Lembranças Literárias : O beijo da morta
Publicada dia 14 de setembro de 2021
Cresce a invernosa noite, um frio intenso
morde-me as carnes: – lívido, gelado,
no leito me ergo… e escuto o desolado
vivo do inverno, atroz, convulso, imenso…
Tento dormir. Em vão! Escuto e penso,
penso na eterna ausente… Ah! Se a meu lado
ela estivesse! Um beijo perfumado!
Um só! Me fora ardente e ideal incenso…
Abre-se então de leve a minha porta…
É ela! Entrou. Na palidez da morta
uma aurora de beijos irradia!
Caminha… chega e diz-me num segredo:
“Une teu rosto ao meu, não tenhas medo;
venho aquecer-te, a noite está tão fria!”
Luiz Guimarães, Tribuna do Norte, 10/4/1924