Editorial : Saiba quais órgãos podem ser doados ainda em vida
O Brasil está entre os países com maior número de transplantes realizados no mundo. Desde os anos 2000, o País realizou uma média de 20 mil intervenções por ano, num total de 335 mil transplantes feitos pelo Sistema Único de Saúde (SUS), segundo o Ministério da Saúde. Nessa conta são somados tanto os órgãos doados de pacientes que tiveram morte encefálica quanto por pessoas que fizeram doação em vida.
De acordo com o ministério, órgãos como rins, fígado, medula óssea e até o pulmão podem ser transplantados nesta última modalidade. À parte a medula óssea, todos os outros órgãos passam pelos mesmos procedimentos de validação e registro no cadastro de doadores e só podem ser transplantados em parentes de até quarto grau, ou com autorização judicial.
Segundo a Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO), foram realizados 657 transplantes de órgãos entre pessoas vivas em 2016, sendo 82 de fígado e 575 de rins. De acordo com Marcos Ponte, médico da equipe de transplantes de rins do Hospital Santa Lúcia, de Brasília (DF), os rins são órgãos mais aptos a serem doados porque é possível viver perfeitamente com apenas um deles.
Por outro lado, lembra o médico, “os rins têm uma estrutura que deve estar íntegra para o transplante, pois tem uma estrutura de alta complexidade”, o que não permite que sejam doados fragmentos do tecido, como no caso do fígado.
Ainda segundo Ponte, o fígado tem uma capacidade alta de regeneração. Portanto, se houver compatibilidade, uma pessoa pode doar partes do fígado para mais de um receptor, e ter retirado até metade do órgão para transplante.
No caso dos pulmões, o órgão também não tem capacidade de regeneração, mas é possível retirar uma parte – normalmente o lobo inferior do órgão – e manter uma vida normal. O Ministério da Saúde lembra que uma das principais diferenças entre os outros órgãos é que deve haver compatibilidade também do tamanho da parte inferior do órgão entre quem doa e quem recebe.
Medula Óssea
A medula óssea é um tecido esponjoso presente no interior de vários ossos, principalmente os da bacia, e tem a capacidade de fornecer células que podem se diferenciar em qualquer tecido do corpo. A necessidade de transplante de medula óssea pode ocorrer em vários casos. É comum nos casos de leucemia, por exemplo.
Existem duas maneiras de realizar o transplante de medula óssea. Um deles é feito em um centro cirúrgico, sob anestesia peridural ou geral e requer internação de 24 horas. A medula é retirada do interior de ossos da bacia, por meio de punções e o procedimento leva em torno de 90 minutos.
A medula óssea do doador se recompõe em 15 dias. Normalmente, os doadores retornam às suas atividades habituais após uma semana. O outro método é conhecido como coleta por aférese. Neste caso, o doador faz uso de uma medicação por cinco dias para aumentar o número de células-tronco (células mais importantes para o transplante de medula óssea) circulantes no seu sangue.
Após esse período, a pessoa faz a doação por meio de uma máquina de aférese, que colhe o sangue da veia do doador, separa as células-tronco e devolve os elementos do sangue que não são necessários para o paciente receptor. Não há necessidade de internação nem de anestesia, sendo todos os procedimentos feitos por via sanguínea. A escolha da melhor opção deve ser feita pela equipe do hospital e caso por caso.
Como ser um doador
O doador deverá procurar o hemocentro mais próximo de sua casa e realizar a coleta de uma amostra de sangue para testes laboratoriais específicos que identificam a tipagem de HLA (características genéticas importantes para a seleção de um doador), chamados de exames de histocompatibilidade.
Os dados pessoais e o tipo de HLA do doador serão incluídos no Registro Nacional de Doadores Voluntários de Medula Óssea (REDOME) e, sempre que surgir um novo paciente, a compatibilidade será verificada. Uma vez confirmada, o doador é consultado sobre o procedimento. A compatibilidade entre doador e receptor tem que ser completa.