Vanguarda Literária : O BISPO DOS POBRES
O Papa João Paulo II, em 1980, na sua visita ao Brasil, referindo-se a este filho de jornalista e professora, de uma família de 13 irmãos, nascido em 7 de fevereiro de 1909, assim falou: “Irmão dos pobres, é meu irmão!”. Sua Santidade, naquele momento, em Recife, saudava o conhecido Bispo dos Pobres: DOM HELDER CÂMARA. Tudo na vida de DOM HELDER ocorreu de maneira prematura. Foi ordenado aos 22 anos de idade, por licença especial do Vaticano, quando o Direito Canônico previa a idade mínima de 24 anos para ordenação sacerdotal. Aos 43 anos foi nomeado Bispo Auxiliar do Rio de Janeiro onde desenvolveu um trabalho social memorável.
Foi fundador da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, sendo seu secretário por muitos anos. Teve uma existência dedicada à defesa da Justiça e da Cidadania. É dele esta frase famosa: ”O verdadeiro cristianismo rejeita a ideia de que uns nascem pobres e outros ricos, e que os pobres devem atribuir a sua pobreza à vontade de Deus”. Tudo enfrentava, com destemor, em prol dos desvalidos. Por sua luta imensa, recebeu homenagens e condecorações no Brasil e no Exterior.
Em 1964 foi nomeado Arcebispo de Olinda e Recife, batendo de frente com o regime militar vigente, sendo, muitas vezes cognominado de comunista e “Bispo Vermelho”. Em 1970, em célebre Conferência em Paris, com muita coragem, denunciou, pela primeira vez, a prática de tortura a presos políticos no Brasil. Em 1972, foi indicado para Prêmio Nobel da Paz. DOM HELDER, aquele homem pequeno fisicamente (não passava de 1,62 m de altura), mas, imenso na sua estatura moral e ética, na sua humildade, encantou o mundo. Aos 90 anos de idade, despediu-se do nosso planeta e descansa nos braços do Senhor. Tive a rara felicidade de conhecê-lo, em um único contato. Era uma tarde calorenta de agosto de 1987, na Fundação Joaquim Nabuco, em Recife, na qual seria realizada a solenidade de premiação do Concurso Nacional de Poesias e de Trovas alusivo aos 350 anos de fundação da Veneza Brasileira. Fui um dos laureados com esta Trova singela: “Minha Recife altaneira,/ quanto brilho, quanta glória!/ Sua gente hospitaleira/ valoriza a nossa História!”
Na hora da premiação, fui anunciado como trovador oriundo de Pindamonhangaba, e cearense de nascimento. Eis que se levanta DOM HELDER para me entregar o diploma e o troféu. A emoção dominou-me por completo! Banhado em lágrimas, ajoelhei-me aos pés daquele ser grandioso, ao mesmo tempo em que ele me dava a mão, falando ternamente: ”Não fique assim! Receba seu prêmio merecido, eu sou também da sua terrinha!”. Não consegui ler a trova, sendo auxiliado pelo locutor da solenidade. Ele, percebendo a minha comoção, por instantes, segurou firme as minhas mãos, olhando para mim e sorrindo. Lamento até hoje por não ter o registro fotográfico. Mas, os detalhes da cena ficaram indeléveis gravados nas minhas retinas, que levarei comigo para a eternidade. Quanta saudade do “Bispo dos Pobres” que tornou o nosso mundo um pouquinho mais rico!