História : Quando a Tribuna se tornou Republicana
Em 1882, quando ainda imperava no Brasil o monárquico regime, a Tribuna do Norte publicava em sua edição de 3 de setembro daquele ano um poema intitulado “Sonho de Tiradentes”, cuja autoria é creditada a V. Lima (desconhecemos qual o nome que está abreviado pela letra “V”). A composição poética é dedicada ao pindamonhangabense, Dr. Rodrigo Romeiro (1864/1952), um dos sócios fundadores do Clube Republicano instalado em Pindamonhangaba em 29 de julho de 1888. A publicação é prova de que a Tribuna, além de abolicionista era pela república, pelo fim do Brasil Império.
Sonho de Tiradentes
(a Rodrigo Romeiro)
O povo gera nas ruas
Em seu saudoso turbilhão;
Por entre nuvens de fumo
Fuzila a troa o canhão!
O tropel dos regimentos,
O retinir das espadas,
As espadas de sangue,
Que saltam das estocadas,
Dizem que o povo acordou-se
De seu letargo profundo,
Que vai findar o flagelo
Trazido do velho mudo!
Ai! Portugal desditoso,
Que o martírio nos legaste,
Que as cortes corrompidas
Para este lado passaste!
Teu rei fugindo apressado
Das divisões de Junot
A honra, o pudor, o brio
Nas tuas praias deixou,
E para as bandas formosas
Do malfadado Brasil
Trouxe o que era abjeto
Nojento, sórdido e vil!
Povo, derruba esse trono
Onde a perfídia se assenta,
Repara que a monarquia,
Do teu sangue se alimenta;
Rompe auriverde bandeira
Que só traduz servilismo,
Hasteia novo estandarte
Que simboliza civismo!
Povo, acordaste tão tarde,
Mas inda é tempo – adiante…
Sepulta sobre os escombros
O teu passado aviltante!…
E dizes aos povos do Norte:
“Eis nos enfim libertados!”
E aos povos do Sul repete:
“Eis nos agora irmanados!
Que não vinguem monarquias
Nos climas americanos,
Sim, agora sois livres
E todos – republicanos!”
Sem fuzilar de canhão, sem o retinir das espadas de sangue, este ideal haveria de se concretizar sete anos depois, com atransição do regime monárquico para o republicano.
Uma edição especial da Tribuna, datada de 28 de novembro de 1889, na época tendo como diretor Américo José de Faria, foi inteiramente dedicada ao acontecimento. A primeira página, com destaque para a identificação: “Folha Republicana – Publica-se aos domingos”, foi aberta com o editorial (certamente escrito pelo seu fundador, Dr. João Romeiro) denominado: “A Pátria Livre”, artigo assim iniciado:
“Viva a República!
Depois de extraordinários acontecimentos que se passaram no país, e determinaram a queda da monarquia, nada mais resta aos que se acostumaram a ouvir a voz do puro patriotismo, e compreendem que a situação em que nos achamos, senão saudar, com entusiasmo e fé, o futuro da pátria que se engrandeceu iluminada pelo sol da liberdade.
Viva a República! Viva a Pátria!
“E como duvidar? E como não confiar no governo do povo pelo povo, que é justamente o que agora se inaugura?
“Haverá por ventura alguém que possa desejar mais, que possa promover com mais esforço e eficácia o engrandecimento e prosperidade da Nação do que a própria Nação?”
Aquele impetuoso editorial deixava claro o descontentamento com a monarquia praticada no Brasil: “E se não formos tão felizes como desejamos, se não pudermos como queremos, alcançar todas as conquistas a que nos dão direito, a nós, filhos do povo,as nossas intenções puríssimas, e o muito amor que consagramos a nossa terra temos firme convicção de que, por maiores que sejam os erros da República, não serão eles mais fatais aos nossos grandes destinos, do que a política que estavam a fazer os velhos partidos monárquicos…”
Enaltecendo a nova forma de governo, revelava o impetuoso artigo o descontentamento que há muito vinham os republicanose conclamando patriotismo, sabedoria e prudência naquilo que considerava o articulista, o próximo passo, a parte principal da obra: “o penoso trabalho da reorganização política do país”.
Uma ‘princesa’
favorável à República
Pindamonhangaba, que em 1705 fora emancipada pela rainha Dona Catharina com o título de Villa Real de Nossa Senhora do Bom Sucesso e, em 1860, havia sido homenageada pelo poeta Emílio Zaluar com o título de “Princesa do Norte”, foi favorável à queda da monarquia. Isso ficou registrado na edição da Tribuna do dia 28 de novembro daquele ano.
Inicialmente, a citou os telegramas recebidos às 21 horas da noite do dia 15 de novembro de 1889, dizendo: “República proclamada. Parabéns!”.
Em princípio houve certa descrença diante de “tão extraordinária notícia”, mas pouco depois, outro telegrama narrava com particularidade o que havia se passado. Na manhã do dia seguinte, 16 de novembro, não se falava em outra coisa. Com ansiedade, era grande o número de pessoas que aguardavam a chegada do trem das 10h18 com os jornais da capital.
Era verdade! Com a chegada dos jornais, dissiparam-se todas as dúvidas. “Muita gente receou que essa comoção social abalasse profundamente o país, mas do imperador, da família imperial, ninguém se lembrou”, destacou o articulista da Tribuna para, em seguida, dar a sua explicação para esse fato: “É que no Brasil todos toleravam a monarquia, mas ninguém era monarquista de coração”.