Vanguarda Literária : SANTO AGOSTINHO E DEUS
Aurélio Agostinho foi o primeiro grande pensador a formular uma síntese entre a tradição grega da filosofia (em especial o Platonismo) e o Cristianismo . Ele focalizou temas capitais da Filosofia de Platão, tais como: o dualismo e a natureza de bem à luz da Doutrina Cristã.
Nascido em 354 D.C. em Tagaste (Norte da África), na época, uma província romana localizada onde hoje é a Argélia, tornou-se mestre em Retórica e, em Milão, conheceu o bispo da cidade – Santo Ambrósio -, cujos sermões o impressionaram intensamente. Convertido ao cristianismo, produziu uma extensa e profunda obra filosófica e teológica, diálogos de inspiração platônica ”Sobre o Mestre”, comentários interpretativos do Novo Testamento e do Antigo Testamento, e trabalhos doutrinários como “A Doutrina Cristã e a Trindade”. Alçou vôo para a eternidade em 430 D.C., já bispo de Hipona (cidade localizada perto de onde nasceu) pouco antes da invasão da África pelos vândalos. E do início da queda do Império Romano.
No seu livro “Confissões” escrito entre 397 e 401 da nossa era, ele relata a sua experiência desde o desregramento da juventude, a influência da sua mãe – Santa Mônica-, seu encontro com o bispo Ambrósio, a conversão ao catolicismo e também reflete sobre temas muito importantes da filosofia como o problema do conhecimento, a natureza do BEM e do MAL e a relação do homem com Deus. É uma obra em estilo auto -biográfico e confessional, uma vez que ele dá relevância à sua vivência dos problemas que aborda, e fatos que denotam também a sua aproximação entre a Filosofia de Platão e a tradição cristã.
Uma das questões centrais da Teologia e da Filosofia Cristã é a possibilidade de conhecer Deus como um ser transcendente (encontra-se além do nosso alcance). Santo Agostinho aponta, então, um caminho para Deus que passa pelo interior, pela nossa alma, o cerne do homem criado à imagem e semelhança de Deus. Assim, vamos apreciar em “Confissões” (existe uma edição brasileira de 1988, publicada pela Editora Vozes) o que ele nos fala sobre o amor a Deus e o binômio: interior-exterior do ser humano:
“É com certeza, Senhor, e não com dúvida em minha consciência que eu Vos amo. Vós atingistes o meu coração com a Vossa palavra e assim vos amei. Amo uma luz, um perfume, uma voz, um abraço, quando amo o meu Deus, luz, voz e abraço do homem interior onde brilha a minha alma, uma luz que nenhum espaço pode conter, onde soa uma voz que o tempo não enfraquece. Mas, quem é Deus? Interroguei o sol, a lua, as estrelas, e me disseram: “Tampouco somos o Deus que procuras. E disse a todas as criaturas que rodeiam as portas da minha carne: já que todos vós dizeis que não sois o meu Deus, dizei-me então algo sobre Ele. E todos exclamaram: Foi Ele que nos criou!. Voltei-me para mim e perguntei: E tu, quem és? Um homem, respondi. Eu sou composto de corpo e alma, o primeiro, exterior, e o segundo, interior. A qual destes eu deveria perguntar quem é o meu Deus? Mas, a melhor parte é a interior, pois é ela que preside e julga é a ela que as mensagens do corpo reportam as respostas do céu, da terra, dizendo: Não somos Deus, mas foi Ele que nos criou! O homem interior conheceu essa verdade. Eu soube disso por meio dos sentidos do meu corpo. Perguntei a toda imensidão do universo sobre o meu Deus e tive como respostas: Não sou Eu, mas foi Ele quem vos criou. Os homens podem interrogar (os animais, não!) e beleza criada por Deus , já que as perfeições invisíveis de Deus são visíveis em suas obras, para a inteligência (EPÍSTOLA DE S. PAULO AOS ROMANOS, 1,20), submetendo-se a elas pelo amor e, assim já não as pode julgar. Apenas as compreendem aqueles que comparam a voz exterior com a verdade interior. E a verdade interior nos diz: O teu Deus não é o céu, nem a terra, nem nenhum corpo. A alma é superior ao corpo, pois dá vida à matéria do meu corpo”.
Eis, em rápidas palavras , a grandeza do que pensou e escreveu esse grande ser humano que veio ao mundo para nos instruir e nos ensinar.