Nossa Terra Nossa Gente : O CADERNINHO SECRETO DE TEREZINHA SALGADO MARCONDES

Das histórias e memórias em torno da vida e do legado de Terezinha Salgado Marcondes, trago à luz as suas raízes familiares, firmemente estabelecidas pela união do Capitão da Guarda Nacional e atuante vereador Antonio Pereira Salgado com D. Leonídia Moreira Cezar Salgado, de cujo enlace nasceu em Pindamonhangaba, a 1º de março de 1923, Terezinha, irmã de Vicente de Paula, José Beneditoe Maria Norma. Do primeiro casamento de seu pai, teve outros sete irmãos.

Conhecemo-nos em 2012, quando, ao ingressar na Academia Pindamonhangabense de Letras, fui entrevistá-la. Meu patrono, Vicente de Paula Salgado, era seu irmão e, para redigir o discurso de posse, precisei de informações valiosas que ela e Dona Norma, gentilmente, me concederam. Aquela agradável tarde na Rua dos Andradas, entre álbuns de retratos, discos, postais e poesias, tornou-se inesquecível. Pelo fio das lembranças, as irmãs Salgado mostraram-me fotos de seus antepassados, conduziram-me por ruas e casas em que residiram, contaram-me histórias do Professor Vicente e da dupla “Tar e Quar” que até hoje guardo no coração.

Ao final daquela tarde de acolhida e partilha, Dona Terezinha ofereceu-nos um café preparado com esmero: mesa decorada com toalha de renda, xícaras de porcelana, pão de queijo, bolo, biscoitos. Gostosuras que me reportaram à minha infância e à casa de minha avó e, sem que ela pudesse imaginar, causou-me profunda emoção!

Em nossa prosa, ela confidenciou-me que também escrevia poesia e que mantinha, há muitos anos, um caderno com esses registros. Foi buscá-lo. Nem preciso dizer que naquelas páginas redigidas com letra caprichosa estavam guardados um tesouro valioso e, em seus versos, suas impressões sobre a vida, o amor, os filhos, a sua Pindamonhangaba, o seu “Pouso Frio” – fazenda herdada dos pais e pela qual ela tinha verdadeira adoração!

Uma década já se passou, e aquele caderninho de capa azul de Dona Terezinha ainda faz brilhar em mim a descoberta de uma poeta nata, tão humilde que nunca ousou publicar seus poemas com o próprio nome, usando para isso, o pseudônimo MARCEL, um pot-pourri das letras dos nomes dos filhos Maria Regina, Carlos Henrique, Renato, Edargê e Maria Letícia!

Às portas de completar 100 anos, a professora e secretária geral do Instituto de Educação que se casou com Edargê Vieira Marcondes e, infelizmente, cedo enviuvou, cedo enfrentou a difícil tarefa de ser mãe-pai e de prover a família e, sobretudo, de conceder a cada filho a dose dupla de amor. Tarefa certamente inspirada em Santa Terezinha do Menino Jesus e que tem sido o mote de seu centenário viver: “Faça tudo com Amor, por Amor e para o Amor. Esse é o segredo”.

Por falar em segredo, sua filha Letícia autorizou-me a publicar o poema “Pouso Frio”, um dos prediletos da poeta muito querida de nossa terra e de nossa gente!

POUSO FRIO

Existe um lugar no mundo Escondido entre florestas Dentro de um vale profundo
E de belezas tamanhas! Parecendo até que Deus Numa rara inspiração Deixou lá pr’os filhos seus Paz, beleza e perfeição. É um lugar tão bonito Que aqueles que o conhecem
E pisam seu solo bendito Nunca mais dele se esquecem.

Lá nossa Mãe Natureza Se esmerou em ser mais bela O verde é uma riqueza É linda até a procela.

Nas palmeiras centenárias Canta alegre a passarada E por detrás da jaqueira Surge a lua prateada.
Nas manhãs enevoadas Ou nas noites de luar Nossas lembranças guardadas Umedecem nosso olhar.
No casarão tão antigo Grandes amores nasceram Lindos sonhos se fizeram Ilusões também morreram…
É o meu “Pouso” querido Que de “Frio” nada tem Nele o amor escondido Aquece como ninguém!

E por detrás da jaqueira Surge a lua prateada.
Nas manhãs enevoadas Ou nas noites de luar Nossas lembranças guardadas Umedecem nosso olhar.
No casarão tão antigo Grandes amores nasceram Lindos sonhos se fizeram Ilusões também morreram…
É o meu “Pouso” querido Que de “Frio” nada tem Nele o amor escondido Aquece como ninguém!

 

 

 

  • Divulgação Terezinha Salgado Marcondes