Proseando : Rua das Flores
Depois de algum tempo sem charadas, arrisco-me a mais uma. Será que você consegue decifrar o nome da flor?
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Dona Violeta é a proprietária das vinte casas na Rua das Flores. Ela aluga somente para mulheres. Na semana passada havia apenas duas unidades desocupadas.
As casas não apresentam nenhum tipo de deterioração: nenhuma manchinha nas paredes internas e externas, nenhuma rachadura, nenhuma teia de aranha, nenhum desleixo. Todas sãoavarandadas, circundadas por cerca de madeira de meio metro, e relva que mais parecetapete de veludo. Para chegar à porta principal há calçamento de pedras São Tomé.
A rua é a atração da cidade. Quem a conhece se encanta, e quer porque quer morar nela. Mas para locar alguma daquelas casas, existem regras inegociáveis; entre elas: toda moradia deve conservar o modelo das demais em formato e cuidado; toda moradora, sem exceção, deve ter o nome de alguma flor. Outra exigência: a inquilina deve ajardinar o gramado com a flor de seu nome.
Na última semana apareceram duas mulheres interessadas. Dona Violeta entrevistou cada uma delas, separadamente, no escritório.
— Documento, por favor.
A baixinha estrábica, de dentes que não cabiam na boca, remexeu a bolsa e apresentou o RG. Dona Violeta meneou a cabeça.
— Você já não atende ao primeiro requisito. Não tem nome de flor.
— Por favor, leia o nome de mamãe.
—Filiação… Rosa… E daí?
— Então… Filha de Rosa também é flor. Não concorda?
A locadora contou até dez para não mandar a mulher para aquele lugar, engoliu impropérios e mandou entrar a segunda interessada.
—Se você não tem nome de flor, não me faça perder tempo.
— Tenho sim. Sei que é uma condição sinequa non.
—Então me mostre um documento comprobatório.
— Aqui está o meu RG. Mas, se me permite, quero fazer uma brincadeira com a senhora. Vou dizer o meu nome numa charada. Depois, a senhora confirma no documento.
Dona Violeta é uma octogenária culta que ama a música erudita e os grandes clássicos da literatura; que faz palavras cruzadas, sudoku e, principalmente, adora desvendar enigmas.
—Até hoje não houve charada que me vencesse.
—Quero ver se a senhora é boa mesmo. Lá vai. Meu nome é composto por um sinônimo do profissional que deixa a cidade limpa, por uma enorme quantidade de água salgada, e pela primeira metade do cubo numerado.
Em menos de dois minutos a locadora acertou. Após conferir o nome no RG, Dona Violeta abriu uma das gavetas da escrivaninha e estendeu a chave à mulher.
— Seja bem-vinda à Rua das Flores.