História : Recordações da última visita do chanceler
Em 1946 o pindamonhangabense, então ministro das Relações Exteriores, Pedro Leão Veloso, foi recepcionado pelas autoridades locais e pelo povo da cidade onde nascera.
Eram 9 horas do dia 15 de janeiro de 1946 quando o trem que trazia o Ministro das Relações Exteriores, Dr. Pedro Leão Veloso, encostou na plataforma da Estrada de Ferro Central do Brasil.
Pindamonhangaba estava orgulhosa da visita que acabara de receber. Presente aos acontecimentos do município, o jornal Tribuna do Norte, edição de 20 de janeiro, divulgava como a terra natal havia recebido seu ilustre filho, na época prestando importante serviço à pátria:
“Em visita oficial a Pindamonhangaba, chegou nesta cidade, no dia 15 do corrente, acompanhado de sua exma. Esposa, o exmo. senhor Dr. Pedro Leão Veloso, ilustre Ministro das Relações Exteriores e eminente filho de Pindamonhangaba”.
Segundo o artigo que abriu aquela edição, ainda no trem, Leão Veloso e sua esposa foram cumprimentados pelo chefe do cerimonial do Palácio do Governo, Dr. Franchini Neto, que os apresentou ao Chefe da Casa Militar da Interventoria Federal, major Guilherme Rocha; ao prefeito, na matéria identificado como sendo Vasco Cesar Pestana.
Obs. Aqui é oportuno o esclarecimento referente à publicação da Tribuna quando identifica como prefeito Vasco Cesar Pestana, secretário municipal de profícuas, memoráveis e ativas atuações no mandato de alguns prefeitos locais. Pesquisando a relação de prefeitos publicada no livro “Homenagem a Pindamonhangaba”, de Luiz Carlos Loberto (Gráfica e Editora São Benedito – Pindamonhangaba-SP, 2006), encontramos o nome Álvaro Pinto Madureira para o período 1945/1947.
Prosseguindo o ato de recebimento de visitas oficiais, ao deixarem o vagão foi a vez do prefeito Vasco Cesar Pestana (conforme consta na matéria), quem apresentou o casal visitante às autoridades e demais pessoas que tinham vindo participar do evento.
Posicionadas em frente à estação, ao longo da avenida Fernando Prestes, as companhias do Batalhão de Guardas do Estado de São Paulo e a do 1º Batalhão de Carros de Combate Leves (sendo esta a unidade militar do Exército, 1º BCCL,aquartelada em Pindamonhangaba naquele tempo) foram passadas em revista por Leão Veloso.
Em seguida, os visitantes foram conduzidos ao Palacete 10 de Julho, sede da Prefeitura e Câmara. Recebidos sob os aplausos da população, assistiram, da sacada do palacete, ao desfile militar das companhias do Batalhão de Guardas e do 1º BCCL.
Encerrado o desfile, coube a Vasco Cesar Pestana, na qualidade de prefeito de Pindamonhangaba, dar as boas-vindas em nome da cidade; houve o descerramento da Bandeira Nacional que cobria a placa comemorativa à visita (placa instalada na fachada da prefeitura); e os pronunciamentos dos advogados, Dr. Demétrio Ivahy Badaró e Dr. Rodrigo Romeiro, exaltando a personalidade do ilustre conterrâneo.
O discurso de agradecimento proferido pelo ministro Leão Veloso foi carregado de recordações de sua cidade natal, a Pindamonhangaba que tanto amava e admirava.
A casa onde nascera, a matriz
Conta em seguida, o articulista da Tribuna do Norte, sobre como fora a visita de Leão Veloso à velha casa onde nascera. A inesquecível residência localizada em frente ao Bosque da Princesa:
“…o iluste visitante acompanhado da exma embaixatriz e autoridades, dirigiram-se à casa em que nasceu o nosso inclito conterrâneo, à Praça Cornélio Lessa nº 1, tendo percorrido demoradamente todas as dependências do edifício”.
A Igreja Matriz foi a seguinte no itinerário dos visitantes. Lá sendo recebidos pelo vigário da Paróquia, o vigário paroquial, padre João José de Azevedo, e por um grande número de pessoas que os aguardavam em frente ao templo.
…A Estação Experimental,
a Fazenda Coruputuba
Depois estiveram na Estação Experimental de Produção Animal, o antigo Haras (hoje área que abriga o Parque da Cidade), sendo recebidos por seu diretor, Dr. Antonio Carlos de Campos Salles, e pelos funcionários daquela repartição estadual.
“O senhor ministro e senhora percorreram, detidamente, várias dependências do importate próprio estadual, colhendo as melhores impressões de tudo que lhes foi dado observar; após, o senhor diretor da Estação ofereceu ao senhor ministro e senhora embaixatriz e autoridades, uma farta mesa de finos sequilhos e refrescos”.
O próximo local de parada foi na Fazenda Coruputuba. Na casa sede da fazenda, Leão Veloso, sua esposa e demais autoridades acompanhantes foram recepcionados com um almoço oferecido pelo proprietário, o empresário industrial Dr.Cícero da Silva Prado.
…O Colégio Salesiano, o Literário e Campos do Jordão
Saindo de Coruputuba, foram até o Colégio Salesiano. Naquele estabelecimento religioso e educacional foram recebidos pelos padres diretores e pelo vigário paroquial, padre João José de Azevedo,“…com calorosa manifestação de apreço e estima, tendo feito o uso da palavra, um dos alunos, tendo o senhor ministro, agradecido, em breves e comovidas palavras”.
Do colégio Salesiano se dirigiram à sede do Clube Literário e Recreativo de Pindamonhangaba. No local, a prefeitura e a sociedade ofereceram-lhes um chá “…tendo essa brilhante parte do programa de recepção decorrido num ambiente da mais viva alegria e imenso júbilo”.
No Literário, Vasco Cesar Pestana “…exaltou as qualidades do ilustre ministro Leão Velloso, tendo sido o orador vivamene aplaudido ao terminar seu discurso; a seguir fez uso da palavra o senhor tenente Sebastião Marcondes da Silva, que pronunciou formosa oração, sendo também muito ovacionado”.
Durante o chá, destaque para a apresentação artística aos visitantes,“…a cargo da gentil senhorita professora Maria Nazareth Romão, ao piano, e a graciosa menina Marisa Romeiro do Amaral, no violino, tendo levado a efeito belos e numerosos clássicos que agradaram imensamente”.
Saindo do Literário, os visitantes foram acompanhados até a estação da Estrada de Ferro Campos do Jordão e embarcaram “…rumo à estância climatérica ponto final daquela via férrea, tendo s.s. excias viajado em companhiado senhor diretor e altos funcionários da Estrada”.
Baile no Literário e elogios
Concluindo, a Tribuna menciona que após o embarque de Pedro Leão Veloso e sua comitiva,“o brilhante Jazz da Força Policial animou um baile no Clube Literário e Recreativo o qual se prolongou até altas horas com o comparecimento da fina sociedade local”.
O redator do artigo também elogiou e agradeceu à Força Policial do Estado que, com seu Batalhão de Guardas e Banda Militar, havia abrilhantado às festividades; agradecimentos também fez ao 1º Batalhão de Carros de Combate Leves, sediado no município; e ao Serviço de Altos Falantes, pela contribuição para o brilhantismo e êxito da “grande Festa”.
“E, assim, Pindamonhangaba, prestou ao seu grandefilho, o ministro Leão Velloso, as mais significativas provas de estima e simpatia, tendo a cidade vivido um dos seus maiores dias, com demonstrações contínuas de intensa satisfação do governo, da sociedade e do povo em geral, pela honrosa visita que acabamos de receber”, finalizou.
O telegrama de agradecimento
Uma semana depois da comentada visita, o jornal Tribuna do Norte, em sua edição de 27/1/1946, publicava um telegrama de agradecimento enviado pelo pindamonhangabense Ministro Leão Velloso:
“Ao chegar ao Rio de Janeiro, é-me grato agradecer Vossa Senhoria e por seu intermédio as autoridades civis, militares e eclesiásicas e ao povo de Pindamonhangaba generosas manifestações que nos foram tributadas, a mim e minha mulher, durante visita a minha terra natal
– cordiais saudações
– Pedro Leão veloso”.
Os telegramas de Nova York
Um ano após a visita de Pedro Leão Veloso à terra natal, a Tribuna, edição de 18 de janeiro de 1947, publicava:
“Embaixador Leão Velloso
Repercutiram dolorosamente as notícias veiculadas pelos telegramas de Nova Iorque que nos dão conta do falecimento do nosso insígne conterrâneo Dr. Pedro Leão Veloso.
Esse doloroso fato que se deu na grande cidade norte-americana, foi motivado por um ataque cardíaco, quando o embaixador prestava serviços à nossa pátria, junto ao conselho de segurança das Nações Unidas. Esse ilustre pindamonhangabense que precisamente há um ano estivera em nossa terra (15/1/1946) prestara inúmeros serviços ao Brasil, nos inúmeros e elevados cargos que ocupara.
O senhor prefeito municipal enviou condolências à família do ilustre morto e ordenou o hasteamento da bandeira a meio pau, indicativa do pesar pindamonhangabense”.
“O bom filho à casa torna”…o excelente filho não mais tornaria à casa onde nascera…