História : Relembrando o artista Amácio Mazzaropi
Neste mês de abril, quando se comemora 110 anos do nascimento do cineasta, diretor, ator, humorista e cantor Amácio Mazzaropi, relembraremos fatos relacionados ao inesquecível artista em sua passagem pela cidade escolhida por ele pra ser sepultado, assim como anteriormente fora também o seu pai
Em outubro de 1944, ano em que Mazzaropi teria unido a sua companhia à companhia de teatro do famoso artista Nino Nelo (1895/1969), aconteceu uma apresentação da dupla em Pindamonhangaba. Os comentários referentes ao espetáculo, infelizmente, não foram muito favoráveis ao comediante que depois se consagraria como o intérprete mais divertido do sertanejo da região.
Foi em sua edição de 15 de outubro daquele ano, com o título “Nino Nello & Mazzaropi”, que a Tribuna comentou:
“Nino Nelo, o veterano e popular artista que há mais de 20 anos delicia as plateias dos palcos nacionais, em sua temporada nesta cidade, cuja estreia se deu no último dia 10, no basquete clube, fez fusão com o não menos popular e querido artista de nós muito conhecido – Mazzaropi, unindo-se também, as respectivas companhias”.
O jornal destacou que o espetáculo de estreia havia atraído grande público. Lotara completamente as dependências do auditório do Basquete Clube. No entanto, para a crítica, Mazzaropi já não era aquele caipira inimitável que haviam conhecido, cuja característica era a de fazer rir sem precisar usar “obscenidades ou trocadilhos imorais”. Em sua nova temporada de apresentação, “parecia completamente transformado”.
Revelava em suas páginas, a Tribuna: “…o público de Pindamonhangaba, não o aplaudiu como o fez durante a sua última estada nesta cidade, talvez porque, agora, Mazzaropi tenha apresentado alguns chistes picantes”.
Comparando aquela apresentação a outras que ele havia feito recentemente em Pindamonhangaba, vinha o recado: “Nós que conhecemos muito bem o espírito do pindamonhangabense, aconselhamos a Mazzaroppi a que deixe o estado adventício que se lhe apoderou em alguma parte por onde tenha estado depois de sua sensacional temporada nesta cidade, meses atrás”.
Porém, demonstrando carinho e respeito com o artista, a Tribuna concluiu seu artigo com elogio: “…apesar desse recado, somos ainda de opinião que Mazzaroppi, no gênero é o maior artista nacional”.
Mazzaropi e Pindamonhangaba
Na edição de 20/6/1981 a Tribuna do Norte, em matéria (não está assinada) que divulga seu sepultamento no cemitério de Pinda, relembra que certa vez o pavilhão ambulante do artista foi destruído por vândalos, arruaceiros. Foi quando o dr. Dimitrius Stambolos, engenheiro conhecido pelo espírito de solidariedade e boa vontade para com o próximo, “…lhe ofereceu uma ajuda de 500 contos de réis e o Brás Pereira lhe emprestou idêntica quantia. O pavilhão então foi duplicado, coberto com lona nova e cercado de folhas de zinco. O povo de Pinda resolveu então apoiá-lo ainda mais e superlotava todos os seus espetáculos, que eram realmente maravilhosos, numa época em que não havia televisão e o cinema era muito ruim.”
Esse apoio e carinho, lembra o articulista da referida edição TN, “fizeram com que Mazzaropi cada vez mais gostasse do nosso povo e lhe devotasse uma simpatia especial e uma imensa gratidão.”
Conta ainda, que Mazzaropi destacava entre seus amigos mais próximos e colaboradores mais efetivos de Pindamonhangaba, Argeu Ferrari e Augusto Cesar Ribeiro, o Augustinho Ribeiro (1928/2003), ator em 16 de seus filmes. Também era deste município a senhora Alice Miranda (morava na rua dos Bentos), que cuidara de seu pai durante sua longa enfermidade. “Ela amava Mazzaropi como se fosse seu próprio filho”, lembrava.
Mazzaropi e o padre João
Em uma entrevista para a nossa página de história, edição de 15/4/2011, dona Maria Amélia do Prado, pindamonhangabense, na época com 100 anos de idade e completamente lúcida, relembrando o tipo inesquecível do padre João, monsenhor João José de Azevedo (1898 – 1976), citou um desentendimento havido entre o sacerdote e o cineasta Mazzaropi, que numa Semana Santa, por exigência do pároco, teve que desarmar o pavilhão onde apresentava seus espetáculos (seu circo). “O padre João exigiu: ou ele desarmava o pavilhão ou não haveria procissão. Aí o Mazzaropi respondeu: ‘Não seja por isso, seu padre, então é pra já’, e desarmou a lona.”
Outras passagens envolvendo o cineasta, certamente, ficaram gravadas na memórias dos pindamonhangabenses que viveram na época em que o cineasta fazia rir e emocionava em terras da Princesa do Norte.
Filmes em Pinda
Pelo menos dois de seus filmes perpetuam cenas da Pindamonhangaba de outros tempos. Um é o Jeca Tatu. O outro, Portugal Minha Saudade.
O primeiro, em homenagem ao personagem de Monteiro Lobato, foi uma produção do ano de 1959. No blog Jeca Tatu – Mazzaropi – wwwlucianoqueiroz.com, encontramos o seguinte agradecimento assinado pelo próprio ator:
“Agradecimentos: ‘Este filme foi realizado em Pindamonhangaba nas fazendas ‘Sapucaia’ e ‘Coruputuba’ gentilmente cedidas pelo meu grande amigo Dr. Cicero da Silva Prado. Pela sua valiosa colaboração e a de seus dignos auxiliares meu muito obrigado’. Mazzaropi”.
Em “Portugal minha Saudade”, produção de 1973, embora Pindamonhangaba não conste na relação das cidades em que foi filmado, só consta Taubaté, Coimbra, Fátima e Lisboa, logo no início da fita já aparece a tradicional rua Bicudo Leme, destacando-se a igreja Matriz (Santuário Nossa Senhora do Bom Sucesso). Mas o destaque mesmo ficou por conta da centenária escola estadual Dr. Alfredo Pujol. No filme, aquela unidade de ensino se transformou no asilo onde Sabino (Mazzaropi) passa a viver com sua esposa. Ela falece em plena noite de Natal, quando o asilo se encontra em festa, reunindo os internos e seus familiares… só o casal não recebe a visita de nenhum dos filhos nem de ninguém.
O sepultamento de Mazzaropi
Amácio Mazzaroppi morreu aos 69 anos, no dia 13 de junho de 1981, no hospital Albert Einstein, em São Paulo. A causa mortis apresentada foi mieloma múltiplo (câncer na medula). Ele estava internado fazia 26 dias. Sofria de câncer desde 1979, embora só ficasse sabendo da doença nos últimos meses de sua vida. No mesmo dia foi sepultado no Cemitério Municipal de Pinda, onde seu pai Bernardo Mazzaropi, já estava enterrado.
O jornal Tribuna do Norte, edição de 20 de junho daquele ano, registrou o sepultamento ocorrido no domingo, 14 de junho de 1981:
“Domingo o sepultamento de Amácio Mazzaropi foi uma apoteose de emoção comovente. Mais de mil pessoas superlotaram o nosso cemitério, reunindo altas personalidades políticas e sociais. Em nome do governador do Estado, falou emocionado o deputado, Dr. Itálo Fittipaldi e finalmente, num impressionante e comovido improviso, falou o professor Augusto Cesar Ribeiro, que disse tudo o que o povo gostaria de dizer nessa última homenagem ao grande artista.. Mas, a verdade seja dita: jamais haverá um outro Mazzaropi para fazer o que só ele soube fazer. Adeus Mazzaropi, soberana glória do mais puro cinema nacional.”
Na época, o governador de São Paulo era o Paulo Maluf e o prefeito de Pindamonhangaba, era o Dr. Geraldo Alckmin.