Lembranças Literárias : Quadro Roceiro
Cantando à viola, tristonho,
o pobre do bom caipira
evoca o perfil risonho
da filha do Sucupira,
linda morena que vira,
num samba, como num sonho…
E, enquanto em mágoas se embuça
seu coração sofredor,
lhe geme o peito e soluça
a viola versos de dor,
e o sofrimento lhe aguça
a lembrança desse amor.
E mergulhado em seu pranto,
soluça. A ouvi-lo cantar,
parece que no seu canto
se lhe esvai a alma a sangrar,
tanta é a dor que o punge tanto,
tão cruel é a dor de amar.
“- Ai! nunca ela será minha,
nem eu nunca serei dela,
que a diaba dessa santinha
já é noiva do Varella
que, aindaa por ventura minha
morrerá de varicela…”
Cessa o caboclo a canção…
De novo, enfim, por ouvi-lo,
Me esforço…
Na solidão,
o dia expira tranquilo,
enquanto além de um grotão,
desferindo o seu rosário
de mágoas, vem-me num trilo,
na voz de uma alma que chora,
a reticência sonora
de um inhambú solitário…
Cesidio Ambrogi, Tribuna do Norte, 22/11/1923.