História : Recordações da Pinda antiga: o delegado Barbosa
História desta edição recorda um fato envolvendo um delegado de polícia da Pindamonhangaba das primeiras décadas do século XX. A população, segundo o jornal Tribuna do Norte, andava descontente com o trabalho do homem da lei responsável pela segurança do município. Daí a causa da agitação provocada na pacata cidade.
Era o ano de 1917. Em Pindamonhangaba a atuação do delegado Dr. Barbosa Lima, vindo de São Luiz do Paraitinga, era questionada por este jornal porque naquele momento estaria a desagradar os munícipes.
Sobre o acontecimento, assim se posicionou o jornal em artigo publicado em sua edição de 27 de maio daquele ano:
“Pela manhã de anteontem fomos surpreendidos com o movimento anormal que se notava pela ruas da cidade, pela presença de soldados, agentes da segurança pública, comandados por um oficial, sob as ordens do Dr. Virgílio do Nascimento, 2º delegado auxiliar de São Paulo”.
Segundo o autor do artigo, o acontecimento despertara a curiosidade do povo e até os diretores da política local ignoravam o motivo da presença da Força Pública na cidade.
A Tribuna sabia. É que o secretário da Justiça havia ordenado o deslocamento daquela força sob o comando do Dr. Virgílio do Nascimento (um pindamonhangabense) para garantir o policial no exercício de suas funções como delegado de Pindamonhangaba, pois uma parte da população estava revoltada com o mesmo que, conforme a Tribuna, cuidava mais de advocacia do que da delegacia, e “ninguém era obrigado a aturar autoridades que só cuidam de seus interesses e deixam de cumprir os seus deveres com calma, com inteligência e justiça.”
Ia mais longe a TN em sua crítica dizendo que o tal delegado não se contentava em ser autoridade relapsa e sem critério para dirigir a polícia, mas ainda procurava “deprimir os mais distintos membros da política local, aplaudindo ou tornando conivente com os cobardes ‘olivérios’ (?) que se escondem à sobra do anonimato para nos atacar”
“Ele foi recebido aqui com todas honras, apesar do aviso prévio que tivemos e que nos foi dado pela Ordem de São Luiz, em cuja cidade o delegado advogou à vontade em vez de exercer o seu cargo de delegado. Entretanto, não quis nem soube corresponder às gentilezas que sempre lhe prodigalizamos, e foi pouco a pouco nos hostilizando”, desabafava o articulista colocando o tal doutor delegado como “único culpado de transformar a nossa pacífica e ordeira cidade em uma praça de guerra”.
De “ativo e diligente” a vilão
Curiosamente, dois anos antes, em sua edição de 15/8/ 1915, a Tribuna divulgava a prisão de um assassino efetuada no bairro do Ribeirão Grande, destacando o mesmo Dr. Barbosa Lima como “ativo e diligente delegado”.
O criminoso capturado (omitiremos o nome), acusado de assassinato, tinha sido absolvido ao ser submetido a primeiro julgamento, mas o meritíssimo presidente do Tribunal do Júri fizera a apelação e ocorreria novo julgamento. Por conta disso, noticiava a Tribuna que o delegado Dr. Barbosa havia despachado uma escolta composta por três praças sob o comando do anspençada (antigo posto militar) Antonio Silvério Filho para capturar o procurado.
O criminoso teria percebido a presença da escolta e tentado fugir, escondendo-se em uma capoeira. Silvério Filho foi ao seu encalço e como estratagema disse ao criminoso que estava ali para pedir ajuda para efetuar uma prisão. O tal teria acreditado e “não continuou sua carreira vertiginosa para escapar”. Foi então preso e reconduzido à cadeia.
O anspençada teria recebido elogios do delegado por ter efetuado a prisão sozinho, apesar de ter ido acompanhado de três praças.