Nossa Terra Nossa Gente : O CRONISTA BALTHAZAR DE GODOY MOREIRA

Qual bicho-da-seda, dia e noite, Balthazar de Godoy Moreira (1898 – 1969) teceu os fios de sua história, alimentado pelas folhas da memória da sua infância em Pindamonhangaba e das lembranças de Marília, município do oeste paulistapara o qualBalthazarmudou-se com a família nos idos de 1930 a fim deimplantar oprimeiro Grupo Escolar, o primeiro Ginásio eInstituto de Educação.

Graças aos registros historiográficosde Balthazar, temos hoje uma obra primordial, de incalculável valor: “Minhas Memórias de Pinda”, publicadas semanalmente no jornal ‘Tribuna do Norte’, no período de 31/3a 22/12/1963;e“Minhas Memórias de Marília”, de modo análogo, publicadas no ‘Correio de Marília’, entre 30/6a 22/12/1968.

Em“Minhas Memórias de Pinda”, Balthazarrelata suas lembranças do ‘Sobrado’ dos Godoy Moreira (em frente à Matriz de Nossa Senhora do Bom Sucesso), da ‘Casa Grande’ (“casa enorme, de porta e cinco janelas para a rua do Tijuco”, em que residiu na infância), dos ‘Brinquedos Infantis’ e de outros lugares e fatos históricos que estão hoje resguardados graças ao seu primoroso registro: ‘O Teatro’, ‘O Circo’,‘O Clube Literário’, ‘Um Carnaval’, ‘Sempre a Política’, ‘Ainda a Política’, ‘A Casa dos Marcondes’, ‘D. Pedro em Pinda’, ‘Largo do Mercado’, ‘Dom Pedro II’, ‘Ainda, o Mercado’, ‘O chafariz do Cônego Tobias’ e, por fim, ‘Águas do Tabaú’ .

Para Balthazar, essas memórias ‘pindenses’ seriam“uma conversa de velhos com moços”:“Não faz mal nenhum que os jovens conheçamo passado, de um ponto diferente de vista. Não a história convencional com nomes apenas, datas e fatos administrativos, mas a história íntima, com seus usos e costumes; uma mirada retrospectiva na sua paisagem física e humana. E na sua alma de velhos dias”.

Grande parte desse trabalho magistral de Balthazar sobre a “sua Pinda” das primeiras décadas dos 1900 foi compiladopor Dr. Francisco PiorinoFilho e publicado no livro“Professor Balthazar de Godoy Moreira” (2017),que, além das crônicas, contémos 21 sonetosde Balthazar do seu“Roteiro de Pindamonhangaba” (1960) e obelíssimosoneto que Balthazar dedica à esposa, ‘O último olhar’.

Não sabemos o período exato em queo professor Balthazar de Godoy Moreirapermaneceuem Marília; entretanto, o magnífico registro historiográfico publicado no Correio de Marília (10 longos artigos) revela-nos detalhes de sua chegada à “cidade nova e bonita” – “Cheguei com a família em Marília no dia 1 de fevereiro de 1930, indo para o Hotel Esplanada, na então rua Ceará, perto da linha. (…) No Hotel Esplanada moramos uns dois meses”.

Nas crônicas de Marília, relata aindaas pessoas com quemfirmou laços de amizade, as escolas em que atuou como diretor e inspetor escolar, os gabinetes de dentista e as bibliotecas que nelas implantou: “Em todos os estabelecimentos por que passei, apaixonado que sempre fui por livros, criei bibliotecas, umas maiores, outras menores, mas sempre com mais de mil volumes”.

Ave, Balthazar de Godoy Moreira!Quanta históriaestá aser desveladade suasmemórias de Marília, dos artigos de sua autoria publicados nos jornais ‘Alto Cafezal’ e na revista ‘Alta Paulista’ e, de modo especial, de como Marília foi sendo beneficiada pelo seu trabalho e o de suaesposa – a poeta, escritora, professora e dentista Elisa Mello de Godoy Moreira…

Ave, poeta maior de nossa terra e de nossa gente! Com suas crônicas de Pindamonhangaba e de Marília, você inscreveu um marco no arco do tempo: a historiografia de duas cidades que estaria esmaecidaentre a neblina do passadose não fosse esse seu ofício de bicho-da-seda, de tecer fio a fio, linha a linha, o tecido da sua e da nossa história!