Nossa Terra Nossa Gente : PINDAMONHANGABA, HINO DE AMOR
No pátio da EE “Miguel Pereira”, leio com a dificuldade própria das crianças que estão sendo alfabetizadas, aquele nome “monstruoso”na placa do carro da professora do ginásio: PINDAMONHANGABA – SP. Os demais professores da escola eram de municípios circunvizinhos à São José do Barreiro (Areias, Silveiras, Bananal, Queluz, Cachoeira Paulista, Cruzeiro) ou residiam na cidade. Só D. Therezinha Piorino vinha de tão longe, de Pindamonhangaba! Sentada no topo da escada, sempre esperava por sua chegada. Ela tinha um fusca e era a única professora que vinha dirigindo o próprio carro. As demais, vinham de Pássaro Marron. Naquela época, era muito raro uma mulher dirigir e, ainda mais, deslocar-se sozinha.
No mapa do Estado de São Paulo fixado na sala de aula, fui procurar onde Pindamonhangaba se localizava. Era um lugar mais distante do que Aparecida, naquela época, uma referência de distância devido às romariasa pé ou de caminhão. Entretanto, por mais que aquela menina de sete anos pudesse imaginaronde estava localizada e como seria Pindamonhangaba, jamais poderia sonhar que aquela professora e a sua Pindamonhangaba fariam parte de cenários inesquecíveis de sua vida futura.
Na verdade, quem me presenteou com Pindamonhangaba foi minha filha Marina. Ao ser agraciada com a medalha de ouro na Ginastrada Paulista de 2009, foi convidada para integrar a Equipe de Ginástica Rítmica e Desportiva de Pindamonhangaba. Nem pensei duas vezes: viemos! Para nossa surpresa, Pindamonhangaba era muito mais linda e maior do que o seu nome outrora me expressara.
Desde a entrada, os que aqui chegam são agraciados com uma vista panorâmica inesquecível das montanhas da Serra da Mantiqueira que abraçam a cidade. Elas nos dão as boas-vindas! Eu sempre fico em estado de contemplação diante da grandeza desse maciço montanhoso! Atravessamos a extensa avenida com a sensação de que também somos abraçados por este bondoso gigante azul e, por ele, conduzidos à Praça Monsenhor Marcondes – arborizada e florida! – e, também, ao percurso de encantamento por esta “fecunda terra, habilitatis et sapientiae”: As casas de comércio, a Matriz de Nossa Senhora de Bom Sucesso, o Palacete 10 de Julho, o Museu Histórico e Pedagógico D. Pedro e D. Leopoldina, o Bosque da Princesa,o rio Paraíba… Tanta riqueza histórica, arquitetônica e natural Pindamonhangaba nos apresenta além do seu casario e de seus casarões, das estradas que nos conduzem à sua magistral zona rural e aos seus 99 bairros (www.mbi.com.br), das paisagens bucólicas do percurso ferroviário da Estradinha de Ferro Campos do Jordão e de tantos outros caminhos visíveis e invisíveis estampados no álbum de retratos de seus 313 anos.
De todas as belezas de Pindamonhangaba, suas igrejas e capelas compõem cenários inesquecíveis de minhas mais ternas lembranças. Também aprecio suas praças e, de modo especial, uma manifestação pública que nunca vi em nenhuma outra cidade do Vale do Paraíba: em cada uma delas há um monumento a um santo. Independentemente de credo, bendigo os mentores de singular homenagem. Na verdade, a história de vida dos homens e mulheres que alcançaram realização divina, nos encoraja a amar a vida, amar os outros, amar a terra em que nascemos/vivemos com o que há de mais precioso em nós.
E o que há de mais precioso em Pindamonhangaba são as pessoas! Nesta terra encontrei grandes amigos, grandes irmãos. Reencontrei D. Therezinha Piorino e visito-a com frequência. Aprecio sua arte em porcelana, suas plantas e uma boa prosa com seu esposo, Dr. Francisco Piorino, amigo muito querido e confrade na Academia Pindamonhangabense de Letras! Foi num dia desses, após uma visita à casa deles que, com emoção, botei reparo na placa do meu carro: PINDAMONHANGABA – SP. Confesso: foi difícil conter a emoção!
Aquela menina de outrora aprendeu a soletrar o grandioso nome da cidade natal da professora de Biologia com as letras do coração. Hoje, Pindamonhangaba não é mais um ponto no mapa, mas a sua casa, o seu jardim florido, a sua praça de amigos, a sua escola, o seu tesouro infindável de poesia, de História e de histórias que ela coleciona com zelo e gratidão. Hoje, Pindamonhangaba é o cenário cotidiano de sua vida de escritora, terra prometida e a promessa grafada com sua caligrafia de menina nos maciços azuis da Mantiqueira: “Pindamonhangaba, hino de amor!