Nossa Terra Nossa Gente : O LEGADO DE EDNA BUGNI AO PARQUE NACIONAL DA SERRA DA CAPIVARA
Pindamonhangaba dista mais de dois mil quilômetros do ‘Parque Nacional da Serra da Capivara’, no Piauí, entretanto, quem desejar encurtar esse caminho e conhecer a história desse museu a céu aberto, de figuras rupestres de épocas pré-históricas, temos o livro da médica literata, pindamonhangabense de coração, Edna Bugni: Serra da Capivara: a surpresa do século. A história de um parque.
No prefácio da obra, Fernanda Trindade Lucini, sabiamente, descreve esse patrimônio natural, arqueológico e histórico do Brasil e do mundo, ainda pouco conhecido: “A Serra da Capivara é um lugar único no mundo. Único por preservar um bioma exclusivo do Brasil. A Caatinga. Único por sua beleza natural. Único por guardar a maior concentração de pinturas rupestres do planeta. Único por ser uma peça fundamental no quebra-cabeça do processo de chegada do homem à América. Único por colocar a arqueologia brasileira no debate acadêmico e na literatura especializada internacional.”
No entanto, esse monumento ecológico, cultural e histórico só veio a ser agraciado com os primeiros estudos científicos nos idos de 1973, época em que a arqueóloga franco-brasileira Niède Guinon (conhecida mundialmente pela defesa de sua hipótese sobre o povoamento das Américas e por sua luta pela implementação/preservação do Parque Nacional da Serra da Capivara e, também, pela Fundação Museu do Homem Americano) se encantou profundamente com a riqueza de seus sítios arqueológicos e, desde então, reuniu um aporte acadêmico de renomados pesquisadores internacionais que passaram a colaborar com as primeiras pesquisas.
Apesar das lutas e glórias de Niède Guinon e de sua equipe multidisciplinar, a história desse santuário arqueológico ainda não tinha sido retratada em livro. Em 2012, durante uma viagem de turismo ao Parque Nacional da Serra da Capivara, Edna Bugni percebeu essa lacuna e desejou redigir uma obra que relatasse essa fascinante história.
Por sorte, a ‘arqueóloga da palavra’ teve fácil acesso aos cadernos de campo das 22 missões realizadas ao longo dessas cinco décadas; aos documentos contábeis do Parque Nacional, suas atas de reuniões, seus estatutos e planos de manejo; e, sobretudo, aos textos acadêmicos resultantes das pesquisas nos sítios arqueológicos da Capivara.
Além dessa vasta pesquisa bibliográfica, Edna realizou entrevistas com os fundadores, funcionários, pesquisadores e membros da comunidade local, dentre os quais destacamos: Niéde Guinon, figura central e grande idealizadora desse projeto; Silvia Maranca, pesquisadora que enfrentou o sertão com Niède, na primeira missão arqueológica; Eric Boëda, professor da Universidade de Paris X, parceiro de pesquisa de Niède e coordenador das missões arqueológicas no Parque Nacional; Fábio Parenti, pesquisador brasileiro especialista em líticos e professor da Universidade Federal do Paraná; dentre outros.
Após sete anos de exaustiva pesquisa e dedicada escrita, Edna Bugni organizou o livro em seis capítulos e dois cadernos especiais: Onde tudo começou, As pinturas rupestres, O Parque Nacional da Serra da Capivara, Fundação Museu do Homem Americano, A missão franco-brasileira no Piauí, A região do Parque Nacional: geografia e habitantes; As missões franco-brasileiras do século 20 e Diário de uma jornada.
Se, na concepção de Eric Boëda, doutor em Antropologia Pré-histórica e médico francês, “a descoberta das pinturas na Serra da Capivara foi a surpresa do século”, essa obra magistral de Edna Bugni revela o valor inestimável desse patrimônio ambiental e cultural brasileiro que, desde 1991, é reconhecido pela UNESCO como Patrimônio Cultural da Humanidade.