Vanguarda Literária : O TEMPO
O TEMPO é um assunto que exerceu, ao longo dos tempos, uma poderosa atração, diria verdadeiro fascínio, sobre os filósofos e homens de letras. Se lermos “Em busca do tempo perdido”, do escritor francês Michel Proust, observaremos que nesse portentoso monumento literário, as suas ideias sobre esse assunto são simplesmente brilhantes.
Machado de Assis escreveu: “O tempo é um tecido invisível sobre o qual se borda tudo: uma flor, uma dama, um túmulo.Também se borda nada”. Para Pitágoras, o tempo “é a parte mensurável do movimento”; já Platão, considerava que “ele é a imagem móvel da eternidade”. O físico Newton o dividia entre tempo absoluto e relativo; entretanto, Santo Agostinho via no tempo o “significado da própria alma que se extende para o passado e o futuro”. Camões, o grande vate da nossa língua, desejava liricamente: “que nunca o breve tempo fuja da tua formosura”.
Afinal, o que é o TEMPO? Uma época, uma medida? Um intervalo? Uma duração limitada? A sucessão dos dias? Tudo isso e muito mais! Existe o tempo das águas, o tempo das secas, o tempo astronômico, o tempo presente, o tempo perfeito, o tempo passado, o tempo futuro, o tempo da infância, e até falta de tempo. E, mais ainda: o tempo é a divisão do compasso musical, as divisões dos versos de acordo com as sílabas e os acentos. Ser de seu tempo é ser atual, sem esquecer que há tempos remotos, tempos da história e tempos da mitologia.
O TEMPO é a consciência de estarmos vivos e pensarmos nos mortos. É cada palpitação do nosso músculo cardíaco, é o ritmo das nossas funções orgânicas, a destreza dos nossos pensamentos, a nossa incrível capacidade de adaptação ao meio; medido no relógio, são os segundos, os minutos, as horas, os dias, as semanas, os meses, os anos, os séculos, por fim a eternidade. Fugidio é impenetrável ele passa rápido nos momentos alegres e muito devagar os momentos de sofrimento. Para o filósofo alemão Martin Heidegger, em sua grande obra: “Ser e Tempo” ele é o tempo ontológico, existencial, experienciado, vivido.
E o TEMPO marcha célere! Marcha inflexível e eterna! Nada detém essa progressão! Cecília Meireles, nossa inesquecível poetisa, registra, com profunda sensibilidade e maestria esse tempo que corre:
“Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio amargo.
Eu não dei por esta mudança ,
tão simples, tão certa, tão fácil ;
-Em que espelho ficou perdida a minha face?”
Quem é esse espelho, senão o tempo que guarda a nossa face? Segundo filósofo Bergson, ele encerra essência da vida talvez de toda eternidade.
Para finalizar essas rápidas reflexões sobre o TEMPO, na minha rogativa de poeta, envio a Deus que tudo pode, quando contemplo tempos atuais de tanta violência, tempos do império da tecnologia cruel e fria, que nos mande novos tempos, mais fraternos e mais humanos!