Vanguarda Literária : ‘SER HUMANO E SER COM O OUTRO’
Nós, seres humanos, desde o momento inicial de nossa existência, construímos o nosso viver a partir das relações mantidas com a condição de ser do outro, relação esta que ocupa um espaço deveras importante e fundamental em nossas vidas. Essas relações se tornam complexas visto que são marcadas pelas diferenças que existem entre as pessoas. Freud afirmava que o Outro se constitui para nós, simultaneamente, um modelo, um objeto, um apoio ou um adversário. Assim, gradativamente percebemos que construímos a nossa identidade, tanto individual como coletiva, na relação estabelecida com a diferença e com a condição de ser do Outro, podendo-se, a partir daí, entender a gama de comportamentos individuais que verificamos no cotidiano.
Portanto, a consciência de nós mesmos é inseparável da consciência do Outro, e podemos, a partir desse conceito, afi rmar que a sua presença assume uma representatividade capital na construção da identidade cultural e social de cada um de nós. É muito importante entendermos que nos constituímos na nossa cotidianidade por meio da reciprocidade mantida com o Outro. E, evidentemente, procurando conhecer o valor das relações que nós firmamos no dia a dia, confirmaremos a relevância dos relacionamentos para o nosso desenvolvimento emocional. Entretanto, muitas vezes, assumimos um comportamento discriminatório ao nos sentirmos o “estrangeiro de alguém”, talvez porque o Outro faz parte de uma cultura diferente da nossa, pensa diferentemente de nós, o que nos deixa muitas vezes receosos e até ameaçados dentro do nosso espaço habitual.
Contudo, é de alta importância percebermos que as nossas discriminações, o nosso preconceito, dificulta esse relacionamento, o que possivelmente impede o nosso processo de crescimento/reconhecimento enquanto gente, ser humano, pois só crescemos, só evoluímos, quando conseguimos aproximação e troca. Não é isso o que nos dizem os fenomenólogos e os filósofos existencialistas? Basta ler e refletir sobre Martin Heidegger, Merleau-Ponty e Sartre. Enfim, a construção da nossa identidade pessoal e coletiva está, evidentemente, construída na reciprocidade da confirmação pelo Outro, muitas vezes edificada nos pilares do medo, da fascinação, da dúvida, da angústia e da estranheza que residem conosco.