Vanguarda Literária : O AUTOR DE MACUNAÍMA
Mário de Andrade, escritor paulistano (nascido em 1893 e falecido em 1945), um dos líderes do Movimento Modernista de 1922, poeta, romancista e contista, teórico da arte, folclorista, autor de “Paulicéia Desvairada” (1922), “Amar, verbo intransitivo” (1927) e de “Macunaíma” (1928) entre outras obras, provavelmente consciente de que o artista teria condição de atingir a essência universal do homem através do folclore e não da “falação”, escreveu em “Ensaio sobre música brasileira”: “Todo artista brasileiro que, no momento atual, fizer arte brasileira é um ser eficiente como valor humano. O que fizer arte internacional ou estrangeira, se não for um gênio, é um inútil, um nulo, uma reverendíssima besta”.
Certamente, o grande polígrafo brasileiro tomou essa atitude em defesa do que é nosso, por entender que a arte erudita deve existir sempre em função das expressões lídimas do folclore, da cultura expontânea.
Assim, ele foi um dos poucos escritores patrícios a tornar concreto esse ideal, acima de regionalismos literários que traçam marcos característicos de alguns de nossos escritores. Quem não entende MACUNAÍMA na linguagem usada pelo escritor é porque tem pouco conhecimento do Brasil – Povo que palpita fortemente dentro dele, seja nos mitos de Mapinguarí, do Bicho – Pandê, do Negrinho do Pastoreio; nas fórmulas de linguagem das crianças e dos ditados dos adultos; nos seres míticos que frequentam dorme – nenês; nos versos de “Bumba – Meu – Boi” e nas expressões populares dos sonhos.
E, é realmente na sua espetacular e marcante obra “MACUNAÍMA” que apreciamos um extenso documentário do Folclore Nacional. Aí, com uma linguagem bem brasileira, bem nossa, conta as aventuras desse personagem da mitografia amazônica, o “herói sem caráter”, imoral, atrevido, mas dotado de grande poder.
MACUNAÍMA é um semideus dos índios do grupo Caribé do “plateau” da serra da Roraima e do alto Rio Branco que foi revelado por Koch Grunberg e teve algumas de suas “estórias” traduzidas do livro fonte por Clemente Brandenburger.
Leiamos a obra e constatemos a idéia do material folclórico que encerra a concepção de Mário de Andrade: “Vivia deitado, mas, se punha olhos em dinheiro, Macunaíma dançava para ganhar vintém…” “As mulheres se riam muito simpatizadoras, falando que espinho que pinica, de pequeno já traz a ponta…” “Mãe, sonhei que caiu meu dente. – Isso é morte de parente, comentou a velha”…
“O Negrinho do Pastoreio, para quem Macunaíma rezava diariamente, matutava, matutava, roendo os dedos cobertos de berrugas de tanto apontarem Ci-Estrela”…
“Quando o herói saiu do banho estava branco, loiro dos olhos azulzinhos, água lavava o pretume dele… Maanape conseguiu molhar só a palma dos pés e das mãos. Por isso ficou negro…
“Olha, primo, pagar eu não posso, mas vou te dar um conselho que vale ouro: Nesse mundo tem três barras que são a perdição dos homens: barra de rio, barra de ouro e barra de saia, não caia!”…
“Nem bem pisou na praia e se ergueu na frente dele um monstro… Era o BICHO PONDÊ um jucurutu do Solimões que virava gente de noite e engolia os estrangeiros… Mais para diante topou com o monstro MAPINGUARÍ, um macaco-homem que anda no mato”…
Eis, portanto, em breve comentário, um pouco do nosso folclore de que Mário de Andrade tanto cuidou na elaboração da sua inesquecível obra, numa prova inconteste de que foi um grande brasileiro, pesquisando o que era genuinamente nacional, revelando-se um patriota da melhor estirpe.