Lembranças Literárias : Quero-te assim
Quero-te assim, despida de re ndados,
sem espartilho, pálida cecém.
Sem as cadeias que a riqueza tem,
fúteis, lambendo traços delicados!
Tira as pulseiras de ouro, essas serpentes
fulvas! Quero-te os braços livres, soltos!
Deixa a fita cair! Caiam revoltos
os fios negros dessas tranças quentes!
Assim! Quero-te assim, livres de peias
os braços brancos e a cintura fina!…
Quero beijar-te a boca purpurina,
sentir pulsar teu sangue em minhas veias!
Quero-te assim, (desapareça o pejo!)
nas costas solto o cabelo lindo,
os braços nus, vermelha a boca, rindo,
provocando a explosão do meu desejo!
És linda, flor! Do céu és a rainha,
e dos astros que brilham no infinito;
trazes na boca todo um poema escrito,
pomba de amor, ó prófuga andorinha!
Quero te assim, assim durante a vida,
em negros fios o cabelo solto,
e o corpo todo, todo em gaze envolto,
envolto em gaze por um deus tecida!
Quero-te assim eternamente, ó flor!
Mostrando as linhas do teu corpo, e cheios
de vida, arfando, os dois virgíneos seios,
– Taças de neve a transbordar de amor!
Freitas Guimarães, Folha do Norte, 18 de junho de 1911