Vanguarda Literária : RECORDANDO RÔMULO CAMPOS D´ARACE

Com muita honra e emoção, evocamos hoje uma personalidade marcante, meu Patrono da Cadeira 21 da Academia Pindamonhangabense de Letras: RÔMULO CAMPOS D´ARACE, um bólide de inteligência refulgente que reluziu no céu cultural da nossa “Fecunda Terra Habilitatis eT Sapientiae” até meados da década de cinqüenta ,visto que empreendeu a Grande Viagem ao encontro do pai Maior em 1955. Foi um viver terreno efêmero, mas intensamente produtivo.

Refiro-me ao mineiro que veio ao mundo em Paraisópolis em 6 de setembro de 1922, formado Professor pela Escola Normal e Ginásio Estadual de Pindamonhangaba em 1950.Homem de Imprensa, foi fundador do Jornal 7 dias, Diretor da nossa secular Tribuna do Norte de 30 de janeiro até 1º de maio de 1955 quando faleceu. Homem que nasceu para servir, pertenceu ao Rotary de Pindamonhangaba e exerceu com dignidade o cargo de Vereador, cargo para o qual foi eleito em 1952.Exemplar chefe de família , foi casado com Da. Dulce Oliveira D´Arace, tendo como única filha a nossa estimada confreira, dedicada e competente professora Vânia Dulce Rômulo era um homem dedicado ao culto da Arte e do Belo. Leitor voraz, escreveu obras importantes como “ Emílio Ribas, sua vida e sua obra”, sendo este trabalho premiado em importante Concurso Intelectual dos Poderes Públicos de Pindamonhangaba em 10 de julho de 1952. Marcou época o seu livro (primeiro e único livro editado): “Retrato da Princesa do Norte” onde traça com brilhantismo invulgar e com fidelidade à História, detalhes da História do nossa querida Pindamonhangaba, fruto de pesquisas incansáveis, demonstração do esforço enorme de um homem em prol da sua terra idolatrada, livro este editado por ocasião do IV Centenário de São Paulo em 1954. Recebeu o Prêmio “Poder Legislativo , em 10 de setembro de 1953 pelo elogiável trabalho: “Maestro João Gomes de Araújo, sua vida e sua obra”.

Um dia (era 1º de maio de 1955) RÔMULO partiu. Partiu bem cedo, carregando consigo o vôo do silêncio e as grandes falas, a cantiga de amor mais pressentida para o amor dos seus amores: a então doce menina Vânia Dulce, hoje, para alegria nossa, uma grande companheira aqui no nosso quase cinquentenário Cenáculo Literário.

Homem – Poeta que falou em nome dos que sonhavam ou calçavam desespero em percursos cotidianos, ser especial que sabia da lógica das máquinas, dos anjos que se matavam e das explosões de luz de todas as alvoradas. A sua palavra teve o sabor do efêmero e do eterno, como me confessou, um certo dia, seu amigo incondicional,outro nome que jamais esqueceremos,Ex-Presidente da nossa veneranda Casa de Letras, o nosso inolvidável Aníbal Leite de Abreu. Rômulo era consciente de que pelo verbo carregado de amor o humano se diviniza e o divino se humaniza.

Rômulo no seu desvelar para o mundo, sendo um ser-com-o-outro (mit Welt Dasein como frizam os filósofos existenciais alemães), foi um exemplo de humanista na sua curta existência temporal, vindo a este mundo para nos provar que a eternidade é uma questão de garra, de crença e de graça, e, por certo, acreditou muito nisso! Acreditou sim,pois tinha índole dócil e pura como o atestam os seus contemporâneos, alma de verdadeiro Poeta como já afirmei, a dizer para o Altíssimo:

“Quando eu me chamar saudade, a que dedos dar-se-ão as chaves dos segredos que são a própria essência do meu eu? E, os meus versos de fraternidade fiz e nunca revelei, quem os verá, meu Deus, quando eu me for ?Ah, Senhor, tenha piedade de todos nós:dos fracos e dos fortes, dos enfermos e dos sadios,dos fracassados e dos vitoriosos, dos tímidos e dos ousados,dos velhos e dos moços, dos que partem e dos que chegam! Que eu consiga, Senhor, guardar as cenas das viagens, o incomensurável patrimônio de todas as lembranças, porque o passado se alevanta e cresce como o mar.As horas de viver intenso não se perdem no tempo.São luzes eternas !

Ah,Senhor, permita , em surdina, ouvir a canção que acalenta a minha inocente criança, anjo-menina, e, repousar no seu colo a cabeça cansada e esquecer, por instantes, a ansiedade que me afoga !”.

‘A maneira de Fernando Pessoa algum dia disse :

“ Tudo que fui,
aonde fui,
o que eu disse,
o que fiz,
tudo valeu a pena !”

Sim, tudo valeu a pena, quando “ a alma não é pequena, no dizer do fenomenal Fernando Pessoa, glória das Letras da nossa Língua, a “Última Flor do Lácio”.

Ave, RÔMULO, que cantou a vida com vocábulos mansos ou com palavras indomadas !