Nossa Terra Nossa Gente : O RIO DE MUITAS PEDRINHAS DE PAULO TARCIZIO

O menino nascido em Coruputuba (do tupi-guarani, rio de muitas pedrinhas), aos 14 de junho de 1947, filho de Francisco Fonseca Marcondes e de Maria Tereza da Silva Marcondes, tem escrito com a sua vida de professor, poeta, cronista, declamador, artista plástico, advogado, um dos mais célebres capítulos das páginas literárias da história de Pindamonhangaba.
Paulo Tarcizio publicou Terra Vegetal (1997) e Aconteceu na Escola (2012), livros em que reúne poemas e crônicas do seu tempo de aluno, de professor e de gestor educacional. Neles, o escritor nos dá a mão e nos convida a visitarmos as lembranças mais significativas de sua história pessoal e profissional, de modo especial, histórias que o educador viveu com seus alunos e colegas de trabalho e, por ora, gentilmente partilha com os amigos e os leitores de suas obras.
Através de seus versos e de suas memórias, ele abre portas e janelas de sua “eterna casa de meninos”, habitada pelo amor e pela luta de seus pais e de seus oito irmãos para nos revelar: a sua infância precocemente interrompida pela morte do pai; os embates travados pela mãe e irmãos mais velhos em prol do sustento da família e dos estudos dos irmãos menores; dos méritos escolares e das primeiras colocações profissionais dos irmãos Marcondes.
O “menino da roça” nos conta que “de manhã, cuidava das cabras, dos porcos… à tarde, estudava Latim com o Prof. Alexandre, Geografia com o Prof. Jofre, Desenho com o Prof. Milad, Frances com o Prof. Mário, Música com a Prof. Cinira…, no GEEN João Gomes de Araújo.” Esse contador de histórias nato nos oferta um retrato poético da fábrica de papel da Companhia Cícero Prado e de seus funcionários, da venda e da farmácia, da igreja e da escola, bem como das casas e das ruas de eucaliptos que até hoje permanecem incólumes na lembrança do jovem poeta que nasceu e viveu na Coruputuba até ingressar como professor primário numa escola em Caraguatatuba.
Muito recentemente, em sua página do Facebook, uma outra janela desse seu genuíno amor por sua terra nos tem sido revelada através das Artes Plásticas. Em quadros de óleo sobre tela, dia após dia, Paulo Tarcizio posta e comenta o seu processo criativo. O talentoso artista encontrou na paleta de cores de suas lembranças um outro modo de poetizar “a tarde de sábado em Coruputuba” e outros retratos de sua caixinha de memórias.
Também quero enfatizar outro talento artístico do Paulo Tarcizio que muito me impactou no dia em que nos conhecemos. Aquele homem de cabelos grisalhos, com sua voz melodiosa, silenciou a plateia ao declamar o poema O operário em construção, de Vinícius de Moraes. Ficamos enredados pelos versos do longo poema que, um a um, eram pronunciados de cor, pois grafados estavam no seu coração. Nem preciso dizer que, daquele dia em diante, tornei-me sua fã e, no afã de conhecer sua poesia e sua escrita, encontrei seus livros e, também, o seu blog paulotarcizioblogspot.com.br, que indico a todos.
Na esfera profissional, Paulo Tarcizio constituiu um expressivo currículo, ora como professor, ora como gestor em escolas de Caraguatatuba, São José dos Campos, Jacareí, Santa Branca e Pindamonhangaba. Na educação de crianças, de jovens e de adultos está fincada a sua memorável bandeira de educador, tecida com fios de sua competência profissional, de sua humanidade, de sua irmandade, de sua poesia. Das primeiras letras ao ensino superior, o professor Paulo Tarcizio é sempre lembrado como um ponto de luz na memória de seus alunos. Além da graduação em Pedagogia, também concluiu o curso de Direito e atua como advogado desde 1999.
Na esfera pública, ressalto que Paulo Tarcizio foi Diretor do Departamento de Cultura (2005 – 2008) e Diretor do Patrimônio Histórico de Pindamonhangaba (2009 – 2012). É membro da Academia Pindamonhangabense de Letras e da União Brasileira de Trovadores e, em todas as instituições em que o nome ‘Paulo Tarcizio da Silva Marcondes’ está estampado, sabemos de antemão que nelas há um pindamonhangabense que enaltece a cultura de sua terra natal.
Só na foz do rio é que se ouvem os murmúrios de todas as fontes, diz Guimarães Rosa. Confesso a vocês que os poemas, as crônicas, os contos, os quadros de Paulo Tarcizio têm me conduzido à fonte de amor, esperança e coragem, hoje tão imprescindíveis à humanidade. Por isso, nossa terra, nossa gente saúda o menino poeta de Coruputuba que, ao escrever seu primeiro poema aos 12 anos, não poderia imaginar que pela vida inteira iria garimpar a sua poética de existir no seu rio de muitas pedrinhas…

LIÇÃO DA MATA

O que eu sei, ensino. O que não sabia
aprendo, para depois repartir: semeio
colho, ajunto. Somar! Porém, depois,
dividir…

– Doar, dar o que de melhor eu conquistei!

Esta lição da mata, dos troncos poderosos
que concentram seiva, crescem,
apenas para séculos depois se deitarem,
partilhando com outras raízes sua essência vital
transfeita agora em serragens, musgos, liquens,
terra vegetal.

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