História : Pinda antiga: no tempo do Eden Cinema
Recordamos o histórico Eden Cinema ou Cine Eden (já lembrado por está página em outras edições). Esse cinema era, na verdade, uma casa de espetáculos que, além de local de exibição das fitas cinematográficas da época, servia de auditório para a realização de eventos culturais e de salão para bailes carnavalescos com suas divertidas batalhas de confete e serpentina.
Primeiro cinema de Pinda, o Eden se localizava ao lado da Praça Monsenhor Marcondes, na avenida Jorge Tibiriçá, espaço que passou a ser ocupado pelo edifício da Caixa Econômica Federal. Nossas lembranças deste “paraíso” dos momentos de lazer dos antigos pindamonhangabenses, hoje dizem respeito ao aspecto comportamental com certa dose de bom humor.
Iniciamos comentando um artigo, “garimpado” na edição de 15/9/1921 da Tribuna do Norte. Refere-se à barulhenta forma de vibração daqueles que iam ao cinema e torciam pelos “mocinhos” da fita.
O artigo em questão era intitulado “Assuadas no Cinema”. Aqui, acreditamos, tenha sido exagero, haja vista o primeiro significado desta palavra: ajuntamento de pessoas armadas para fazer desordem. Para nós, cem anos depois, não passava, e na atualidade assim continua sendo, de escarcéu provocado pela satisfação do público diante de situações em que “o bem vence o mal”.
O cronista da Tribuna ao se referir aos barulhentos do cinema, assim iniciava seu artigo: “É lamentável o fato, cena ou que outro nome tenha, o que se presencia e se ouve no início e mesmo durante a passagem dos filmes na tela do Eden Cinema, e tanto mais lamentável e até deprimente dos nossos foros de civilizados, quando é certo que fazendo coro com os moleques engrossam-lhes a algazarra, pessoas, aliás, de certo conceito ou pelo menos que o deve merecer”.
E continua: “É frequente naquela casa de diversão promoverem grande assuada cada vez que na tela se anuncia um ator de valor a tomar parte no filme ou quando neste, em dado momento, parte um socorro para quem numa luta feroz ou num perigo iminente, está prestes a ser vencido ou a sofrer um desastre”.
Para o redator da Tribuna, que embora também acreditasse fosse uma das múltiplas formas de manifestação de aplauso, era um procedimento de muito mau gosto. Perturbava as famílias presentes ao espetáculo. Era um comportamento negativo diante dos visitantes de outras cidades.
“É estardalhaçante aquela manifestação assim feita com gritos entontecedores e assovios agudíssimos, que num conjunto poem em polvorosa os nossos tímpanos”, destacava o redator.
Para o articulista, “Aplausos que tanto perturbam assim, deixam de ser aplausos para se alojarem no terreno da vaia e esta disvirtua do fim colimado e aberra da natureza de uma manifestação de simpatia”.
E pedia: “Aplaudam com palmas, forma de manifestação que cabe mesmo dentro do salão o mais aristocrático e bem assim consentânea com a educação e civilidade de um povo”.
E pedia: “Apelamos, portanto, para os promotores das assuadas a que mudem o sistema de aplausos e estaremos satisfeitos e conosco a parte sensata, ordeira e civilizada da assistência e quiçá da população desta cidade”.
O filme que só acabou no outro dia
Esta veio na edição de 14/8/1924 da Tribuna. É sobre uma sessão de cinema cujo final só aconteceu no outro dia… “O espetáculo de um dos nossos cinemas, em a noite de domingo para segunda-feira, terminou a 1 e meia hora da madrugada! O fato merece reparos e comentários”.
Veio o articulista da Tribuna comentar: “O regulamento policial comina-lhe multa. Pena essa, aliás, justíssima, pois a tolerância da falta daria lugar a inconveniências: o sossego público desapareceria para os que se deixassem ficar em suas casas…”
Em sua crítica, o jornal mencionava até os tempos coloniais, recordando quando: “… para se aguentar a estopada de um dramalhão de capa e espada, em 7 atos, as mucamas levavam ao teatro frango assado, empadinhas, lombo de porco, içá torrado, moqueca e outros quitudes no gênero, com que os sinhôs e as sinhás forravam o estômago nos entre atos, atras dos camarotes”.
Com certa ironia, lembrando que já ia longe o tempo de espetáculos como o do “Lambe Feras” e do “Judeu Errante”, o jornal concluia seu artigo apelando até para uma intervenção policial. Citando o delegado na época, Dr. Eduardo Tavares do Carmo, no qual acreditavam que tomaria “… para tal descalabro as medidas que tem a mão, muito embora se aleguem imunidades político-jurídico-procuratoriais municipais”.