Editorial : Pesquisar para desenvolver
Vemos nesta edição da Tribuna, uma matéria falando sobre os bons resultados apresentados pelo Instituto Butantan em relação à vacina do Covid 19. Com vários estudos clínicos de fase 3 avaliando candidatos à vacina contra o coronavírus, cresce a expectativa por resultados positivos e se fortalece a visão de que as vacinas deveriam ser tratadas como bem público global.
A emergência da Covid-19 alavancou o financiamento para a pesquisa e desenvolvimento global, com grande protagonismo dos governos. Porém, a análise a posteriori mostra que parte dos esforços foi desorganizada e concentrada em torno de poucas alternativas. Inúmeros pequenos estudos conduzidos de forma isolada se mostram ainda incapazes de gerar informação de qualidade para guiar a tomada de decisão.
No caso do Brasil, o montante público investido em pesquisa e desenvolvimento para Covid-19, por volta de US$100 milhões, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), ficou bastante aquém dos países desenvolvidos e da demanda da comunidade científica local.
Embora o país tenha expertise histórico no desenvolvimento e na produção de vacinas, ainda carece de uma estratégia consistente e cientificamente embasada de enfrentamento à pandemia. Nesse cenário, é crucial reivindicar melhor coordenação estratégica e, sobretudo, maior transparência acerca dos investimentos e custos envolvidos no processo. Vacinas e medicamentos produzidos com recursos públicos, ainda que em parceria com a iniciativa privada, devem ser eficazes, seguros e disponibilizados à sociedade de maneira acessível.
Modelos de pesquisa e desenvolvimento colaborativos e focados nas necessidades dos pacientes já existem e tem se provado eficientes. Os resultados sucessos recentes, ainda que não definitivos, mostram que a parceria entre governos, academia e indústria pode acelerar o progresso da ciência e ampliar o acesso aos tratamentos.
Uma lição precisa ser aprendida: pesquisa e desenvolvimento robustos, colaborativos, transparentes e focados nas necessidades dos pacientes não é apenas possível, mas é provavelmente a melhor estrutura para garantir que os resultados sejam gerados de forma rápida e eficiente.