Nossa Terra Nossa Gente : O poeta Tarcísio Bregalda

Tarcísio Carlos Bregalda nasceu em Cruzeiro, nos idos de 1955. De menino já se sabia poeta! Tinha nos olhos um olhar demorado sobre todas as coisas: vaga-lume, passarinho, vento, chuva, árvore, flor, serra, rio, mãe… 

“É na infância que promana todo detalhinho do encantamento.”

Primeiro, o menino desses versinhos escreveu poesia com “detalhinho do encantamento”; depois, aprendeu a ler e a escrever no Instituto Nossa Senhora Auxiliadora, escola salesiana de sua terra natal em que fez o Primário e o Ginásio; o Secundário cursou no Instituto Santa Teresa, e foi no célebre colégio das Irmãs Salesianas, em Lorena, que encontrou os primeiros mestres: Ir. Olga de Sá, Johel Abdallah e Severino Antônio.

Numa aula de Língua Portuguesa, o Prof. Severino apresentou aos alunos a poesia de João Cabral de Melo Neto. Tarcísio foi transpassado por um encantamento tão desmedido por aquela expressão poética que teve febre por três dias. Desde então, o tecido de sua poesia principiou a fiar versos…

Quando Severino solicitou aos alunos do 2º Ano Científico que escrevessem sobre o “Sol”; o jovem poeta prontamente redigiu: “A sombra dividida ao meio se mostra”. Para a proposta “Alguma lembrança de vida”, Tarcísio poetizou: “Pescador de peixes e palavras, no rio do mundo, que nunca se esquece de um velho buraco na rede por onde lhe escaparam os melhores peixes.”

Severino muito apreciou os versos do jovem aluno e elogiou suas produções em classe. Naquele instante, creio eu, deu-se o batismo do poeta TARCÍSIO BREGALDA no mundo!

“A poesia entrou na minha vida como um cão sem plumas atravessa uma rua, como uma espada atravessa uma fruta, como uma ave que vai cada segundo conquistando seu voo.”

Aos dezessete anos, a opção profissional levou Tarcísio a deixar o majestoso “Gigante adormecido” do Pico Itaguaré – cartão-postal de Cruzeiro – e mudar-se para Alfenas, município do sul de Minas onde cursou Odontologia na EFOA – Escola de Farmácia e Odontologia de Alfenas.

Ao ser diplomado cirurgião dentista, aos pés de outro gigante – a Pedra do Baú, em São Bento do Sapucaí –, o Dr. Bregalda erigiu sua brilhante carreira profissional, constituiu família, arrebanhou uma confraria de amigos (Ditinho Joana, Ângelo Milani, Billy Gibbons, Manoel de Barros, Antonio Candido…), publicou seus livros: Os riscos das margens, 1999; Itinerau, 2011; O pensar pelos barrancos, 2012; Naveganças: em três linhas, 2014; Serventia do dizer poético, 2016; Alguma Poesia (parceria Severino Antonio), 2018; Indez, 2019; Soprador de utopias, 2021.

Dessa obra monumental que leio e releio em busca de doçuras e belezas posso afirmar que a poesia de Tarcísio Bregalda, incontáveis vezes, cumpriu em mim sua missão salvífica, de modo especial, o poema dedicado à sua mãe, cujos versos transpassam minh’alma por inteiro:

DE GALÁXIA EM GALÁXIA
Mamãe bordava nos panos de prato,
letra a letra,
a história da humanidade.
Tinha sabedorias latentes,
uma delas, sobre o fugidio tempo,
por isso escrevia pedaços do vivido
e do ainda a ser,
nos panos dos dias.

Ela agora flutua
de galáxia em galáxia
querendo entender o cosmo
sem começo nem fim.
Mas ficaram entranhados neste mundo,
no meu mundo,
os bordados
e o brilho verde-poesia do seu olhar.

Diante da potência desses versos de TARCÍSIO BREGALDA, é impossível não se emocionar! É impossível permanecermos os mesmos, perante a arte salvífica desse poeta menino que vida inteira, assim como sua mãe, letra a letra, bordou versos nos panos dos dias, pura e simplesmente, para despertar o “brilho verde-poesia” do nosso olhar…