Séculos (Gráfica Tupy – 1922).
O chefe político teria chegado em Pinda no Trem da Estrada de Ferro Central do Brasil, na madrugada de sábado, 11 de junho de 1921. Pela manhã seguiu em bondinho da Estrada de Ferro Campos do Jordão para aquela cidade nas montanhas, regressando às 18 horas.
A população, autoridades locais e da região o receberam na estação da EFCJ, que estava enfeitada com palmeiras, folhagens e flores. Washington Luis também foi recepcionado com música pela Corporação Musical Euterpe e pela banda da Fábrica de Tecidos de Taubaté.
À noite daquele mesmo dia participou de banquete na sede Câmara Municipal e ainda foi homenageado na Escola de Farmácia. Participou de palestras, discursos e festejos até de madrugada.
Eram já das duas horas de domingo, quando governador, sua comitiva, convidados e representantes da imprensa: Correio Paulistano, O Estado de São Paulo, Jornal do Comércio, Cigarra e Agência Americana, seguiram para a estação da Central do Brasil, onde ele se despediu, retornando a São Paulo.
É oportuno mencionar que naquele ano o prefeito de Pindamonhangaba era o coronel Benjamim da Costa Bueno (mandato 1920/1929); presidia a Câmara Municipal o Dr. Alfredo Machado (mandato 1920/1922).