Proseando : PESADELO TUPINIQUIM
O indiozinho foi caçar longe da aldeia e acabou se perdendo na floresta. Mas não se preocupou, pois sabia a língua dos bichos e, por isso, poderia pedir informação e voltar assim que desejasse.
Saboreando a manobra do destino, atravessou um riozinho, caminhou entre helicônias e alamandase resolveu se deitar na relva para ouvir o canto dos passarinhos. Deitou-se, fechou os olhos e a única coisa que ouviu foi a voz fraquinha das águas do rio.
—Não ouço gorjeios, sibilos, zumbidos, uivos. O que está acontecendo?
Ele se levantou e adentrou ainda mais na floresta, onde, depois de alguns minutos, encontrou um muriqui sentado, de costas, nas raízes de um ingazeiro. O macaco chorava.
—Chora, não, meu amiguinho. Eu estou aqui. Conta pra mim o motivo de seu choro.
Assim que se colocou na frente do muriqui, o indiozinho se indignou:
—Que mordaça é essa? Quem a colocou? Pra quê? Por quê?
O indiozinho se aproximou para retirar o pedaço de pano; entretanto, o macaco correu e desapareceu na mata. O indiozinho correu atrás até chegar numa lareira, onde estavam outros bichos, também amordaçados.
— Por Tupã! O que está acontecendo aqui?
Antes que algum bicho se arriscasse a responder, o chão tremeu. Era o sapo barbudo acompanhado pela compridíssima minhoca albina de sobrancelhas grossas, ambos ladeados por uma vintena de orangotangos.
—O indiozinho está querendo saber o que está acontecendo aqui? Nada e tudo! Saiba que aqui, quem manda sou eu!
Eles já sabem que quem fala o que não quero, tem a boca amarrada. E enquanto não aprenderem a se comportar do jeito que eu quero, terão somente uma refeição dia sim, dia não. Sopa de pedra.
Sem titubeio, o indiozinho pegou o arco e entesou uma flecha, mirando-a no sapo. Porém, antes de desferi-la, foi imobilizado por um dos orangotangos.
— Me larga! Me larga! Me larga!
Enquanto berrava, a minhoca aspergiu nele uma gosma que o transformou em porquinho. O indiozinho, ou melhor, o porquinho começou a berrar mais forte, mais forte até que…acordou e encontrou a mãe ao lado da rede. Ela o abraçou e o pegou no colo.
—Foi um pesadelo, meu filhinho.
Assim que se acalmou, contou a mãe os detalhes do pesadelo.
— Mãe, por favor, não deixe isso acontecer.