História : Relembrando a partida do Padre João

Há 47 anos morria Monsenhor João José de Azevedo, o respeitado e admirado Padre João. Pároco imortal da Paróquia Nossa Senhora do Bom Sucesso, ele concluia sua missão na terra e em Pindamonhangaba… 

Veio estampada em primeira página, edição de 27/3/1976 do jornal Tribuna do Norte, a morte do Padre João, ocorrida no dia 23 de março daquele ano. Sua morte foi comentada naquela edição e nas seguintes em prosa e verso (aqui lembrando que ele fora também sensível poeta e compositor).

Nascido em Lagoinha em 19 de fevereiro de 1898, desde o dia 27 de abril de 1924, quando nomeado Vigário de Pindamonhangaba, tornara-se pindamonhangabense fervoroso… Um cidadão lutador pelas boas causas e desenvolvimento deste município. Atividades e preocupação que iam além de sua missão cristã católica.

Seu espírito era desprendido do egoísmo, esse mal alimentado e cultuado à matéria que um dia, inexoravelmente, desaparecerá condenada à podridão, tal como nossa carne em úmida sepultura também desaparecerá consumida pelas dentuças de milhões de vermes…

Testamento cristão

Entre os bons artigos publicados na Tribuna ante sua partida, relembraremos aquele que se refere justamente a essa sua qualidade, a do desprendimento do materialismo. O artigo é da edição TN 3/4/1976, e intitula-se “O Testamento”:

Monsenhor João José de Azevedo, o nosso Padre João, foi sempre simples, desapegado de todas as coisas materiais, às quais relevava a um plano secundário.

Basta citarmos, que jamais se preocupou sequer em providenciar seus documentos, possuindo apenas seu Título de Eleitor.
Alguns dias após sua morte, seus familiares, procurando alguma declaração, algum esclarecimento que dissesse algo sobre sua última vontade encontraram, numa das gavetas de sua velha escrivaninha na Casa Paroquial, redigidas em um simples envelope-ofício, suas declarações, onde estão inseridos seu desejos finais. As letras, nota-se claramente, já trêmulas, incertas, presumindo-se que foram redigidas em fevereiro, dias antes de ser internado em nossa Santa Casa.

Lendo as aludidas declarações, nossos leitores aquilatarão uma vez mais (entre tantas) a simplicidade, assim como sua fidelidade ao Criador:

‘Declarações
Ouvindo claramente o chamado de Deus para a Casa do Pai, temendo ser colhido de improviso declaro:
1º – Pobreza – Nada tenho a não ser meus livros que deixo aos Salesianos do Seminário local.
A Dom Bosco devo o que cheguei a ser neste mundo. Os depósitos em meu nome nos Bancos Imobiliários de Taubaté, tudo é de Nossa Senhora do Bom Sucesso. As letras – 40 – de mil cruzeiros são para a igreja de Nossa senhora do Rosário de Fátima, a ser construída no bairro local do Crispim.

Obediência – Sempre procurei ouvir e servir a Deus sob a tutela dos meus três Bispos Diocesanos. Peço ao atual Bispo perdão de alguma falta cometida.

Castidade – Jamais maculei minha batina querida com a graça de Deus e de Nossa Senhora Auxiliadora, nesta virtude Angelical. Peço ao senhor Bispo a caridade de 30 missas Gregorianas. E, que o Bom Deus, perdoando minhas falhas me acolha em sua Casa do Céu. Aos meus paroquianos peço perdão pelas inúmeras lacunas de meu paroquiato. Rezem muito por mim que não os esquecerei na Casa do Pai.

Assinado: Padre João José de Azevedo’

Notem os prezados leitores, que nosso saudoso Vigário, não assinou como Monsenhor, e sim Padre João, como sempre gostava deser chamado”.

  • Arquivo TN. “Monsenhor João José de Azevedo tem seu nome inserido na própria história de Pindamonhangaba, da qual é sem favor algum, atutêntico patrimônio moral e espiritual.” (Jornalista e radialista Jota Marcondes, jornal Tribuna do Norte, edição de 27/3/1976)
  • Arquivo TN. A ilustração de primeira página da Tribuna (edição de 27/3/1976) referente à morte do monsenhor João José de Azevedo
  • Arquivo TN. Vinte e dois anos depois, em 1998, o escritor Francisco Piorino Filho, por sua conta e despesa, iniciativa louvável que lhe é peculiar quando se trata de prestar homenagens resgatando a vida e obra de ilustres personalidades ligadas a Pindamonhangaba, publicava o livreto”1898 – 1998 –Primeiro Centenário de Nascimento do Monsenhor João José de Azevedo- 100 anos”