Proseando : Onde está Precioso?

Precioso é o gato de uma amiga, desaparecido nas imediações da Rua Campos Sales. Tem a pelagem tigrada, está com coleira branca e só come ração específica devido à insuficiência renal. Se você souber do paradeiro dele, favor enviar mensagem ao meu WhatsApp: 99735 0611.

Desde a tenra idade a menina possuía inteligência e sentimento fora do comum. Com sua vozinha doce, muitas vezes contrariava a cartilha da sociedade e deixava os adultos sem resposta.

A meninatinha um gatinho cujo nome era Precioso. Com ele brincava, ria, deitava-se para assistir aos desenhos. Aonde fosse ela o levava.

Certa vez, antes de abrir a porta para ir à escola, a menina foi surpreendida pela mãe.

— Cadê o Precioso? Você não vai pedir pra eu cuidar dele hoje? Todos os dias você entrega ele pra mim, esqueceu?

— Ah, mãe. Ele tá grandinho. Vamos deixar ele se virar sozinho.

A mãe estranhou. Estranhou mais quando percebeu movimento dentro da mochila.

— Filha, você está levando o Precioso com você?

A menina não teve como negar.

— Vai levar bicho na escola? Não pode!

— Ele não é bicho, mãe. É meu irmãozinho. Quer saber? Bicho é melhor do que muita gente. Outro dia a senhora esqueceu de dar comidinha pra ele. Quando cheguei ele tava morrendo de fome.

A mãe prometeu que não se descuidaria mais. Precioso sofria de insuficiência renal e só podia comer ração apropriada.

Semanas depois, aos primeiros raios de sol coados pela veneziana, a menina acordou e estranhou: Precioso não estava na cama. Levantou-se, procurou no quarto todo, debaixo da cama e nada. Procurou pela casa toda e nada. Armou um berreiro. A mãe veio acudi-la.

— O Precioso sumiu, mãe!

—Tenha calma, filha. Daqui a pouco ele aparece.

Não apareceu. 

Dias depois, a vizinhança estava sabendo do desaparecimento.

— Como é o Precioso? Quais as características? Fica mais fácil pra gente encontrar ele.

— Ah, ele tem pelagem tigrada, é castrado e está usando coleira branca.

— Qual a raça dele?

—Sem raça definida.

— Vira-lata?

A menina se irritou com a vizinha.

— Vira lata uma ova. A raça dele é felina. Que mania que as pessoas têm de classificar o que não é para classificar.

Em seguida, analisou a vizinha da cabeça aos pés e falou:

— A senhora, por exemplo, é vira-lata? Não é, né. A senhora pertence à raça humana. Aprendeu?

Infelizmente, até o momento, Precioso não foi encontrado. São Francisco de Assis continua procurando por ele a fim de estancar as inundações nos olhos da menina.