Proseando : O CALOR DA HUMILDADE
Se você for o primeiro a acertar o nome do Mendigo e de seu cão, ganhará um exemplar do cordel “Saí-Azul, o amor que valeu a pena”.
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O frio assoviava arrepiando a madrugada. Eu voltava do trabalho protegido por luvas, cachecol e casaco, na vã tentativa de suportar a temperatura glacial. O vento castigava o meu rosto. Eu era o único a desafiar o inverno e a garoa que caía.
Apressei passos. Iria ao café da esquina para aquecer o corpo e a alma. Caminhei centenas de metros e, depois de alguns quarteirões, encontrei o estabelecimento, fechado.
Continuei caminhando. Perto de casa, vi o homem magro, barbudo, deitado sobre a calçada forrada de papelão. Trajava camiseta encardida, rasgada, de manga curta. Tremia. Ao lado dele, um cão magérrimo enrolado em trapos parecia dormir. Cheguei perto e vi que os trapos eram restos de casaco velho.
Ao notar minha presença, o cão abriu os olhos, pôs-se em pé, pontiagudouas orelhas, rosnou e escancarou a boca para me intimidar com os dentes que restavam da velhice. Ao perceber a atitude belicosa, o homem passeou os dedos pela cabeça do animal e sussurrou algum comando, fazendo com que o cão despontiagudasseas orelhas.
– É meu fiel companheiro, meu protetor. Não fará mal ao senhor.
Entre os papelões, vi um pedaço de pão embolorado. Apontei para o alimento e, antes de me pronunciar, o cão pousou as duas patas dianteiras sobre o pão e tornou a rosnar. Outra vez foi contido pelo homem que, estendendo a mão, me ofereceu:
– O senhor está com fome? Só temos este pedaço de pão. Pode levar.
Recusei. Imediatamente, enfiei a mão no bolso e ofertei a ele dinheiro suficiente para algumas refeições de qualidade. Dos olhos do mendigo nasceram fios de lágrimas; de seus lábios, um sorriso tímido. Por frações de minuto, resistiu; entretanto, creio que coube à fome a decisão de aceitar o dinheiro. Perguntei:
– Qual o nome do seu cachorrinho?
– Dois títulos. Meio ouro em inglês. Troque a consoante da casa do passarinho de Charlie Chaplin.
– Não entendi.
– Você vai descobrir. Vá pensando pelo caminho.
Antes de ir, tirei o meu casaco e dei a ele.
– Não posso aceitar. O senhor correrá o risco de ficar doente.
Contei que minha casa estava próxima e que eu tinha outros semelhantes.
Depois que o deixei, olhei para trás e o vi cobrindo o cão com o casaco. Em casa peguei outro casaco, travesseiro, cobertores, e retornei ao local onde estavam. Na calçada, sobre os papelões, encontrei o meu casaco, o dinheiro e um bilhete:
“Em verdade vos digo: Sempre que fizestes isso a um destes meus irmãos mais pequeninos a mim mesmo o fizestes.”