SAIU NA TRIBUNA DO NORTE!!!

Em comemoração aos 135 anos da Folha do Dr. João Romeiro, fundada
em 11 de junho de 1882, a página dedicada à história e à memória de Pindamonhangaba traz alguns fatos e causos curiosos e misteriosos que foram notícia em antigas edições da Tribuna  (As imagens correspondentes aos textos são meramente ilustrativas)

Mané do Rosário,
o sanfoneiro

No relato de suas memórias para o jornal Tribuna do Norte, na edição de 15/12/1963, o escritor e poeta Balthazar de Godoy Moreira (1898-1969), o maior sonetista da Princesa do Norte, relembrava em seu artigo um dos tipos folclóricos da Pindamonhagaba de antigamente, Mané do Rosário.
Para Balthazar, na tulha (área onde se colocava o café para secar) lá da fazenda de seu tio Murilo,no Pouso Frio, sanfoneiro era Mané do Rosário. Um preto contador de histórias, salafrário e pinguço, porém amigo da meninada. Enquanto ainda estava sóbrio, ele contava só causos de príncipes corajosos, princesas encantadas e reinos onde viveriam seres fabulosos. Mas se bebesse um pouco começava a falar das assombrações que tinha visto e de coisas estranhas que teriam acontecido envolvendo pessoas conhecidas. Mais uns tragos e contava de como ele mesmo havia afrontado o “buta lobisome” na estrada do Macuco ou visto um vulto branco junto à cruz da grota. Aí era bom parar. Era quando a tia de Balthazar, dona Nhanzinha, prevenia: “Chega de prosa, Mané do Rosário. Vá pra casa. E vocês, meninos, vão dormir.”
A tia sabia que se Mané do Rosário bebesse mais um pouco – e às vezes a molecada fazia ele beber só para que isso ocorresse – o sanfoneiro passaria a contar coisas escabrosas, não permitidas pela censura.

o CABRITO DE
DUAS CABEÇAS
Um acontecimento curioso se verificou em Pindamonhangaba em 1882, na residência de José Pedro Cardoso. Levando-se em conta o número de habitantes da Pinda daquele tempo, acreditamos que o tal José Pedro Cardoso citado era o pai de João Pedro Cardoso, pindamonhangabense criador do evento que deu origem ao Dia da Árvore no Brasil, na época com seus 11 anos de idade.
A nota, intintulada ‘Monstro’, saiu desta forma na edição de 13/10/1882 da Tribuna:
Em princípios da semana, em casa do sr. José Pedro Cardoso, apareceu um interessantíssimo fenômeno. Uma cabra deu à luz, não podemos dizer se a um ou a dois cabritinhos, porque as partes posteriores são de dois indivíduos perfeitamente desenvolvidos, mas ligados por um só pescoço e tendo uma só cabeça e com um só tórax, de cuja extremidade parte os dois corpos, com dois ventres distintos e bem organizados.
“Tem 8 pernas, sendo 2 em cada uma das partes posteriores das espáduas e voltadas para cima.
O monstro tem comuns o corpo da respiração, circulação e enervação e duplos digestivos e genitais.
A cabeça, que é de tamanho natural, apresenta o focinho regularmente desenvolvido, mas na parte posterior observam-se duas pequenas orelhas, entre as quais uma cavidade, onde existe um olho relativamente grande.
As pessoas entendidas que expliquem o fato, cuja existência noticiamos, e querendo observá-lo com os próprios olhos, encontrarão na casa do sr. Cardoso os animaizinhos perfeitamente conservados e dignos de atenção.

A lenda do
calvário

Na edição do jornal Tribuna do Norte do dia 20/1/1945, Edmundo Teixeira, irmão da inesquecível Aurora Teixeira Mendes, a dona Aurora (1917 – 2008), cuja família de origem espanhola se estabeleceu em Pindamonhangaba por volta de 1922, conta em sua crônica um misterioso caso de amor ocorrido no alto da Mantiqueira.
Segundo o cronista Edmundo, à margem esquerda do Sapucaí-guassu, em terras de Campos do Jordão, nas proximidades de uma fazenda, a fazenda Correntinos, havia uma velha cruz já na época centenária. Contavam os antigos moradores que não era de pinho e tampouco feita pela mão do homem – nascera de uma paineira.
Achando curiosa a história, Edmundo, cidadão espiritualista ligado às coisas da literatura e da cultura, foi conhecer de perto a tal. Como companhia serviu-lhe um caboclo conhecido por “nhô Satiro”, velho morador do local.
O calvário foram encontrar na encosta de um morro. Lá estava a cruz, sombria e solitária, amparada por uns blocos de pedra enegrecida. O fato curioso – contava Edmundo – é que não apresentava nenhuma emenda, em seu todo roliço e grotesco. Era toda inteiriça, conservando linha perfeitamente horizontais e verticais.
Ao ser indagado sobre a lenda, nhô Satiro respondeu que era “muito bonita e sentimentá” e assim começou a contar:
“Nos tempos dos escravos, havia aqui uma mestiça, a Jacira, que gostava dum jovem escravo chamado Juvêncio.
Quando a noite vinha, esgueiravam-se os dois pela mata e vinham se encontrar aos pés de uma paineira que havia no lugar da cruz.
Um dia o patrão, desconfiado, os descobriu e ali mesmo os prostou a tiros de pistola, mandando que os enterrassem sob a paineira.
Anos depois, a velha paineira, alimentada pelo corpo dos dois amantes, desfolhou-se toda, ressecou-se depois e desgalhou-se enfim, remanescendo apenas dois braços abertos, hirtos, ressequidos em forma de uma cruz!…”

O príncipe da água
Em sua edição do dia 28 de novembro de 1883, a Tribuna do Norte republicava em suas páginas esta intrigante
nota do jornal ‘O Correio de São José do Rio Preto’ sobre o aparecimento de uma estranha criatura, meio peixe, meio homem, nas águas do rio Paraíba:
Apareceu no rio Paraíba, na Fazenda Velha, em frente à Fazenda Sebastião do Paraíba, o príncipe d’água.
O príncipe d’água dizem ser um peixe enorme, com a configuração de um homem. Diversas pessoas fidedignas contam que o têm visto assentado sobre uma pedra do rio, onde fica por muito tempo.
O grande caso é que a aparição do príncipe d’água tem dado o que falar; muita gente dos arredores têm ido vê-lo e volta afirmando que nunca viu coisa assim, que é espantoso, maravilhoso mesmo.
Furtava
lâmpadas do poste

Notas policiais sempre atraíram
leitores, mesmo aquelas que não envolviam crimes de morte, como a do “ladrão de lâmpadas”.
Na edição de 29/9/1920 saiu esta:
Na noite de 27 para 28, a polícia prendeu um moço quando, com auxílio de um bambu, retirava lâmpadas dos postes de iluminação pública. Nas declarações prestadas, esse moço disse que alguns de seus companheiros praticam habitualmente esse ato para substituir por boas as lâmpadas inutilizadas de seus quartos.
Segundo declarações prestadas pelo gerente da empresa de iluminação esses furtos eram constantes e, em algumas noite, o número de lâmpadas furtadas atingia a cinquenta.

Imagens: Divulgação