O que faremos com quem não tem formação?
O mundo sempre muda.
Principalmente diante de três fatos: guerra, revolução e pandemia.
Acelerando assim processos que já estavam em curso. Mas qual será o caráter dessa mudança?
A doença pela qual estamos passando pode mudar o comportamento da humanidade.
Há um ano reclamávamos que faltava tempo para ficar em casa, mas a tendência histórica é que após um isolamento toda pandemia passa.
Haverá uma explosão de sociabilidade, com certeza.
A regra de que as escolas precisam de alunos presentes já está sendo quebrada, mas ainda precisamos de bons professores que preparem bons materiais de ensino.
Só vão precisar se especializar em como ser Youtuber, esse será um grande desafio.
Uma coisa foi a crise de 1929 onde o preço do nosso café para a exportação despencou, a população era de 30 milhões de brasileiros, agora temos outra realidade.
PIB encolhe, o mercado encolhe e ficam pessoas excedentes esperando reinserção no mercado, atualmente os números nos mostram mais de 14 milhões de desempregados.
Com o desenvolvimento da tecnologia, o mínimo que você vai esperar de qualquer trabalhador do mais simples ao mais qualificado é o domínio do inglês e da informática.
Infelizmente temos um país onde o analfabetismo funcional é enorme, mais de 50% da população não consegue ler uma instrução simples de um manual de eletrodoméstico.
Essa população, que papel terá em um mundo onde o algoritmo vai responder por tudo que for automático? Ou seja, que papel terá aquela função que uma pessoa tinha e que qualquer programa de computador vai substituir com a maior eficácia.
A primeira estratégia que vai nos colocar em choque é que se continuarmos achando que é possível excluir essa parcela da sociedade que não tem formação, com certeza o capitalismo vai entrar em colapso.
O que fazer com as pessoas que não terão perspectivas de emprego?
O próprio capitalismo terá que ajudar essas pessoas.
Um amigo me disse que hoje não precisamos mais fazer faculdade pois tudo está na internet.
Eu disse, se você precisar fazer uma operação cardíaca, vai escolher o cirurgião formado, com 20 anos de prática ou um jovem que leu todos os tutoriais na internet.
No Brasil o que a epidemia trouxe à tona de forma cristalina, é que nós temos uma desigualdade brutal, e não importa se você é conservador ou de esquerda.
Enquanto as classes média e alta debatem em como lidar com o tédio e a disciplina das crianças em casa, a classe baixa tem que lidar com a sobrevivência, a fome e o risco com o emprego.
Todos os nossos valores estão sendo testados nesse momento.
Então nos resta a esperança, a pessoa que tem esperança – age.
Esperança é você olhar seu filho com 11 ou 13 anos e acreditar que ele vai resultar em algo. Colocar um creme no rosto todos os dias, isso sim é de uma esperança otimista extrema.
Que o mundo está mudando não podemos negar.
Minha esperança nessa mudança é que esse risco enorme para vida humana traga à tona o valor dessa vida.
Necessitamos um estado ético, equilibrado e atuante, de uma sociedade que entenda que o velhinho de 92 anos é tão importante como um de 62, ou alguém com 22. Pois o velhinho, eu, você e o jovem, pertencemos a uma categoria chamada seres humanos.
Adelson Cavalcante
Presidente da AJOP
Jornalista MTB 56.011/sp
Convido você a fazer um exercício criativo. Uma volta no tempo. Podemos começar com fevereiro do ano passado… quem imaginaria que passaríamos por tanta coisa neste relativamente curto espaço de tempo? Quem imaginaria que o planeta passaria por tantas mudanças, que viria uma pandemia como esta, que a máscara seria item obrigatório no nosso “look”, que as aulas seriam online, que nosso comportamento teria que se adaptar tanto. Que nosso emocional teria que se adaptar tanto.
Essa capacidade de adaptação, superação de adversidades para a sobrevivência tem nome: resiliência. Do latim Resilire, significa “voltar atrás”. Alguns também chamam de otimismo, mas eu prefiro pensar que é uma lição para o nosso crescimento. O benefício vindo da experiência do estresse torna o ser humano melhor que antes. Ou, pelo menos, é uma oportunidade para tal.
Um ano de nossas vidas, em que toda essa turbulência começou, que estamos aprendendo e já faz tanta diferença. Pego este exemplo porque é atual, grave e comum a todos nós, mas se pararmos para pensar na nossa trajetória individual, nem precisamos pegar exemplos tristes como este para termos a certeza de que somos vitoriosos, cada um à sua maneira, com suas experiências e ao seu tempo. Somos resilientes.
Para os mais jovens, hoje parece impossível pensar na vida sem internet, por exemplo. Para mim, a experiência com redes sociais se deu já na vida adulta. Na faculdade tive contato com o e-mail, com o telefone celular. Já meus pais viram nascer a TV, a TV em cores, o videogame e tantas outras inovações. Foi tudo muito rápido e eles aprenderam e se adaptaram.
Agora, imagine há 100, 90 anos. Imagine o que minha avó de 93 anos viu nesta Pindamonhangaba e neste mundão, todas as transformações e todas as adaptações que teve que passar. Ela sempre gostou de nos contar histórias de seu tempo de infância em Pinda. E nós, netos, nos deliciávamos imaginando como seria brincar subindo nos abacateiros, ficando pendurados somente pelos pés, brincando de “comadres” com as irmãs nos galhos das árvores. Vir para a “cidade” ainda criança da chácara (próxima ao bairro Morumbi) a pé para levar o almoço do meu bisavô na olaria, ali do lado do Bosque da Princesa, e depois subir a ladeira para estudar no “grupo escolar” – onde hoje é a E.E. Dr. Alfredo Pujol. E nadar nas poças de lama quando chovia, no caminho de volta para casa, ali na altura do atual supermercado Excelsior até onde foi a Casa Rabelo, sujando o aventalzinho branco, que era o uniforme escolar. Essas são somente algumas histórias que minha avó conta e que acabam por romantizar uma época que deve ter sido muito difícil – mas só deixou lembranças felizes.
Ela viu muita coisa acontecer, testemunhou muitas transformações na sociedade. Por exemplo, foi, com suas irmãs, das primeiras mulheres a usarem calças em Pinda, para facilitar o uso de bicicletas (o que causou, na época, polêmica até com o padre). Isso sem falar nas experiências pessoais e familiares. E está aqui hoje, linda, vitoriosa e vacinada!
Eu acredito que a lição que fica é esta: que podemos superar todos os momentos de dificuldades, por piores que possam parecer, com paciência, tirando o melhor de cada situação. Fazemos o melhor que podemos com as ferramentas que dispomos naquele momento. E seguimos em frente.