História : O sensacionalismo na Tribuna de antigamente
Em tempos difíceis de pandemia – que já vai passar – a edição de hoje traz de volta a página de história. Dizia o historiador e poeta pindamonhangabense Waldomiro Benedito de Abreu: “As sociedades progridem tanto mais quanto mais conhecem sua própria história”. Acrescentamos, é mais sábio aquele que não só cultua a história de sua terra, mas dela conhece as lendas, os causos, suas ruas, seu rio, suas praças, além dos seus feitos e fatos. Enfim, cultuam e preservam sua memória. As “tradições que nos orgulham, contadas por nossos pais”, lembrando aqui o verso extremamente feliz do jornalista poeta fundador deste jornal, João Romeiro, ao elaborar o belo Hino Pindamonhangabense.
No limiar de sua trajetória secular, assim como todo jornal interiorano da época, a folha liberal do Dr. João Romeiro não se limitava em noticiar somente o município no qual se encontrava estabelecida, nem havia condições para que assim o fosse. Nesse tempo, o espaço destinado ao noticiário divulgava notas referentes a acontecimentos curiosos, interessantes ou importantes, não se importando onde teriam ocorridos; se próximos ou distantes; se nacionais ou internacionais. Destacava-se nesse tipo de divulgação, esse gênero que sempre atraiu o leitor: o sensacionalismo! O exótico, misterioso ou chocante tinha espaço garantido no jornal e na preferência dos leitores.
Para obter material para atender essa finalidade, serviam-se os responsáveis pelas edições da Tribuna, na maioria das vezes, de publicações provenientes de outros periódicos. Pesquisando o arquivo do jornal, reunimos algumas notas do gênero para os nossos leitores.
Jack, o estripador
Essa saiu na edição TN de 30 de abril de 1893…
“Se é verdade o que referem os jornais estrangeiros, Jack, o estripador, não era um mito, pois que sua morte acaba de ser anunciada por alguns jornais do País de Galles.
Estas folhas referem que um indivíduo mal trajado penetrou no estabelecimento de uma florista de Montemouth, a quem pediu esmola.
Como a florista hesitasse, o mendigo disse:
– Chamo-me Jack, sou o mesmo que me alcunharam com o apelido de estripador.
A florista deixou cair um ramo por acabar, tão trêmula e surpreendida ficou.
Em seguida, principiou a gritar, atraindo os seus gritos numerosas pessoas que imediatamente correram ao encalço do terrível mendigo; este, vendo-se perseguido, lançou-se ao rio Wyse, onde se afogou por não saber nadar.”
Esse foi o fim do temido “Jack, o estripador”, conforme noticiaram os jornais do País de Galles e foi reproduzido pela Tribuna, edição acima citada.
Nota. O País de Gales é uma das quatro partes do Reino Unido, um país da Europa ocidental. As outras três partes que compõem o Reino Unido são a Inglaterra, a Escócia e a Irlanda do Norte. O povo do País de Gales é o galês, e sua língua específica tem o mesmo nome. Na língua galesa, o nome do País de Gales é Cymru.
Mãe mata filho por moedas de ouro
A Tribuna do dia 30 de julho de 1893 trouxe essa comovente nota…
“Depois de 16 anos passados na América do Norte, regressou ultimamente a Witelbbourg, Austria, o filho de um aldeão.
Este não tivera notícias do ausente durante aquele longo período. O jovem apresentou-se a seus pais sem lhes dizer quem era, e mostrou-lhes o produto das suas economias e trabalhos, 600 libras esterlinas em ouro que trazia guardadas em um saco de lona.
O pai reconheceu imediatamente o filho, mas querendo dar a sua mulher uma surpresa agradável, ocultou-lhe a notícia. A mãe não imaginou sequer quem pudesse ser o forasteiro.
Chegou a noite a mulher, enlouquecida pela vista daquele ouro, para ela pouco habituada a vê-lo, pois representava uma fortuna, levantou-se do leito à meia noite, atravessou cautelosamente a habitação que a separava do hóspede, chegou ao quarto deste, viu que dormia, aproximou-se do leito armada de uma navalha e, vibrando-lhe na garganta um golpe terrível que o deixou morto, apoderou-se logo do ouro e ocultou-o debaixo dos colchões de sua cama, na qual se deitou tranquilamente depois de ter praticado o crime.
Quando na manhã seguinte soube pela boca de seu marido que assassinara seu filho, caiu como ferida por um raio aos pés do infeliz velho”.
Sono que mata
É da edição do dia 8 de fevereiro de 1903 essa curiosa notícia sobre uma não menos curiosa doença que acontecia em Uganda…
“Uma moléstia esquisita e nova está grassando atualmente na África, o sono mortal.
A pessoa adormece sem sofrimento aparente entregue a um sono letárgico, do qual não acorda mais.
A epidemia começou em Uganda, causando ali 20.000 vítimas. Desenvolve-se agora na região do lago Victoria e ganha progressivamente as regiões vizinhas do Oceano Índico.
Uma comissão médica, incumbida de estudar o novo flagelo, acredita que esta moléstia singular tenha como origem o micróbio.”
Escola de macacos
Ainda pelo ano de 1903, o jornal do dia 16 de agosto trouxe a nota sobre uma escola para alunos não humanos.
“Acaba de abrir-se em Calcutá uma escola de macacos. Efetivamente, certos sábios adquiriram a convicção de que os macacos possuam uma inteligência embrionária, que se poderia desenvolver, transformando-os em seres relativamente instruídos.
Sabe-se que o professor inglês Gamer estivera fechado 18 meses numa jaula, no meio de macacos e que concluíra os seus estudos pela possibilidade de desenvolver algumas de suas faculdades.
A educação dos macacos de Calcutá faz-se de uma maneira muito simples. Ensinam-se-lhes a ler e a contar por meio de tubos de madeira pintados em cores vivas e tendo em cada uma das seis faces letras e algarismos.”
Nota. Calcutá (Kolkata) é uma das maiores cidades da Índia. É considerada a capital cultural.